O vereador Jeferson Siqueira (PSD) deu um “ultimato” nos colegas vereadores Rafael Ranalli (PL) e Tenente Coronel Dias (Cidadania): ou se retratam publicamente sobre falas acerca de suposta influência de facções criminosas na Câmara Municipal, ou serão acionados na Comissão de Ética da casa. A ‘advertência’ foi feita na manhã desta terça-feira (11), à imprensa.
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Siqueira lembrou que entre a vitória nas urnas e a possa, parlamentares deram entrevistas denunciando suposto vínculo de vereadores da atual legislatura com facções criminosas, mas que até o momento nada foi provado. Para ele, chegou a hora de uma retratação pública.
“Em relação aos vereadores Ranalli e Tenente Coronel Dias, eles terão a oportunidade, no mínimo, de vir a publico e também se retratar, até porque eles disseram que dariam nomes. ‘Dia primeiro quando eu assumir, vou lá, vou fazer a denúncia, vou dar nome aos bois, porque eu sou isso, sou aquilo’, e não fizeram nada”, declarou, imitando o queriam dito os vereadores advindos de duas forças policiais distintas.
“Vamos esperar que eles possam vir a público, que eles possam se retratar. Caso contrário eu não tenho dúvidas, que o desejo dos colegas é que nós podemos, sim, utilizar a Comissão de Ética. Acionar a Comissão de Ética para que essa situação se transforme em um processo administrativo para que eles possam, no mínimo, entender que todos nós somos iguais e que o respeito é bom e cabe em todo e qualquer lugar”, completou.
As falas sobre a suposta relação de vereadores com grupos criminosos foram feitas durante as articulações para a escolha da Mesa Diretora da Câmara. Na ocasião Siqueira chegou a se lançar como candidato a presidente, encarando pela frente a chapa feminina que viria a ser eleita com forte apoio do prefeito Abilio Brunini (PL).
Na ocasião da campanha interna pela Presidência da Casa, defensores da chapa feminina chegaram a argumentar que havia influência de facções inclusive na disputa da Mesa Diretora, lançando suspeitas sobre a chapa que Siqueira tentava montar, sem as bençãos do Alencastro.
“Daremos a oportunidade para que eles possam vir a público se retratarem. Caso não se retratarem, a gente vai tomar uma medida mais severa até, porque essa casa é uma casa de leis, tem que ter respeito e responsabilidade naquilo que falamos e fazemos”, sustentou Siqueira.
Paula se esquiva
Ainda na manhã desta terça-feira (11), a presidente da Câmara, vereadora Paula Calil (PL), desconversou sobre a denúncia feita pelo vereador Rafael Ranalli (PL) de que haveria suposta ligação de parlamentares da atual legislatura com membros de facções criminosas.
Paula foi questionada sobre o tema durante entrevista, na qual jornalistas citaram a ela que investigação do Gaeco que suspeita da relação de 22 parlamentares com o Comando Vermelho em todo o Estado. Paula disse que não está inteirada do assunto e que sequer conversou sobre o tema com o autor da denúncia, Ranalli, seu colega de parlamento e de partido.
“Essa é uma questão de polícia, é uma investigação da polícia. Eu não tenho informações sobre isso. Houve realmente um comentário antes foi por parte de um vereador [Rafael Ranalli] e ele é policial [escrivão da Polícia Federal], é o papel dele, eu não sei... ele nunca falou nomes. Não sei os nomes. Não tenho informações sobre isso”, esquivou-se.
A presidente do Legislativo sustenta que cabe à polícia investigar as supostas relações entre faccionados e o poder Legislativo.
“O que ele [Ranalli] comentou foi que ele formalizou uma denúncia, aí cabe você perguntar a ele [Ranalli] as informações, quem foi a pessoa que ele denunciou, quem foram as pessoas... eu não sei porque, conosco, ele não comentou. Eu não sei os nomes e ele não deu informação”, finalizou.
Investigação do Gaeco
O promotor de Justiça Adriano Roberto Alves, chefe do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), afirmou que o órgão está investigando 22 vereadores em Mato Grosso por suspeita de ligação com facções criminosas.
“Realmente existe investigações contra vereadores em andamento. 22 vereadores no estado inteiro”, disse Alves na sexta-feira (7), durante evento de posse do novo Procurador-Geral de Justiça do estado, Rodrigo Fonseca, ocorrido nas sedes das promotorias, em Cuiabá.
O promotor ainda refutou ter conhecimento sobre qualquer tipo de interferência das facções junto aos deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).
No ano passado, Adriano havia confirmado que as facções estariam financiando campanhas eleitorais no estado, investindo dinheiro vivo nos candidatos. Candidatos em Cuiabá, Várzea Grande, Nobres, Cáceres, Sinop, Primavera do Leste, Sorriso e Alta Floresta são monitorados. As apurações mostram que o CV está lavando dinheiro do tráfico em campanhas políticas para obter vantagens nas câmaras municipais do estado.
"O CV mudou de tática. A facção investe dinheiro vivo em políticos para depois cobrar em ações que favoreçam a facção", declarou o coordenador.
Para o Gaeco, o CV viu na política a oportunidade de lavar dinheiro sem ser detectado pelos órgãos policiais, investindo na base eleitoral de vereadores. Essa estratégia preocupa o estado, pois esses candidatos, caso eleitos, podem se tornar prefeitos, deputados e até senadores.
O promotor aponta que o dinheiro investido, muitas vezes por meio de laranjas, é usado para impulsionar campanhas eleitorais, com a produção de materiais publicitários e a compra de votos. "Por exemplo, para colocar uma placa de campanha em frente a uma casa, o candidato paga como forma de garantir a compra de votos", explicou.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) tem como função identificar, prevenir e reprimir o crime organizado.
O Gaeco é um grupo permanente do Ministério Público (MP) que atua em todo o Brasil. É formado por promotores e procuradores de Justiça, servidores, estagiários, delegados e policiais civis e militares.