O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou a 1ª Semana Nacional da Saúde, uma mobilização nacional voltada à promoção do direito à saúde, especialmente para populações em situação de vulnerabilidade, entre os dias 07 e 11 de abril. Um destaque da semana foi a ação “Saúde da Mulher Indígena”, realizada na Ilha do Bananal, em Tocantis. Uma delegação de médicos de várias especialidades esteve no local, sob comando da renomada médica Ludhmila Hajjar, coordenadora da cardiologia da Rede D'Or em São Paulo.

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Mato Grosso esteve representado pela médica Tabata Natashe Vicente Machado, ginecologista, obstetra e mastologista, que participou ativamente dos atendimentos. Ela faz parte do corpo clínico da Oncomed, em Cuiabá, sendo especialista na mastologia.



Com ampla experiência em ações voluntárias desde a época de estudante, a Tabata compartilhou a emoção de reviver práticas humanitárias: “Na faculdade participei do Projeto Rondon com a Marinha, atendendo ribeirinhos no Pará. Repetir essa entrega agora, com estrutura montada em uma escola adaptada para consultórios, foi emocionante.”

Como era a única médica ginecologista, obstetra e mastologista da equipe, Tabata atendeu muitas mulheres, entre gestantes, idosas e adolescentes. Várias delas estavam tendo uma consulta médica pela primeira vez.

“Tinha mulheres que nunca tinham passado por uma avaliação, nunca tinham feito um ultrassom, que já estavam no terceiro trimestre de gestação, outras também descobriram a gestação ali comigo. Além disso, teve algumas internações que precisei encaminhar para o hospital terciário, pois fazíamos o atendimento em uma escola preparada e equipada para a ação. Esses casos mostraram o quanto essas populações precisam de assistência”, disse Tabata.

“Teve dia que a equipe do Exército saía de madrugada para buscar as mulheres nas aldeias. Elas passavam pela triagem e eram atendidas por várias especialidades: cardiologia, pediatria, odontologia, psicologia, além de ultrassons realizados por um radiologista da USP. Foi uma semana intensa, mas muito recompensadora”, complementou.

Para a mastologista, a troca com as pacientes foi única e ajudou a equipe a conhecer a população indígena, com tradições muito diferentes.

“A gente chegou com o propósito de doar conhecimento, mas acabamos recebendo muito mais. A troca com essas mulheres foi única. O carinho, os presentes, os sorrisos, tudo isso nos mostrou que fizemos diferença. Conhecer a população indígena que a gente sabe que não tem atendimento nenhum, que não tem acesso à saúde, não tem exames específicos pra fazer e a gente poder dar aquilo”, ressaltou Machado.



Saúde da Mulher Indígena na Ilha do Bananal

A Ilha do Bananal é a maior ilha fluvial do mundo, localizada entre os rios Araguaia e Javaé, com cerca de 20 mil km² e habitada por aproximadamente 2,5 mil indígenas das etnias Karajá e Javaé.

No total, 24 aldeias indígenas da ilha foram atendidas ao longo da semana. A expectativa é de beneficiar mais de 600 pessoas, com foco nas mulheres indígenas. Em parceria com a Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (Sesai), foram oferecidos atendimentos especializados em ginecologia, exames preventivos para câncer de colo do útero, rastreamento de câncer de mama, pré-natal, ultrassonografias, consultas oftalmológicas, pediátricas e ações educativas.

Além dos atendimentos médicos, a ação também promoveu serviços de cidadania, com emissão de documentos como a nova Carteira de Identidade Nacional (CIN), CPF e registro civil de nascimento, seguindo as diretrizes da Resolução Conjunta n. 12/2024. Para viabilizar os atendimentos, cerca de 250 militares do Exército Brasileiro, com o apoio de 35 viaturas e embarcações, garantiram o transporte seguro das famílias indígenas.



Semana Nacional da Saúde: uma iniciativa permanente

Instituída pela Resolução CNJ n. 576/2024, a Semana Nacional da Saúde marca as comemorações pelo Dia Mundial da Saúde (7 de abril). Além dos atendimentos, a programação nacional envolve seminários, oficinas, jornadas e mutirões judiciais sobre o tema da saúde. O evento também estimula parcerias interinstitucionais para prestação de serviços e busca estreitar laços entre o Judiciário e a sociedade civil.

“Todos os estados do país estão promovendo ações para quilombolas, moradores de rua, idosos, crianças com autismo, egressos do sistema carcerário, entre outros grupos. Este é o momento de chamar a atenção do Poder Judiciário para a pauta da saúde”, destacou a conselheira Daiane Nogueira de Lira.

A escolha da Ilha do Bananal para a ação voltada às mulheres indígenas também foi simbólica, em alusão ao Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril.