O funcionário da empresa HB 20 Construções Eireli, João Jorge Souza Catalan Mesquita, afirmou em depoimento à Polícia Civil que o pedido de propina feito por vereadores de Cuiabá ocorreu dentro do gabinete da Presidência da Câmara Municipal. Segundo o depoente, a solicitação partiu de Sargento Joelson (PSB) e do então presidente da Casa, vereador Chico 2000 (PL), durante reunião ocorrida no local.
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As informações constam nos autos da operação Perfídia, deflagrada nesta terça-feira (29) pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor). Segundo a investigação, os parlamentares teriam condicionado a liberação de valores devidos pela Prefeitura à HB20 — por obras no Contorno Leste — ao pagamento de R$ 250 mil em vantagem indevida.
João Jorge contou à autoridade policial que foi levado por Joelson ao gabinete da Presidência, onde ambos os vereadores participaram da reunião. Ali, conforme seu relato, ocorreram as tratativas iniciais e parte dos pagamentos solicitados. “A representação policial, portanto, apresenta elementos que indicam que a Câmara de Cuiabá, e em especial os gabinetes dos vereadores investigados, foram utilizados como palco para as negociações ilícitas e para a entrega de parte da propina, desvirtuando a finalidade pública do mandato parlamentar”, aponta trecho da decisão judicial que autorizou a operação.
Em outro depoimento, o mesmo funcionário revelou que parte dos R$ 250 mil pagos pela empresa foi transferida por Pix e o restante entregue em espécie no gabinete de Joelson. O objetivo dos pagamentos, segundo a investigação, seria garantir apoio à aprovação do Projeto de Lei nº 244/2023, que autorizou o parcelamento de dívidas tributárias da Prefeitura e destravou repasses federais que viabilizaram pagamentos à empresa. Posteriormente, a HB20 recebeu R$ 4.849.652,46 da Prefeitura de Cuiabá — o maior valor repassado durante a execução do contrato das obras.
A juíza Edna Ederli Coutinho autorizou a busca e apreensão de imagens das câmeras de monitoramento da Câmara e o acesso aos registros de entrada e saída de visitantes, referentes ao período de agosto de 2023 a agosto de 2024. A medida busca verificar se há registros das visitas citadas por João Jorge.
Na terça, em manifestação à imprensa, Chico 2000 afirmou que não se lembra de ter recebido pessoas ligadas à empresa, mas reconheceu que, enquanto presidente, recebeu diversas pessoas levadas por vereadores.
Ambos os parlamentares foram afastados de suas funções e estão proibidos de acessar a Câmara, as obras do Contorno Leste e de manter contato com os demais investigados. A investigação teve início a partir de denúncia apresentada pelo atual prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), enquanto ainda era deputado federal.