A família do ex-presidente da OAB-MT, Renato Nery, sustenta que o advogado não foi morto em razão de sua atuação profissional, mas sim devido a uma disputa de terras no município de Novo São Joaquim (MT). Segundo o advogado e amigo da vítima, Walmir Cavalleri, o crime ocorrido no dia 5 de julho de 2024, na frente do escritório de Nery, em Cuiabá, pode ter sido planejado por dezenas de pessoas interessadas na área de 12 mil hectares envolvida em um processo judicial iniciado nos anos 1980.

ASSISTA A ÍNTEGRA DO PODOLHAR COM A FAMÍLIA DO EX-PRESIDENTE DA OAB, RENATO NERY:



A Polícia Civil investiga o caso e, em novembro, deflagrou a operação Office Crime, cumprindo mandados de busca e apreensão contra advogados e empresários que tiveram envolvimento em processos relacionados à disputa agrária.

Histórico da disputa

Conforme Cavalleri, a disputa começou em 1982, quando Maria Selma Valois ingressou com uma ação para reivindicar parte da área que estava em nome de Manoel Fernandes. A sentença inicial, proferida em 1988, concedeu a ela os 12 mil hectares – acima do que havia sido solicitado no processo. A decisão foi mantida em instâncias superiores, e apenas em 2016 houve reintegração de posse.

"O cliente do Renato, Manoel, já havia falecido em 2010. Ele tinha cedido 2.500 hectares ao Renato como pagamento de honorários. Mas, quando morreu, já não possuía mais nada. O Renato e um sócio dele tomaram posse de áreas que ainda estavam em disputa, mas enfrentaram resistência de posseiros que haviam ocupado a região", explicou Cavalleri.

O advogado afirma que a morte de Nery pode estar ligada a múltiplos interesses na área. "São dezenas de famílias que se achavam donas dessas terras e foram retiradas. Então, é muito difícil apontar um responsável. Esperamos que essa mobilização da família traga novos elementos para identificar executor e mandante".

Família busca respostas

A filha de Renato Nery, Livia Nery, reforça que o assassinato não ocorreu em razão do trabalho do pai como advogado, mas sim como parte interessada no processo.

"Fala-se muito que foi um crime contra o advogado, mas esses processos eram de interesse próprio do meu pai. Então, não acho que foi um crime contra o advogado Renato Nery, e sim contra ele, pessoa física", declarou.

A família tem mobilizado a sociedade para cobrar respostas da polícia. Até o momento, não há conclusões sobre os responsáveis pelo crime.