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Notícias / Meio Ambiente

Estudo demonstra que ação humana afeta ciclo do carbono no Xingu

Globo Amazônia

Medições feitas durante um ano numa bacia afluente do Rio Xingu, no município de Canarana (MT) comprovam que a ação humana, como queimadas, desmatamento e agricultura interferem no fluxo de carbono na floresta. A região é de mata de transição entre o cerrado e a floresta tropical, e está sob pressão do avanço da fronteira agrícola.

“Esse ecossistema está sumindo do mapa quase sem estudo”, afirma a bióloga Vania Neu, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).

Ela instalou equipamentos que medem a quantidade de carbono nos rios, no solo e na chuva, com o objetivo de avaliar se a floresta contribui para reduzir a quantidade de gases causadores de efeito estufa na atmosfera.

“Pudemos observar que na água da chuva entra grande quantidade de carbono orgânico, que vem da agricultura, das queimadas e do desmatamento”, explica a cientista.

Na água pluvial, ela mediu a presença de 8200 kg de carbono por quilômetro quadrado ao ano. O índice é aproximadamente o dobro do registrado em zonas da floresta ainda distantes dos desmatamentos, como a maior parte do estado do Amazonas.

A bióloga conta que a área pesquisada é próxima ao Parque Indígena do Xingu. “As comunidades indígenas dali dependem do rio e da floresta para sobreviver. Fiz várias visitas para ver como estava a água e qual era o impacto do desmatamento e das queimadas na aldeia”, conta.

“Conversando com os índios soube que algumas atividades deles estão sendo prejudicadas. Com o revolvimento da terra para agricultura a água dos rios fica turva e há mais assoreamento. Eles me contaram que antes pescavam com arco e flecha pois viam os peixes. Agora a água é turva e não conseguem mais vê-los”, relata.

Segundo Vania, o revolvimento da terra com máquinas nas plantações, além de afetar os rios, contribui para a liberação de carbono para a atmosfera. “Quando a terra é revirada pelas máquinas, ocorre maior oxidação do solo”, explica.

Uma alternativa, aponta, é o chamado plantio direto, em que a terra não é revirada para a semeadura. Com esse método, a palha e os demais restos vegetais são mantidos na superfície da lavoura, servindo de cobertura e proteção contra processos prejudiciais como a erosão.

O solo só é manipulado no momento do plantio, quando são abertos sulcos para a deposição de sementes e fertilizantes. A técnica, explica a bióloga, é comum no Sul brasileiro.
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