Clovis Matos, conhecido como Papai Noel Pantaneiro, falou ao PodOlhar sobre sua experiência à frente do Cineclube Coxipones, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), durante o período da ditadura militar. Ele assumiu a coordenação do cineclube em 1979, após o antigo responsável deixar o cargo. “O cineclube ia fechar, e eu não podia deixar isso acontecer. Tínhamos um público muito bom. Aos sábados e domingos, o cinema lotava, mesmo sem as pessoas saberem qual filme seria exibido”, relatou.
ASSISTA A ÍNTEGRA DO PODOLHAR COM O PAPAI NOEL PANTANEIRO:
Clovis destacou o papel do Cineclube na disseminação de cinema de arte e na resistência cultural durante um período de censura. "Nós procurávamos trazer conteúdos diferentes, buscando filmes de alta qualidade, inclusive de países da antiga Cortina de Ferro, como o cinema soviético. Não era sobre política; era arte pela arte. Mas só o fato de serem filmes desses países já gerava dificuldades, mesmo quando o conteúdo não tinha conotação política”, explicou.
Entre os desafios enfrentados, Clovis mencionou as barreiras impostas pela censura. “Filmes brasileiros precisavam de um cartão assinado por autoridades da censura, como a doutora Solange, conhecida por ser linha dura. Sem isso, as exibições não eram permitidas. Às vezes, os censores estavam entre os espectadores, e só mais tarde descobríamos quem eram”, disse.
Um episódio marcante foi a exibição do filme Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein, que havia sido proibido no Brasil por décadas. "O filme fazia um longo trajeto para chegar até aqui, passando por diversos países. Também trouxemos cartazes de cinema soviético e cubano para exposições. Cada cartaz era uma obra de arte", contou.
A gestão do Cineclube também abriu espaço para produções locais e pesquisas culturais. Clovis, que iniciou sua trajetória na UFMT como bolsista do Departamento de Artes, conciliava a coordenação do Cineclube com estudos sobre manifestações culturais regionais, como o Siriri e o Cururu. "A Engenharia ficou de lado por causa do movimento estudantil e da cultura. Foi uma escolha difícil, mas não me arrependo. Depois, me formei em História, que tinha mais relação com meu trabalho na época", comentou.
Clovis permaneceu à frente do Cineclube até 2017, mas sua conexão com o projeto continua. “Até hoje sou convidado a participar e a falar sobre o Cineclube, que segue ativo e participativo. Resistir naquela época não foi fácil, mas valeu a pena”, concluiu.
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