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Lembra Dele? Piekarski, o dono da cadela que botou Romário para correr

Globo Esporte

 O meia polonês Piekarski ficou pouco menos de três anos em solo brasileiro (entre 1996 e 1998), onde defendeu as camisas de Atlético-PR, Flamengo e Mogi Mirim. O curto período, todavia, bastou para se apaixonar pelo Furacão, por uma ex-miss Brasil e por picanha. Pelo Rubro-Negro carioca, fez apenas 13 jogos em cinco meses e sequer foi protagonista na curta passagem. O destaque foi a sua cadela Aninha, uma poodle de pêlo negro que colocou o marrento Romário para correr. Hoje, aos 38 anos e trabalhando como agente de atletas na Polônia, lembra com carinho do Brasil, mas pelo visto pouco tem lido sobre o futebol no país. Perguntado pela reportagem se sabia que seus ex-clubes fariam a decisão da Copa do Brasil, ficou surpreso e não escondeu por quem torcerá.

- Não sabia. Tenho um pouco mais de carinho pelo Atlético, que foi quem me descobriu e me deu a chance de mostrar minha qualidade. Vou torcer pelo Atlético, fiquei um ano lá. No Rio foram só cinco meses. Fiz um excelente campeonato com o Atlético, gostei da cidade. Lembro que o senhor Petraglia (Mário Celso, atual presidente do Furacão) me contratou, o técnico era Evaristo de Macedo. Tive muitos bons companheiros. Lembro do Alberto, Jorge Luiz (zagueiro), Jean Carlo, Alex Lopes, Oséas e o Paulo Rink, que inclusive foi meu padrinho de casamento. Todo mundo me recebeu muito bem lá, então é claro que tenho mais carinho pelo Atlético. Mas também lembro muito bem do Flamengo. Foi mais difícil (no Fla), porque no início não joguei muito, só comecei a jogar na reta final, no playoff (segunda fase do Brasileiro). O Rio é uma cidade muito linda, das mais maravilhosas do mundo, mas Curitiba ficou mais no meu coração. Conheci mais pessoas lá, e Curitiba tem muito polonês - justificou-se.

CADELINHA

Na capital paranaense, conheceu Kelley Vieira, eleita Miss Brasil em 1995. Tão logo se casaram, tiveram um filho, Daniel, e adotaram "outra": a cadela Aninha. A poodle virou celebridade no Rio, já que acompanhava o polonês em diversas atividades. A pequenina tinha personalidade forte e aterrorizou um dos mais destemidos jogadores de todos os tempos: Romário.

- Ela chegou ao treino com a cachorrinha e a deixou no chão. E isso, claro, não sabendo que o Romário tinha medo de cachorros. Achei bem engraçado um homem forte como o Romário, o maior atacante, a maior estrela do mundo, ter medo de uma cachorrinha de 20 cm. Aí ficamos sabendo que o Romário pulou e saiu correndo com a cachorrinha (risos). Mas eu o entendo. Tem um monte de gente com medo de cachorro - divertiu-se.

Ter sido companheiro do Baixinho, aliás, é um dos grandes orgulhos de Piekarski. E a tal marra do craque não assustou o gringo, que é só elogios para o ex-camisa 11.

- Outra coisa muito legal no Flamengo foi ter jogado com o Romário. É o maior jogador com o qual joguei, lembro muito bem dele. Na Polônia, ele é estrela mundial. Lembro que foi uma pessoa muito legal comigo. Apesar de termos jogado muito pouco tempo juntos, me ajudou muito. Apesar de muitas pessoas falarem coisas de jogadores famosos como ele, só lembro de coisas boas. Tenho muito carinho pelo Romário.
REAL MADRID DO BRASIL

O Flamengo também é elogiado. Embora já tenha assumido o coração atleticano na decisão, a popularidade do clube da Gávea o impressionou. Tanto que compara o Fla ao Real Madrid.

