A ausência de nuvens na noite de quarta-feira (14) deixou exuberante o céu estrelado que cobria a Serra do Caldeirão (cerca de 20 km de Pontes e Lacerda), com a escuridão cravejada de pontos brilhantes. Mas Maber Hauschild, 29 anos, não tinha tempo a perder olhando para cima. O brilho que ele procura é dourado e está sob seus pés, por isso mantém os olhos atentos voltados ao chão. É mais um garimpeiro de primeira viagem enfrentando o turno da noite no local que virou sensação na região para quem procura enriquecer rapidamente.
Maber concedeu entrevista ao Olhar Direto no início da tarde de quarta-feira. Morador de Várzea Grande, soube da oportunidade por meio da imprensa e de fotos publicadas nas redes sociais. Chegou desconfiado na última sexta-feira (9). Tentou se precaver antes de entrar de cabeça na aventura por dinheiro. “Vim pesquisar como que era e vi realmente o pessoal trabalhando. O pessoal começou a mostrar para a gente como é que era, ai nos reunimos e compramos nossas ferramentas. O resultado foi efetivo, de imediato, pegamos e continuamos, fomos na cidade e alugamos uma casa para termos um conforto e uma base”.
A frente de trabalho de Maber começa as atividades todo dia às seis da manhã e, em tese, encerra às 19h. Mas nessa quarta, após as 20h, o labor continuava vigorosamente. “Vamos ficar aqui até quando encontrar ouro ou quando embargarem isso aqui”, asseverou horas antes. Após o encerramento dos trabalhos, um companheiro do grupo, identificado como “Alemão”, assume a guarda até o sol nascer.
O garimpo não dorme
O período noturno pode ser mais intenso ainda que alguns horários do dia, com grande fluxo de carros chegando ao local e muita gente descendo a serra carregando sacos de terra que podem conter pequenas quantidades de ouro, o chamado “reco”. Imagens exclusivas do Olhar Direto mostram que a noite no garimpo não é sinonimo de descanso. Além da extração de ouro continuar a todo vapor, o comércio de comidas e bebidas não para.
A noite na Serra do Caldeirão reserva os olhares mais desconfiados. A presença da imprensa incomoda mais que sob a luz do sol. O local fica precariamente iluminado por lâmpadas em algumas escavações e centenas de lanternas ficam zanzando enquanto seus donos descem e sobem as ladeiras com sacos vazios ou cheios de “reco”. Alguns utilizam aparelhos para detectar metais na superfície.
No pé da serra ficam concetrados os comércios. Tapioca, “espetinho”, “baguncinha”, frutas e marmita. Bebidas alcoólicas também estão à disposição, tudo com o preço nas alturas. Uma garrafa de coca-cola de 2 litros, por exemplo, é vendida a R$ 25. Uma dose de cachaça não sai por menos de R$ 15.
Os garimpeiros fazem questão de a todo momento negar a presença de prostitutas no local. Em um grupo de aventureiros que conversava perto de uma das barracas de comida, um jovem de 17 anos se destaca ao contar a rotina no Caldeirão. “Claro que tem prostituta aqui, você não está vendo agora porque elas estão no horário de expediente. Faz o seguinte, fica até sábado para ver o que é isso aqui. Nos feriados e finais de semana, isso aqui é uma loucura”, diz, risonho. Logo muda o tom. “Se Deus quiser, vamos encontrar ouro logo”. Ergue as mãos para o alto e olha para o céu. O gesto é meramente teatral. Também ignorou as estrelas.
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