Mato Grosso enfrenta a pior seca nos últimos 44 anos, e para além dos cenários de incêndios e fumaça no céu, que prejudicam a saúde da população, o fenômeno atinge principalmente os animais. No Pantanal, são comuns cenas de bichos indo atrás de comida e água, enfrentando dificuldades e muitas vezes se arriscando pela sobrevivência.
Leia mais
Focos de incêndio aumentam 325% nas Terras Indígenas de MT e entidade pede doações
Os animais enfrentam a chamada "fome cinzenta", uma condição causada pelo desequilíbrio na cadeia alimentar, que levou à falta de alimentos. A escassez de água agrava ainda mais a situação.
Vistas como predadores e perigosas, as serpentes que acabam sendo animais invisíveis, aqueles que raramente são vistos, mas que desempenham papéis importantes no equilíbrio do ecossistema, têm sido encontradas mortas por grupos que atuam na assistência aos animais.
Na semana passada, o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad), em uma recente operação de busca ativa, encontrou mais de 50 serpentes mortas, junto com outros animais em um trecho de 800 metros.
Uma das pessoas que tem monitorado os animais na região pantaneira é o veterinário Paul Raad, coordenador do projeto de coexistência entre humanos e fauna na ONG Ampara Silvestre, no Pantanal.
Em publicação no Instagram, Paul compartilhou o registro de uma sucuri de seis metros, atravessando uma rodovia no bioma, atrás de água. Ele ficou monitorando a travessia da serpente, para que concluísse com segurança.
“Embora pareça incrível, muitos ajudam de um lado e, sem perceber, prejudicam de outro. Esta sucuri de 6 metros, desesperada pela falta de água, cruzava a estrada em busca de um lugar seguro. Seu tamanho e lentidão a tornam vulnerável a atropelamentos. Se você vir animais assim, ajude-os a atravessar com cuidado. Cada gesto conta para protegê-los neste ambiente que transformamos”, disse Paul.
Notificação do MPMT
No último dia 30 de agosto, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso notificou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), para que realize ações preventivas a fim de minimizar os danos já suportados pela fauna silvestre local e garantir a sua sobrevivência, pois a escassez de água se agravará e deve se estender até final de outubro.
Foi recomendado que a Sema realize mapeamento e seleção dos pontos de dessedentação (locais onde os animais matam a sede) de acordo com o estado de ausência hídrica em pontos que habitualmente possuem água nessa época. Hoje, entre as pontes 58 a 91 da Transpantaneira, que abrange aproximadamente 30 quilômetros, apenas quatro pontos registram presença de água.
Veja vídeo feito por Paul Raad e Samuel Bressan: