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Pais e profissionais se mobilizam em debate sobre dislexia; 12% dos mato-grossenses sofrem do distúrbio

Da Redação - André Garcia Santana

Psicólogos, pais, especialistas e deputados se reuniram na terça-feira, 23, para debater sobre assuntos relacionados a dislexia na Assembléia Legislativa do Estado. A dislexia é um distúrbio que afeta 12% da população mato-grossense, o que representa uma média de 360 mil pessoas e, apesar de ser mais comum do que se imagina, ainda é um tabu, pois muitos não conseguem um diagnóstico preciso e acabam sendo excluídos, principalmente na escola, por conta da dificuldade de aprendizado.

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O evento foi realizado pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura e Desporto, presidida pelo deputado Wilson Santos (PSDB).  A psicopedagoga Maria Masarela Marques dos Passos, pertencente ao grupo “Dislexia sem Fronteira MT”, foi a palestrante e falou sobre o que é a dislexia, como as pessoas com o distúrbio enfrentam o problema e como é possível tratar.  Ela destacou que a responsabilidade acaba recaindo a quem ensina, como os professores, porém pela falta de qualificação muitos acabam abandonando os estudos.

Masarela explicou que a dislexia é um distúrbio de desenvolvimento de origem neurobiológica, devido uma disfunção que ocorre no terceiro mês de gestação, mas a dificuldade e a demora no diagnóstico acaba causando transtornos tanto para o disléxico quanto para os familiares. Assim, o distúrbio não tem nenhuma relação com preguiça por parte da criança, uma simples falta de atenção ou ainda má alfabetização.Outro fato que vale a pena informar principalmente aos familiares, é de que o disléxico não tem problema mental, e geralmente possui um Quociente de Inteligência normal ou acima, como na maioria dos casos.  

Deste modo, a pessoa com dislexia pode ter uma vida normal e, para se ter uma ideia, basta saber que algumas personalidades que se destacaram eram ou são disléxicos, dentre eles, Pablo Picasso, Albert Einstein, George Washington, Steven Spielberg, John Lennon, Tom Cruise, Keanu Reeves, Dercy Gonçalves e muitos outros que se destacaram não apenas no mundo artístico, mas também empresarial, como o dono da rede McDonald's, Ray Kroc.

A palestrante ressaltou que, apesar de a dislexia ser normalmente notada na fase escolar, é possível perceber algumas características relacionadas ao distúrbio que aparecem antes da alfabetização, tais como: dificuldade de reconhecimento ao ser chamada pelos pais, demora para entender o que fala, o desenvolvimento motor é mais atrasado, não identifica as cores com facilidade, além de demorar mais para falar. Aliás a fonética é um dos problemas para o disléxico, por isso a importância do acompanhamento com um profissional de fonoaudiologia.

Entre as características elencadas por ela estão a dificuldades na expressão verbal como a leitura lenta, hesitante, esforçada, saltitante, inexpressiva, assim como na expressão escrita, com erros ortográficos, confunde e inventa palavras e a qualidade da caligrafia é irregular. Há ainda dificuldade ao nível da discriminação auditiva, comprometimento da consciência fonológica e da memória auditiva, problemas de coordenação motora, como confundir direita e esquerda. A falta de compreensão também acaba por gerar problemas comportamentais como a raiva, inveja, apatia e indiferença, oposição, hiperatividade, déficit de atenção e concentração.

Gabrielle Maria Coury de Andrade fez um depoimento emocionante durante a reunião. Ela é mãe de uma criança de 12 anos disléxica. Ela relatou o drama que passou até conseguir o diagnóstica para filha, que veio somente aos 9 anos e após passar por diversos profissionais como psicólogos, neurologistas, entre outros. Ela acabou sabendo através de uma amiga sobre a Associação Brasileira de Dislexia, em São Paulo, e foi até lá em busca de resposta.

Mesmo após o diagnóstico e com o laudo referente ao problema da filha, Gabrielle relatou a dificuldade que passou para encontrar uma escola que se adequasse e desse suporte educacional à jovem. Somente após tomar conhecimento do grupo Dislexia Sem Fronteira MT é que a filha conseguiu passar pelo tratamento adequado que envolve uma equipe multidisciplinar e, atualmente consegue ter uma vida normal na escola.

Estimulada pelo depoimento de Gabrielle, uma mulher identificada apenas como Priscila relatou seu problema. Em lágrimas, ela contou que foi tratada pela família como retardada e ela foi diagnostica com dislexia apenas aos 30 anos, porém, mesmo assim ainda enfrenta problema. Cursando a faculdade de Direito reprovou de três matérias, duas delas, pela segunda vez e encontra preconceito na universidade.

Rafael Paes de Barros foi outro participante que deu seu relato como disléxico e também é portador do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Atualmente, ele é estudante de Medicina, mas já se formou em Jornalismo. Ele contou das dificuldades enfrentadas na época da escola, mas destacou ao menos que teve apoio da família e conseguiu fazer o tratamento e segue com acompanhamento, porém, reforçou a importância do assunto ser tratado pelo Estado, para que possa oferecer apoio às famílias carentes.

“Quantas crianças são perdidas até para o crime por falta de apoio e conhecimento da própria família sobre este distúrbio. Perdemos futuros médicos, jornalistas, engenheiros, porque não se há um cuidado”. Gonçalina Almeida, superintendente de Diversidade da Secretaria de Estado de Educação, disse que o órgão deverá estar com um grupo de estudo formado nos próximos dias para debater justamente a educação especial e aperfeiçoar principalmente a política de qualificação dos profissionais.

A questão da falta de capacitação dos professores também foi debatida pelas representantes das Secretarias Municipais de Educação de Cuiabá e Várzea Grande, Mariaoneide Angélica Kliemaschewsk, e Gonçalina Rondon, respectivamente. O doutor na temática, Elias Alves, que defendeu a criação de políticas públicas específicas e a importância da interação entre os grupos e as secretarias de Educação para uma solução em comum.

O presidente do Conselho Estadual de Educação, Carlos Caetano, colocou o órgão à disposição para o debate, e inclusive promover o debate entre os profissionais da educação básica e profissional superior. De acordo com a Assembleia, participaram ainda da reunião o deputado Dr. Leonardo (PSD), que relatou que tem um filho com disgrafia, que é um distúrbio relacionado a dificuldade de aprendizagem relacionada à linguagem, e José Carlos do Pátio (SD).

Wilson Santos se comprometeu a criar um grupo de trabalho permanente com o envolvimento de todos os profissionais relacionados ao assunto que possam se reunir uma vez por mês. A ideia é encontrar soluções e uma delas poderá resultar em um projeto de lei que trate principalmente sobre a regulamentação de como se tratar a dislexia na escola, e também uma forma de compensação aos pais de crianças disléxicas.  
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