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Achei! Camanducaia crê em outra vida se gol de 95 valesse e pede 'troco'

Globo Esporte

Praticamente aposentado, o atacante Camanducaia brilhou no Santos vice-campeão brasileiro de 1995. Aos 36 anos, ele acredita que a finalíssima daquela competição, contra o Botafogo, poderia ter dado um outro rumo à sua carreira caso o clube tivesse saído com o caneco. E a conquista provavelmente seria consumada caso o "parente" Márcio Rezende de Freitas não anulasse um gol legítimo do jogador, marcado no fim do duelo. Vale destacar que ele tentou voltar aos campos no início de 2011, quando disputaria a Segunda Divisão de Minas Gerais pelo Nacional de Nova Serrana, mas uma lesão o impediu de aceitar o convite do clube.

- Acho que minha trajetória no futebol poderia ser diferente se ele tivesse validado aquele gol. Engraçado que antes do jogo o Márcio Rezende chegou em mim e perguntou, brincando: 'Não somos parentes?'. Meu nome é Marcelo Fernando Domingues Rezende. Na hora em que anulou o lance, me disse que o impedimento era dele. Tanto foi que o auxiliar nem levantou a bandeira - afirmou, por telefone.

Vale destacar que os dois gols do jogo - a partida terminou em 1 a 1 - foram ilegais. Túlio, impedido, marcou para o Botafogo. Depois, Marquinhos Capixaba conduziu a bola com a mão, e Marcelo Passos fez o do Peixe. Questionado se erros da arbitragem não deixaram o confronto no "elas por elas", Camanducaia discorda.

- Ficaria em 'elas por elas' se fosse um erro para cada lado. Mas ele se equivocou nos gols e anulou o único correto, justamente o meu (o tira-teima da Rede Globo comprova que Camanducaia estava 59cm atrás do volante alvinegro Leandro Ávilla). Queria falar para ele depois do jogo o seguinte: "Antes você me diz que é parente, mas depois você anula o gol.' Porém, prefiro deixar isso de lado, não guardo mágoa nem raiva. Outros árbitros já vacilaram contra vários times.

O troco

Ao ser informado de que houve um movimento na internet pedindo uma facilitação do Santos para o Botafogo com o objetivo de prejudicar o Corinthians, nesta quarta-feira, em jogo adiado pela 21ª rodada do Brasileiro 2011, Camanducaia mostrou-se contrário. Para ele, o profissionalismo deve estar acima de tudo e ainda vê a partida na Vila Belmiro como uma oportunidade de atrapalhar a vida do seu algoz de 16 anos atrás.

- Eu acho que não tem nada a ver. Os jogadores são profissionais e têm de fazer o trabalho deles, que é ganhar o jogo. O campeonato não acabou ainda. Como os caras (a arbitragem) tiraram o título da gente em 1995, agora é dar o troco e tirá-los da parada. É claro que não vai tirar o Botafogo definitivamente da briga, mas os impede de assumir a liderança. Agora não tem esse negócio de vingança. Criou-se aquele mal-estar por a gente ter sido prejudicado em 1995, mas isso ficou no passado. Independentemente de Botafogo ou não, não tem essa de favorecer A ou B. Ainda tem mais oito rodadas, cabe aos outros times impedirem o título do Corinthians, não ao Santos - garantiu.

Para encerrar o assunto decisão do Campeonato Brasileiro, o jogador lembra que o Peixe estava na época na fila há 11 anos - o último título do clube havia sido o Paulista de 1984. Diante de um jejum tão longo, ele crê que certamente seu nome jamais sairia da cabeça dos santistas.

- Eu estava iniciando minha carreira, com apenas 20 anos. Um moleque tirar o Santos da fila realmente seria algo mais marcante. Com certeza eu gravaria para sempre meu nome na história do clube. Seria o jogo mais importante da minha carreira, mas vou carregar isso para o resto da minha vida.

Alegria no Brasileiro de 1995

Se a decisão do Brasileirão de 1995 deixou uma ferida na trajetória de Camanducaia, a fase anterior reservou a ele uma de suas maiores alegrias no futebol. Depois de perder o primeiro jogo da semifinal daquele ano para o Fluminense por 4 a 1, o Peixe era dado como um "virtual" eliminado. O atleta, porém, garante que a equipe respirava uma estranha tranquilidade diante da tarefa de vencer os cariocas por três gols de diferença.

- Estávamos tão confiantes que um dia antes, no Ibirapuera, durante nosso alongamento, paramos num parquinho. Lá, eu, Giovanni, Marcelo Passos e o Macedo ficamos conversando. Curiosamente, cada um disse que faria um gol e o resultado foi exatamente esse. Todos marcaram, nosso time ganhou por 5 a 2 (Giovanni fez dois) e nos classificamos -disse, orgulhoso.

