Afundado em dívidas e sem dinheiro sequer para abastecer a moto que usava, Alex Roberto Queiroz Silva aceitou participar da execução do advogado Renato Nery em troca de uma promessa de pagamento de R$ 200 mil. Segundo a Polícia Civil, a motivação do crime seria uma disputa por uma área de terras avaliada em cerca de R$ 30 milhões no município de Novo São Joaquim.
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“Ele não tinha dinheiro para pagar sequer a gasolina da moto [...] Isso mostra o desespero dele em conseguir dinheiro", disse o delegado Bruno Abreu, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (12).
De acordo com as investigações, o crime foi encomendado pelos empresários Julinere Goulart Bastos e Cesar Jorge Sechi, de Primavera do Leste, e teve como intermediador o policial militar da Rotam, Heron Teixeira Pena Vieira. Alex era caseiro de um sítio do policial.
Ambos estão presos e foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio qualificado pela promessa de recompensa e pelo recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Durante o interrogatório, o PM Heron alegou que a arma usada no crime — uma pistola Glock G17, calibre 9mm, com seletor de rajada — pertenceria ao próprio Alex, que a comprou no "mundo do crime" e depois a vendeu. A versão foi descartada pelos investigadores.
“Se ele [Alex] não tinha dinheiro para comprar nem gasolina, ele não teria condições de comprar nenhum tipo de arma. Não tem como ele ter arrumado dinheiro para comprar uma arma desse calibre e vendê-la de imediato, como se fosse uma banana", disse o delegado.
É uma versão dele que a gente não acredita nenhum pouco. Essa arma tem um seletor de tiros, ou seja, pode disparar em modo rajada, como se fosse uma metralhadora. Não é qualquer um que tem acesso a esse tipo de equipamento”, explicou e acrescentou o delegado Caio Albuquerque.
"Essa versão de que a arma foi comprada no mundo do crime, que o Alex comprou e que depois do assassinato ele vende novamente para a rua, é uma versão falaciosa”. Ele ressalta que a versão precisa ser melhor explicada", completou Albuquerque.
O homicídio
Renato Nery, de 72 anos, foi atingido por disparos de arma de fogo no dia 5 de julho de 2024, em frente ao seu escritório, em Cuiabá. O advogado chegou a ser socorrido e passou por cirurgia em um hospital particular, mas morreu horas depois.
Desde então, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) realizou diversas diligências técnicas e periciais para elucidar a execução. Como resultado, o casal de empresários Julinere e Cesar foi preso na última sexta-feira (9) durante a terceira fase da Operação Office Crime – O Ello.
As prisões são temporárias, e, no mesmo dia, a polícia também cumpriu mandados de busca e apreensão na residência do casal — que já havia sido alvo de medidas semelhantes anteriormente. As ordens foram expedidas pela NIPO (Núcleo de Inquéritos Policiais) da Capital.
No momento da prisão, Cesar agiu com deboche. Segundo a polícia, ele recebeu os agentes de forma fria e chegou a sorrir para a imprensa ao ser questionado se era o mandante do assassinato ao chegar à sede da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Para os delegados que coordenam o caso, o comportamento demonstra que o empresário desacredita da investigação e confia que será solto em breve.