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Recuo de Blairo Maggi atinge pelo menos 50 candidaturas e deixa órfãos em outros estados

Da Reportagem Local - Ronaldo Pacheco

O semblante apreensivo, as mãos suadas e o olhar quase de desespero do deputado estadual Wagner Ramos (PSD) ilustra bem a incredulidade da legião de órfãos deixadas pelo ministro da Agricultura e Pecuária, senador Blairo Maggi (PP), com a sua desistência de disputar a reeleição para o Senado da República por Mato Grosso, em 2018. “Não existe outro igual. Pergunte por aí, para qualquer um. Para mim e meu grupo, vai fazer uma falta inestimável. Sou leal e vou respeitar sua decisão”, disparou Ramos, enquanto enxugava seguidamente o suor da testa e procurava aparecer na foto, ao lado do seu líder.   
  
Assim como Wagner Ramos, muitos são tratados como “órfãos de Maggi”. E alguns são figurões da vida pública mato-grossene, como o ex-prefeito Mauro Mendes, de Cuiabá; o secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller; os deputados federais Adilton Sachetti e Ezequiel Fonseca; os estaduais Baiano Filho, Oscar Bezerra e Ondanir Bortolini; os vereadores Paulo Araújo, Luís Cláudio Sodré, Diego Guimarães, Vinícius Correa Hugueney e Demilson Nogueira, que nos bastidores passaram a receber o tratamento como “órfãos de Maggi”.  

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A saída do “pai de todos”, como Maggi era chamado em alguns dos mais respeitados ambientes políticos de Mato Grosso, deixa à beira do desamparo dezenas de candidatos a cargos majoritários e proporcionais. O senador José Aparecido Cidinho Santos (PR) projetou em “mais de 50” os diretamente prejudicados com a desistência de Maggi. Ele não quis citar nomes “por questão de respeito aos companheiros”.
  
Já o presidente da Associação Mato-Grossense dos Municípios (AMM), ex-prefeito Neurilan Fraga, tem uma estimativa de que supera facilmente a 80 os candidatos que teriam algum tipo de auxílio de Maggi. Mesmo que fosse uma simples gravação de 30 segundos para o horário eleitoral gratuito do rádio e da TV, pedindo votos para o “candidato tal”, com o “número tal”.
 
“Mato Grosso sai perdendo. E o Brasil, também, porque ele é nome nacional. Ninguém é insubstituível, mas para muitos a perda é mesmo irreparável”, pontuou Neurilan, que possui um bom diálogo com o ministro da Agricultura.
 
Blairo Maggi tem fama de "pão duro", construída desde os tempos em que era o manda-chuva do Grupo André Maggi. Todavia, também, desde 2002, quando disputou e venceu a briga pelo governo estadual, é considerado bom em socorrer a amigos com “estrutura de campanha”. Traduzindo em português de período eleitoral: ajuda os candidatos aliados com combustível, gasolina, material gráfico, marketing e alguns – poucos, é verdade – até com dinheiro.
  
Não é à toa que, na sua despedida, no auditório da AMM, haviam parlamentares, líderes e dirigentes do PP, PSD, PSDB, PTB, DEM, PSB e PPS, entre outros. “Vamos continuar o projeto político-partidário, mas, sem dúvida, a perda é gigantesca e dolorosa. Existia a certeza de o PP conquisar uma cadeira no Senado”, citou o vereador Paulo Araújo.  
 
Fora de Mato Grosso
 
O prestígio do ministro da Agricultura e Pecuária transcendeu às divisas do seu Estado. Muita gente de fora de Mato Grosso também contava com apoio de Blairo Maggi.
 
Pré-candidata a governadora do Paraná, a vice-goverandora Cida Borgethi (PP), chegou a alardear em prosa e verso que teria Maggi e 80% do agronegócio em seu palanque. Ela é esposa do ministro da Saúde, deputado paranaense Ricardo Barros (PP), amigo de Blairo.
 
Dos 16 deputados federais do Pará, pelo menos três possuem fortes ligações com a agropecuária e davam como certo o apoio de Maggi. E, dos 17 deputados de Goiás, cinco imaginavam ter Blairo como um dos colaboradores de maior relevância.
 
A decisão do deputado goiano Roberto Balestra (PP) é contada quase como folclore nos bastidores políticos. Balestra teria recusado convide do senador Ronaldo Caiado (DEM), supostamente com direito a alguma estrutura, para permanecer no Partido Progressista e imaginariamente ter acesso ao eventual apoio ‘estrutural’ de Maggi.
 
É improvável que o compromisso de ajudar amigos financeiramente ou com estrutura durante as campanhas eleitorais tenha influenciado a decisão de Maggi. Contudo, é inegável que pode ter contribuído sim para ele ter ficado de ‘saco cheio’, em especial pela forma como vem via de regra a pressão dos candidatos que buscam o seu apoio. 
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