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"Puxei o cabelo dela, mas arrebentou na minha mão. Então consegui segurar pelo braço", conta taxista que evitou suicídio de estudante no Portão do Inferno

Da Redação - Patrícia Neves

"Quando eu percebi ela já estava debruçada na plataforma. Eu puxei cabelo dela, mas arrebentou na minha mão, era bem pouquinho. Na pressa, segurei no braço e puxei. Eu gritei: é tentativa de suicídio e os carros já foram parando e ajudaram". O relato emocionante é do taxista Rodrigo Flávio,35 anos, que salvou a vida da universitária Kedma Oliveira,23 anos, por volta das 15h da última quarta-feira, 3.

Chateada com uma situação familiar, a jovem saiu de casa deixando em rede social uma mensagem de adeus. Ela somente retornou para sua casa após quase 24 horas desaparecida, no final da tarde desta quinta, 4.

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Rodrigo, alheio aos acontecimentos em rede social (já que excluiu sua página no Facebook) e desconhecendo a mobilização na cidade na tentativa de localizar a jovem por parte de parentes e amigos, ele somente soube detalhes do que acontecia na noite de hoje, 4, após chegar à casa de sua mãe. "Eu fiquei muito emocionado ao saber", resume ao Olhar Direto.

Casado, pai de duas crianças, ele conta que jamais poderia imaginar que o contrato de serviço para a cidade de Chapada dos Guimarães, terminasse com uma ação de tamanha grandiosidade.

"Eu estava abastecendo no posto, na Estrada do Moinho, quando encostou um carro. De lá, o motorista me acenou e perguntou se eu estava livre. A moça veio depois e perguntou quanto era a corrida até Chapada. Falei que era R$ 300. Ela perguntou se eu faria por menos. Pensei: faço por R$ 250 e seguimos viagem", relatou. Ao Olhar Direto ele confirmou que a jovem estava acompanhada de um rapaz no posto,mas que após ela entrar no carro ele não foi mais visto.

No caminho, de poucas palavras, a garota chorou. Fato que chamou a atenção. "Mas eu segui o meu caminho. Meu trabalho é levar as pessoas onde pedem", disse.

Ao se aproximar das imediações do Portão do Inferno, um dos mais belos cartões postais do Parque Nacional de Chapada, a jovem pediu para que ele parasse. "Ela disse que tinha visto uns parentes ali. Eu ainda falei, assim: moça, o carro que estava ali já saiu. Ela me respondeu que não e desceu mesmo assim. Andei mais uns 150 metros, manobrei o carro e voltei lá. Fiquei pensando naquele lugar...Ela estava chorando... Quando vi já estava na plataforma olhando para baixo.  Segurei o cabelo e depois o braço, mas era pouquinho e arrebentou. Segurei o braço  e gritei pedindo ajuda".

Na sequência, diante do desespero da situação, ele recebeu ajuda de um desconhecido que parou o carro ao presenciar a situação. Atordoada, a estudante então aceitou sair daquele local e acompanhar o homem. “Ele disse que morava em Chapada e que iria ajudar. Eu deixei, mas segui ele até Chapada.  Na casa, ele colocou ela para deitar”.

Mesmo preocupado, Rodrigo contou que resolveu deixar a situação e dar continuidade a seu dia de trabalho. “Já era quase umas 16h e eu tinha de atender uma corrida”. Na sequência, seguiu mais um dia de labor.

“Eu somente soube do que havia acontecido na minha mãe, quando passei lá nessa noite. Se soubesse antes que estavam procurando a moça teria avisado à Polícia antes”.

Questionado se pretende encontrar com a família da jovem ele revela que vai telefonar para saber como ela está. “Quero saber se está tudo bem. A vida da gente é uma só. Não vale a pena perder, por nada. Rapaz a vida é única!", alerta.

Rodrigo é taxista em Cuiabá há cerca de um ano, após ter atuado por muito tempo como motorista de caminhão.

O caso do desaparecimento da jovem ganhou repercussão depois da postagem de uma carta onde ela enfatizou sua tristeza decorrente de uma situação famiilar. Mãe de uma criança com menos de um ano ela chegou a relatar que sentia muito por não presenciar o aniversário da filha.

Na postagem, ela pede desculpa para os país e conversa diretamente com a sua mãe, lamentando não poder estar no aniversário da filha: “Mamãe, eu não queria fazer isso, mas tá doendo muito. Eu não sei lidar com isso. Tá doendo muito. Eu não entendo o que eu fiz de tão grave (...) Mamãe, tá doendo mais saber que não vou estar presente no primeiro aniversário da Yasmin. Aniversário que eu sonhei tanto em fazer. Só diga a minha filha todos os dias que eu amo ela, que ela não tem culpa de nada. Ela foi a melhor coisa que me aconteceu”.
 
“Mamãe, eu [estou] decepcionada comigo. Nunca imaginei poder fazer uma coisa dessas. Mas mãe, é mais forte que eu. (...) Sabe mamãe, o que me faz tomar essa decisão é que talvez eu veja novamente minha outra filha, a Alice. Nossa, só Deus sabe o quanto sinto a data dela. Ah queria tanto terminar minha faculdade, dar esse orgulho pra senhora e para o Papai. Me perdoe”, finalizou.

Com o sumiço, amigos e a polícia passaram a fazer buscas pela jovem que retornou sem ferimentos para casa na fim da tarde.
 
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