O jogador, porém, revela outro aditivo que certamente encheu de motivação o time santista: uma bravata de Renato Gaúcho. A "certeza" do adversário que faria a final contra o Botafogo, de acordo com o atleta revelada em uma entrevista, foi o combustível que faltava para sua equipe entrar em campo determinada a conquistar uma virada histórica.

- Na semana anterior ao jogo, o Renato disse que estava praticamente na final e, inclusive, parece que tinha almoçado com o pessoal do Botafogo. Isso mexeu tanto que o time começou voando. Nem voltamos para o vestiário no intervalo para sentir o calor da torcida.

Realmente o Peixe teve uma atuação fulminante, chegando ao placar de 3 a 0 aos cinco minutos do segundo tempo. Camanducaia fez o quarto gol. Vale destacar que Giovanni, além dos dois marcados, deu assistência para os outros três do Peixe. Rogerinho descontou para o Flu, deixando o jogo em 3 a 1, aos 7 da etapa final, e fechando o placar, aos 39.

Volta aos holofotes também contra um carioca, o Flamengo, aos 30 anos

Após um início promissor, Camanducaia acabou um pouco sumido apesar de ter passado por clubes importantes, como Bahia, Figueirense e Guarani. O jogador voltou aos holofotes somente dez anos depois da fatídica derrota para o Botafogo. Já experiente, ele foi um dos responsáveis pela vexatória eliminação do Flamengo nas oitavas de final da Copa do Brasil de 2005. Na partida de ida, Obina, muito badalado após ótima temporada pelo Vitória, estreava pelo Rubro-Negro. Porém, o Ceará estragou a festa do baiano: 2 a 0 no Estádio Pedro Pedrossian, no Mato Grosso do Sul, onde o Fla resolveu mandar o jogo.

No primeiro duelo, ele não vazou o goleiro Diego, mas teve ótima atuação. Na volta, porém, logo aos 16 minutos de jogo Camanducaia incendiou a maior parte dos 55 mil torcedores que lotaram o Castelão. O gol obrigou o time carioca a fazer três, algo que não aconteceu.

Um ano depois, ele reapareceu no caminho rubro-negro. Na semifinal da Copa do Brasil, atuando pelo Ipatinga, Camanducaia marcou os dois gols do clube mineiro, um no Ipatingão, outro no Maracanã. Desta vez, porém, o Fla avançou e acabou como campeão do torneio.

- A sensação de fazer gol num time como o Flamengo é maravilhosa, assim como é marcar contra o Corinthians. São os dois clubes de maior torcida do Brasil. Imagine você marcar um gol no Maracanã lotado? O problema é que eles viraram depois. Mas é claro que aquele golzinho no início do jogo é inesquecível.

O atleta, aliás, lembrou que gols contra o Flamengo não eram uma novidade em sua carreira:

- O meu segundo jogo como profissional do Santos, em 1995, foi contra eles, no Maracanã. Tínhamos acabado de levar de 4 a 0 do Vitória e, quando fui chamado para o jogo, me falaram: "Camanducaia, o Santos vai levar de uns seis ou sete no Maracanã. Eles têm Sávio, Romário e Edmundo. Vocês não têm medo?" Respondi: '"Medo? É um sonho jogar no maior templo do futebol'." Entrei, fiz um gol e vencemos por 3 a 0. Mas não tem essa história de carrasco, sempre enfrentei todos os clubes com muito respeito e muito trabalho.

No mundo empresarial, ele tem escolinha e pousada

Prestes a pendurar as chuteiras, Camanducaia tem uma escolinha de futebol na cidade que lhe emprestou o nome no futebol e é dono de uma pousada chamada Ágape na cidade mineira de Monte Verde, conhecida como a Suíça Mineira devido ao clima muito frio. Com os dois negócios, o jogador mostra-se tranquilo em relação a uma eventual aposentadoria. Ele não descarta a possibilidade de agenciar um de seus alunos no futuro.

- Estou há quase um ano sem jogar. Em 2010, estava parado, mas jogava minhas peladas no meu campo, o Society do Camanducaia, onde tenho minha escolinha. Lá, tive um problema no púbis. No início deste ano, o Amarildo Ferreira, meu diretor no Ipatinga em 2006, me convidou para jogar a Segunda Divisão de Minas pelo Nacional de Nova Serrana (clube que conseguiu o acesso à elite). Avisei ao Amarildo da lesão, cheguei a fazer a pré-temporada, mas senti dores. Acredito que dá para jogar mais um ou dois anos, mas se não pintar nada, está bom. Saí de uma cidade com pouco mais de 15 mil habitantes e levei o nome de Camaducaia para o Brasil. Se tiver que parar, farei isso bem feliz. Assim, tocarei meus projetos e posso até mesmo encaminhar meninos para clubes profissionais - concluiu Camanducaia, que ao lado de um professor de Educação Física dá aula para garotos entre 7 e 13 anos.
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