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Grupo Olhar presenteia Cuiabá: nasce site dedicado à cultura

Da Redação - Jardel P. Arruda

Muitas são as biografias que habitam entre as folhas de papel de livros, revistas, jornais e, de um tempo para cá, nos sites. Mas antes de os homens se tornarem lendas, antes mesmo de nascerem, uma história já os precede. Uma pré-biografia. E minha missão aqui é contar como surgiu o Olhar Conceito, um site que já é parte de uma família. Mas como contar a história de quem ainda nem nasceu? Se fosse uma pessoa, escolheria o dia do parto para descrever a gênese. Bom, então é isso que vou fazer.

Em plena noite de domingo, à véspera do 294º aniversário de Cuiabá, um trio de pessoas totalmente diferentes trabalhava dentro de uma sala sob os sons estalados dos dedos batendo contra o teclado dos seus respectivos computadores. De personalidades distintas, mas com um objetivo em comum, a equipe até reclamava do horário, mas estavam muito mais interessados em concluir aquela missão para poderem apreciar o resultado – quase um filho.

O garoto branco, de cabelos louros, que escondia os olhos claros – mas tão claros que não dava para distinguir se são azuis, verdes, cinzas ou talvez uma mistura de tudo isso – atrás de óculos é o mais novo dos três. Contudo, era também o mais pai daquela criança. Matheus Coutinho pensou em como seria criar esse bebê há um ano e de lá para cá enfrentou seus contratempos para conseguir alcançar o objetivo.

Agora ele estava ajudando a pessoa que foi a solução para dar a luz àquela criança. “Eu sentia falta de matérias diferentes. Estava enjoado de matérias sobre política o assassinatos, mas eu queria ler sobre Cuiabá. Foi então que li uma matéria sobre segmentar públicos e pensei em um site para um segmento mais exigente com os textos”, disse em um tom de voz tranquilo, como quem sabe que tudo está prestes a dar certo, durante uma pequena pausa no trabalho daquela noite.

A ideia surgiu, mas daí até nascer é uma outra história. Convencer o pai foi fácil. Marcos Coutinho, ao alto dos seus 47 anos, sabia que devia tudo a vida a duas coisas: A família e a Cultura. “Estou emocionado. Eu decidi apoiar esse projeto e tocá-lo para frente porque tudo que eu tenho eu devo aos meus pais, mães, tios, enfim, minha família e a cultura”, disse o diretor executivo do Grupo Olhar, na sua correria do dia a dia, enquanto se preparava para viajar.

Coutinho estava com pressa, como sempre está, mas não resistiu e discursou eloquentemente sobre o quanto estava animado com o novo projeto. O projeto do próprio filho. Seria um neto. “Vamos apoiar todas as iniciativas de arte, sejam elas visuais, cênicas, plásticas, literatura, história. Também as iniciativas em turismo, gastronomia, metalurgia em termos de arte. E também queremos em um futuro próximo fomentar festivais de blues e jazz, festivais de cinema independente, de dança, de MPB e bossa, de música clássica”, falou, repetiu, ratificou, garantiu. Tudo de uma vez. É assim que ele faz.

Contudo, Marcos Coutinho não era a única pessoa que Matheus precisava convencer. E a outra pessoa era bem mais resistente e racional para simplesmente aceitar a idéia sem antes discutir, debater e resistir. Ironicamente, ela, quem mais demorou a se convencer do quanto essa criança poderia ser uma boa idéia, fazia parte do trio que trabalhava em um domingo a noite, véspera de feriado, para ajudar no nascimento do bebê.

Dona de olhos de um colorido tão desconcertante quanto o de Matheus – azul, cinza, verde, tudo ao mesmo tempo -, branca como uma imigrante alemã e falante como uma descendente de italianos, Izabel Manfrin Coutinho estava obcecada pela perfeição daquela criança como já estivera outras vezes durante o nascimento dos sites irmãos daquele. Era sempre assim. Enquanto Marcos é a paixão criativa, ela é a disciplina racional responsável por levar toda essa família em frente. E se agora ela estava indo tão a fundo na idéia desse bebê era porque fora convencida do quanto ele poderia ser um sucesso.

