O advogado José Luiz Carvalho Júnior, 27, filho do desembargador José
Luiz Carvalho, negou-se a parar na abordagem policial porque temia um sequestro já que a viatura utilizada pelos PMs não estava identificada nem possuía sirene. A afirmação é da madrasta do jovem, advogada Nadir Blemer. A versão da família contradiz o Boletim de Ocorrência registrado pela Polícia Militar e aponta “exagero” na ação policial. Uma ação indenizatória será movida contra o Estado e uma “notícia-crime” encaminhada ao Ministério Público Estadual (MPE).
Diferentemente do que narrava o BO, na versão da família, Júnior não foi abordado próximo a “bocas-de-fumo”, mas sim, na avenida Miguel Sutil, perto da Gráfica Atalaia. Segundo Blemer, após o incidente um dos policiais teria justificado a perseguição por ter confundido o veículo (Sportage prata) do advogado com automóvel de mesma marca e modelo que havia sido furtado.
De acordo com a madrasta, Júnior contou que saiu da residência da namorada (bairro Goiabeiras), por volta das 4h30 de sábado, e dirigia rumo à própria casa (Jardim das Américas), quando foi surpreendido na Miguel Sutil por um carro aparentemente comum que acendia e apagava os faróis na direção do veículo que conduzia.
“O carro dos policiais não tinha nenhuma identificação, não tinha giroflex, simplesmente não tinha como ele saber que era uma viatura da polícia. Além disso, um dos faróis do carro deles não estava funcionando, na hora ele pensou que fosse um assalto, um sequestro”, explicou a madrasta. Segundo ela, o advogado adquiriu a camionete há pouco mais de 15 dias e teve medo de ser vítima de violência e por isso empreendeu fuga.
“Ele acelerava, eles aceleravam, ele freava, eles freavam. O que você ia pensar se isto acontecesse com você? Um carro normal te perseguindo? Ele começou a correr fugindo deles. E aí ficou em dúvida se voltava para casa ou se corria para outro lugar. Mas depois que os policiais começaram a disparar ele pensou: 'se for para morrer que seja para morrer em casa' e então foi dirigindo em direção à nossa casa”.
Conta a advogada que após ser atingido por três projéteis, ferido, Júnior chegou em casa. “Ele saiu do carro de joelhos, sangrando, gritando que não era bandido, pedindo que não o matassem”, diz. Neste momento, um vizinho da família teria saído à rua. O morador teria tentado impedir outra aproximação dos policiais alertando que o jovem não era “bandido mas sim advogado”.
“Ele começou a gritar pedindo para que não fizessem nada, dizendo que Júnior era advogado e filho de desembargador. Nessa hora os policiais entraram em pânico e não sabiam o que fazer. Até que colocaram Júnior na viatura e o encaminharam ao Pronto-Socorro”, completa a jurista.
A madrasta classifica o ocorrido como “equívoco lamentável”. Conforme conta, o desembargador José Luiz Carvalho está indignado. “Ele está passado. Ontem mesmo me falou que não entende o porquê de tantos policiais no Tribunal de Justiça batendo continência. Ele diz que não precisa dos policiais ali no Tribunal, mas sim nas ruas, como cidadão”.
A respeito da suspeita de que Júnior poderia estar comprando ou portando drogas no momento da abordagem, a advogada questiona: “Muito estranho, a droga que me mostraram na delegacia estava limpinha enquanto ele estava todo sujo de sangue. Como pode?”.
Indagada se o enteado é usuário de drogas, Blemer pondera. “Ele não usa drogas, não que eu saiba. Mesmo se usasse, a abordagem policial não foi a mais adequada”, ratifica.
Agora, a família irá acionar o MPE, por meio de uma “notícia fato”. “Reuniremos nossas declarações e fotografias sobre o ocorrido para que o MP se posicione”, antecipa. Uma ação indenizatória contra o Estado também será movida pelos familiares.
Hoje, às 16 horas, José Luiz Carvalho Júnior, passará por uma cirurgia no ombro para tentar recuperar os movimentos que perdeu na mão direita.
As imagens utilizadas nesta matéria foram enviadas pela família de José Luiz Carvalho Júnior. A publicação foi autorizada previamente.
Matéria atualizada às 14h15
