O judoca campeão pan-americano de 2015 e ex-número um do ranking mundial, David Moura, anunciou a sua aposentadoria dos tatames. O atleta cuiabano conversou com o Olhar Direto sobre a nova fase de sua vida, pontuou que a família o fez repensar sobre a sequência de sua carreira e destacou que agora pretende ajudar na formação de novos prodígios e expandir o esporte em terras mato-grossenses.

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“É algo que venho pensando há algum tempo. Sabemos que 33, 34 anos, você está ficando velho para um esporte de contato. Esse último ciclo olímpico foi de cinco anos. Mas é um conjunto de coisas, tenho um filho de quatro anos, quero ter mais. A vida de atleta é de muita viagem, estava ficando cansado disso um pouco. Eu não me via com vontade de seguir para outro ciclo olímpico, que termina em Paris 2024. Agora é a hora de ajudar outros atletas a seguir o sonho deles”, explicou o atleta.
 
David Moura disse que ainda daria para continuar, mas não se vê com a mesma motivação e não quer fazer como alguns atletas e ‘empurrar com a barriga’ até Paris 2024, quando se fecha o próximo ciclo olímpico.
 
Ao todo, David Moura integrou a seleção brasileira de judô de 2010 até 2021, completando 11 anos diretos na equipe. Ele destacou que o fato de não ter tido nenhuma lesão o ajudou bastante a continuar treinando em alto nível e melhorando cada dia mais.
 
A pandemia também prejudicou o mato-grossense, que conseguiu continuar treinando, mas ficou sem participar de várias competições. Ela destacou ainda que a sua recuperação não é a mesma de tempos atrás. Tanto que foi necessário mudar todo o planejamento de treino. Agora, com a aposentadoria dos tatames, ele crê que algumas das dores que sentem devem diminuir.
 
“Na pandemia, fiquei muito com meu filho. Para voltar a viajar tanto, foi difícil para mim e ele. Foi quando comecei a pensar na aposentadoria. Porém, ainda tinha Tóquio na mira, meu plano era ganhar uma medalha olímpica e depois ver o que ia acontecer, mas já desconfiava que pararia”, comentou David.

 

Na semana passada, o cuiabano ficou com a prata na categoria acima de 100kg no Campeonato Mundial Militar de Judô do Conselho Internacional Desporto Militar (CISM), realizado em Brétigny-sur-Orge, na França.
 
Questionado sobre os títulos que mais marcaram, o mato-grossense elenca a prata que conquistou no Campeonato Mundial de Judô em 2017, quando perdeu para o francês Teddy Riner, uma das lendas do esporte. A luta foi para o Golden Score (prorrogação), sendo que o europeu, que não perdia a sete anos naquela época, conseguiu projetar David por ippon, conquistado o novo título mundial.
 
David Moura ainda destaca os Jogos Pan-Americanos de 2015, ocasião em que foi medalha de ouro. “Este título me marcou bastante também, porque foi onde acabei sendo mais conhecido pelo mundo e até aqui em Cuiabá e todo Mato Grosso”. Porém, o ano de 2017 foi o mais completou para ele, já que foi quando ele terminou em primeiro do ranking mundial. Em apenas um torneio, naqueles 365 dias, ele não subiu ao pódio.

 

O objetivo de David Moura agora é ajudar outros atletas a chegar o mais longe possível. “Temos a academia aqui, uma galera de vários lugares do Brasil que estão aqui. Agora vou ajudar ainda mais estes atletas a buscar os sonhos deles. Quero também ajudar a galera do Reação Olímpico, do Rio de Janeiro e daqui. São detalhes que podem fazer a diferença na vida de um atleta e posso passar essa experiência para os próximos que vierem”.
 
Um de seus projetos reúne cerca de 400 crianças, que estão sendo preparadas não só para o esporte, mas também para a vida e o mercado de trabalho. “É algo que me preenche. A gente é mais realizado quando se doa pelo outro. O atleta tem que ser um pouco egoísta, ganhar a minha medalha, meu treino entre outros. Agora eu quero dar de volta para a galera o que o judô me deu”.

 
O mato-grossense foi convidado pelo ex-judoca Flávio Canto para ser diretor do Instituto Reação Brasil, sendo que também é cogitado que ele assumiu um cargo no Reação Olímpico.
 
David Moura destacou os nomes de João Cesarino, de Cuiabá e Gustavo Assis, de Minas Gerais, mas que treina na capital mato-grossense. Sobre o primeiro, ele destaca que já é possível vislumbrá-lo nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.
 
Sobre uma nova geração da família que possa surgir, David Moura diz com um sorriso no rosto que não pretende forçar o filho e deixá-lo seguir o próprio caminho. “Meu filho está apaixonado por judô. Tenho o maior cuidado de ser aquele superpai. Acho que ele tem que ser feliz e fazer o que quiser. Ele tem quatro anos e acorda já sabendo o dia de treinar e fala ‘hoje tem judô, hoje tem judô’. Se ele quiser, terá todo apoio do mundo, mas estará sempre à vontade. Além disto, tenho vários sobrinhos que também estão fazendo o esporte”.
 
“Queria deixar registrado meu agradecimento do carinho que recebo diariamente. Fico feliz e orgulhoso. As pessoas falam: ‘tenho orgulho de falar que te conheço, de ter um atleta deste nível na minha cidade, no meu estado’. Isso sempre me motivou demais. Foi algo que sempre impulsionou nos momentos difíceis”, agradeceu.
 
Uma das ideias de David Moura é trazer o Reação Olímpico para Cuiabá. “Com isto, vamos conseguir trazer recursos, pagar um salário aos atletas. Eu digo que o judô transforma vidas, transformou a minha. Nele, você é ensinado a saber quando perdeu, sabe sobre vitória e derrota, aprende a tirar o melhor disto. É algo que se leva para a vida. Tem o respeito a hierarquias, que você também leva o aprendizado para o mercado de trabalho”.
 
Além do Instituto Reação, que ele destaca estar com as portas abertas para apoiadores e a quem deseja conhecer o projeto, David Moura também segue com a sua academia, que está sendo expandida para diversos colégios de Cuiabá.

 
Na capital mato-grossense, a equipe de David Moura tem duas repúblicas com pouco mais de dez atletas de todos lugares do país e que treinam com ele. “Na minha época, todo mundo falava que eu precisava me mudar daqui para chegar em algum lugar. Graças a Deus eu fiquei e a gente conseguiu transformar o judô e até outros esportes, que podem se espelhar. Assim, vamos transformando a cultura da cidade em apoiar o esporte, melhorando a confiança, mentalidade dos atletas. Hoje, o mundo é globalizado, temos acesso aos melhores profissionais pela internet”.
 
Quem desejar apoiar o projeto do Instituto Reação, pode conseguir mais informações no site. David ainda pontua que está aberto também a parceiros que desejem dar um dia de alegria aos que participam do instituto. “Recentemente, fizemos um Dia das Crianças muito bacana com o pessoal do Felici Buffet”.
 
“No Instituto Reação, qualquer pessoa pode ser padrinho de uma criança. Adotar um judoca, com uma mensalidade pequena, mas que faz uma grande diferença. Queremos levar o judô para o máximo de crianças”, finalizou.