“A gente sabe da importância desse segmento, mas no dia-a-dia a gente via que quando colocávamos uma matéria de cultura quase não tinha acessos. Dava um trabalhão danado fazer uma matéria complicada, muito mais difícil, mais complexa do que uma notícia de cidades, e então vinha a frustração com tão poucos acessos”, contou.

“Mas depois me convenci que a idéia tinha um potencial estrondoso e fiquei muito orgulhosa do meu filho. Aí tínhamos um problema ainda. Encontrar a pessoa certa. Em princípio pensei no Lucas (Bólico), mas não podia tirar ele do Olhar Direto. Depois pensei na Thalita (Araújo), que já passou por aqui e ainda colabora conosco. Mas ela tinha os projetos dela, não podia ficar tempo integral. Foi aí que apareceu a Lidi e enfim passamos do estágio embrionário”.

Izabel falou tudo isso depois de sair de um telefonema e já entrar em outro enquanto também digitava para fazer o parto daquele filho. Ou melhor, neto. A cada minuto perguntava como estavam as coisas para os outros dois que faziam esse “plantão extra”, ensinava alguma coisa em seguida, puxava a orelha de alguém e elogiava também. Tudo quase ao mesmo tempo. Definitivamente, Matheus era o único ali que continuava sereno.

Sim, porque o terceiro membro do trio era o mais agitado de todos. Digitando freneticamente, perguntando e respondendo sem parar. Seu cabelos castanho brilhantes, cortados chanel, assimétrico, cujas pontas mostravam ser ondulados o suficiente para até fazer cachos, balançavam no compasso da digitação. Assim como quase tudo nela, as unhas denunciavam nervosismo. A pintura vermelha estava descascada, mostrando como ele não teve tempo para si mesmo – ou que precisava roer algo nesses dias.

Lidiane Barros sempre teve sua carreira como jornalista ligada à Cultura. Durante anos foi editora da Folha3, do jornal Folha do Estado, caderno ganhador de inúmeros prêmios no segmento, mas ainda assim parecia estar fazendo ali a sua estréia. “Eu pareço nervosa? Pareço, né? Ai, claro que estou nervosa. Estou super na expectativa. Acredito que esse site pode se tornar uma referência quando falarmos em cultura. Estou muito empolgada com o ambiente virtual. Com a convergência de mídias. Temos muitos planos”, disse em um micronésio de segundo de pausa na correria. Não do nervosismo.

A equipe heterogênea continuava os estalar de dedos contra as teclas em uma digitação infinita. Matheus, o criador, concentrado. Como um pai jovem, ele tem 21, já queria ir embora. Izabel, a disciplinadora, continuava a falar com todos. Lidiane, a editora daquela criança, finaliza os últimos detalhes.

Ao fim da noite uma última ligação. Era o Lucas Bólico, editor chefe do Grupo Olhar. Um cargo que combinava com a barba dele. “Vocês sabem que todos vamos fazer fila para poder escrever aí. Estou ansioso para ver o resultado”, disse de dentro do banheiro da livraria Cultura, em São Paulo, onde havia ido para fazer a cobertura da SP Arte.

Era preciso correr. Tudo precisava estar pronto para na manhã de 8 de Abril aquele bebê ser entregue para Cuiabá. Um presente de aniversário para uma cidade com tantas histórias, com tantos artistas, com tantas vidas. Um espaço diferente de todos os outros que já existem por aqui. Feito para dar espaço a toda manifestação cultural, especialmente a cuiabana, mas também do mundo todo. Um lugar para os clássicos, para os pós-modernos, para o novo, para o velho, um espaço concebido para todos poderem ter um olhar diferente sobre o mundo. Um espaço chamado Olhar Conceito.

Enfim, Parabéns Cuiabá!
Um presente de aniversário da familia do Grupo Olhar, que com seus 12 anos é um bebê perto da Capital de Mato Grosso.

E não é que tudo ficou pronto lá pelas 22h? Menos esse texto, escrito por um certo quarto membro da equipe. Nunca dá para contar a história toda, não é?

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