Em uma entrevista ao programa Canal Livre da Band, neste domingo (22), o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), elogiou o compromisso do governo federal em liberar, por meio de medida provisória, R$ 514,5 milhões para o combate aos incêndios florestais, que se intensificaram nos últimos meses devido à mudança climática. Mauro, no entanto, fez uma crítica à burocracia brasileira, destacando que o montante destinado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e outras instituições, como Ibama e ICMBio, pode ser liberado tarde demais, quando as chuvas já estiverem ocorrendo em grande parte do país.
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"A proporção do tamanho da confusão foi muito maior do que todos nós estávamos preparados. O diálogo entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul funcionou bem, com ações conjuntas com o ICMBio e Ibama. No entanto, o problema está na burocracia. Entre a promessa de liberação de recursos e a chegada efetiva desse dinheiro, há uma longa trajetória. É perigoso que, quando o dinheiro sair, São Pedro já esteja fazendo a parte dele", afirmou o governador, referindo-se às previsões de chuva nas próximas semanas.
Mauro ressaltou que o governo de Mato Grosso se preparou desde março para enfrentar a temporada de incêndios, com mais de R$ 70 milhões em investimentos. Mesmo assim, a estratégia não foi tão eficaz quanto no ano passado, devido ao prolongado período de estiagem e ao aumento dos focos de incêndio, muitos deles provocados por ações criminosas. "Fomos surpreendidos pelo grande volume de focos de incêndio. Ano passado, nossa estratégia funcionou muito bem, mas esse ano, como em grande parte do Brasil, não tivemos o mesmo sucesso. O período de seca foi muito longo, e a quantidade de focos de incêndio cresceu drasticamente", declarou.
O governador criticou também a legislação ambiental brasileira, que considera "frouxa", e defendeu o endurecimento das leis contra crimes ambientais. Segundo Mauro, o Código Florestal, que está em vigor desde 2012, é uma das legislações mais restritivas do mundo, mas não é cumprido com rigor. "Emitimos mais de R$ 2 bilhões em multas, mas o processo judicial é lento, e muitos infratores recorrem, conseguindo descontos. A lei é muito branda. Eu defendo que para o desmatamento ilegal, a punição seja similar àquela aplicada no artigo 243 da Constituição, onde se perde a terra por crimes como plantio de maconha, produção de cocaína ou trabalho escravo", afirmou.
Em relação à cooperação entre estados e o governo federal, o chefe do Executivo destacou que Mato Grosso tem trabalhado em sinergia com o governo federal e com Mato Grosso do Sul, o que proporcionou alguns avanços. "Funcionou esse diálogo entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, fizemos uma cooperação para ceder mecanismos que estivessem ociosos. Funcionou bem, temos trabalhado com boa sinergia e o governo federal veio para dentro dessa estratégia. Tivemos algum nível de bom resultado", destacou.
O governador também criticou a dificuldade em prender e punir responsáveis pelos crimes ambientais. Segundo ele, apesar de prisões serem realizadas, muitos criminosos são soltos rapidamente mediante pagamento de fianças irrisórias. "Prendemos um criminoso, e no final do dia estava solto, pagando R$ 800 de custódia. Um crime contra a saúde pública, o meio ambiente e a imagem do Brasil no exterior", lamentou Mendes.
Por fim, Mauro reafirmou a necessidade de se pensar em medidas para os próximos anos, especialmente diante das mudanças climáticas e da complexidade em combater incêndios em grandes proporções. "A reunião no STF terá reflexos, mas se não pensarmos em medidas para o ano que vem, em 2025 estaremos aqui novamente, assistindo o grande número de queimadas no Brasil", concluiu o governador.