- Foi uma experiência muito legal. Eu, como europeu, senti que é o Real Madrid do Brasil. O Flamengo é igual ao Real Madrid na Europa. Lembro do Maracanã lotado, com 110 mil pessoas num clássico contra o Vasco, que tinha Juninho e Edmundo. O carinho maior é pelo Atlético, mas clube grande e famoso é claro que é o Flamengo. Lembro do Flamengo com um monte de torcedores por onde viajávamos. Sempre tinha um monte de gente nos aeroportos, então senti que joguei num clube muito famoso - reconheceu.
SAUDADE DA PICANHA

Piekarski chegou ao Brasil com apenas 21 anos. Além de lindas mulheres e de torcidas apaixonadas e rubro-negras, o jovem se encantou por churrascarias. Questionado sobre o que sente mais falta do Brasil, disparou:

- Picanha (risos). Sempre que vou ao Brasil com empresários eu os levo para churrascarias. É a melhor coisa do mundo. Mas também sinto saudade do meu filho Daniel, de 15 anos, que mora ainda aí.

Alegrias não faltaram no Brasil, porém o desconhecimento da língua, segundo ele, o colocou em situação complicada. Casou-se pela segunda vez sem ter se divorciado oficialmente de Kelley e acabou condenado por bigamia em Cracóvia, na Polônia, em 2003. Escapou da prisão, mas teve de pagar multa de 10 mil slotys poloneses - superior a R$ 7 mil.

- É um probleminha que não é muito grande. Foi uma confusão, pois minha primeira esposa me passou uma papelada que eu imaginava que definia o divórcio, mas na verdade eram alguns documentos necessários para a separação. Não resolvia o divórcio. Por isso casei duas vezes. Não conhecia tão bem as palavras jurídicas nem falava tão bem português ainda. Mas já foi resolvido, essa história já passou - explicou.


MORTE DE NOWAK


Outra lembrança triste para Piekarski foi a morte do ex-volante Krzysztof Nowak, compatriota e contratado pelo Atlético-PR junto com ele em 1996. Sucesso no Furacão, Nowak foi negociado para o Wolfsburg, da Alemanha. Lá, aos 26 anos, descobriu que sofria de esclerose lateral amiotrófica - ELA -, rara doença. Três anos depois, morreu.

- Uma pena. Nowak foi dez vezes mais profissional do que eu. Só comia verduras, não bebia álcool. Era também uma grande pessoa. Sempre dormia cedo e foi muito correto. Por isso foi uma surpresa ele morrer aos 29 anos, uma coisa muito ruim mesmo. Eu tinha perdido um pouco de contato com ele quando foi para a Alemanha, mas aí, quando fui para a França, voltamos a nos falar. Cheguei a vê-lo perto de morrer, de cadeiras de rodas, tudo isso foi bem triste - lamentou. (veja vídeo abaixo da apresentação de Piekarski e Nowak)
CURTIÇÃO NO BRASIL



Brincalhão e alto-astral, Piekarski logo retomou o lado divertido da conversa com o GLOBOESPORTE.COM. Apontando Nowak como "mais profissional do que ele", suscitou a seguinte questão: então o ex-jogador seria um fã de noitadas? Evitou responder positivamente, mas reconheceu que aproveitou a vida enquanto jovem. E riu bastante ao afirmar o que seria uma "escolha errada".

- Eu não fiz nada mais do que todos os outros jogadores fazem. O Nowak é que foi 100% profissional. Fui igual a todos os jogadores. Quando podia sair, depois dos jogos, eu saía para tomar álcool, comer picanha e me divertir. Na hora da preparação para os jogos é claro que eu ficava em casa. O Nowak também já tinha família, com esposa e filhos. Eu era solteiro. Hoje tenho esposa, filhos e sei como é outra vida. Com 22, 23 anos, eu fiz o mesmo que todo jovem. É normal o jogador ir pelo caminho errado nessa idade. Era igual a todo jovem, igual a você quando tinha seus 22 anos. É normal gostar de picanha, cerveja e mulher. Pior é quando você quer experimentar cerveja, picanha e homem (risos). Não fiz nada errado (risos).

Piekarski pendurou as chuteiras com apenas 27 anos, após ter lesionado o tornozelo em entrada sofrida quando jogava no Chipre. Detalhe: já vinha de duas lesões de ligamento cruzado de joelho. Pouco depois de parar, virou empresário e intermediou a ida de Roger Guerreiro para o futebol polonês. Também levou Edson Canhão, lateral-esquerdo revelado pelo Sport, pouco conhecido pelos brasileiros e de muito sucesso na Polônia. A relação com o Brasil continua...
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