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Suicídio de enfermeira acende alerta sobre índices de depressão na categoria e condições de trabalho

Da Redação - Isabela Mercuri

O suicídio da enfermeira Anna Angélica Dorileo, no último sábado (23), acendeu um debate sobre os altos índices de depressão entre profissionais da área. O Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren/MT) publicou, na manhã deste domingo (24), nota de pesar, e grande parte dos comentários eram de pessoas cobrando fiscalizações e estudos psicológicos sobre os profissionais.

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“Acho que já passou da hora do Coren do Cofen, realizarem fiscalizações, estudos psicológicos e agirem para prevenir!!!!! Já está virando rotina isso, praticamente uma epidemia. Quantos mais vão precisar morrer???”, questionou uma mulher na publicação. “É uma pena que o Coren só lembre das pessoas quando acontece essa fatalidade!”, afirmou outro colega de trabalho. 

Em janeiro de 2019, em Campo Grande, um caso semelhante aconteceu e trouxe o debate à tona. A enfermeira Janaína Silva e Souza, de 39 anos, foi encontrada morta e à época o Conselho Federal de Enfermagem publicou uma notícia chamando atenção para o caso. O presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Mato Grosso do Sul (Coren-MS), Sebastião Duarte, afirmou que o ocorrido com Janaína não é um caso isolado. “A profissão lida com pacientes em situação de dor e sofrimento, de morte, e isso abala também o emocional do profissional. Motivo pelo qual a gente tem pedido carga horária mais justa”.

A carga horária é um dos pontos de queixa da categoria. Um Projeto de Lei que visa diminuir a jornada de trabalho de 44 para 30 horas semanais aguarda desde 1999 para ser votado no Congresso Nacional. Os profissionais também lutam para estabelecer um piso salarial.

Rosa Godoy, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN), também afirmou, à época do ocorrido com Janaína, que os profissionais de enfermagem ficam ao lado dos pacientes a maior parte do tempo, atentos às necessidades deles, mas a profissão não é valorizada, principalmente quando comparada à medicina. “Os profissionais em geral sabem a hora que entram, mas não sabem a hora que saem. Se o plantão tiver apertado e o colega seguinte atrasou, ou não veio por outra questão, não é incomum dobrar o plantão. Por conta também dos baixos salários, muitas vezes, para sobreviver, o profissional tem que ter dois ou três empregos”, disse. 

Seis meses antes, em junho de 2018, a ‘Ordem dos Enfermeiros’ fez um alerta ao Ministério da Saúde sobre os altos casos de suicídio. Só naquele primeiro semestre, quatro profissionais da área já haviam tirado a própria vida.

Um estudo publicado pela Universidade do Minho em 2016 mostrou que um em cada cinco enfermeiros de Portugal apresentavam exaustão física e emocional, o chamado ‘burnout’, o que mostra que o problema não é específico do Brasil.

Em Mato Grosso do Sul, os profissionais chegaram a organizar um protesto no domingo, dia 27 de janeiro, na Praça do Rádio, pedindo melhores condições de trabalho. Neste domingo (24), os profissionais de Mato Grosso demonstraram a revolta por meio dos comentários na Nota de Pesar do Coren/MT.

“A enfermagem está doente, mas ninguém vê, porque não interessa as instituições! Somos substituíveis! Quando gritamos 30 horas já, é por esses motivos! Precisamos de 2 ou 3 serviços pra sustentar a família, porque entre atrasos de salário um cobre o outro! Piso salarial defasado; Sem compreensão, sem válvulas de escape, porque também existem os problemas pessoais! Trabalhamos com amor, respeito, técnica e ciência, mais falta o reconhecimento da empresa. Agora não teremos mais seguridade na empresa, porque querem prestadores! Lugares insalubres, não querem pagar insalubridade, e centro cirúrgico de 12h. Não concordo, pois é corrido, você não bebe água, não senta, e agora a empresa se quiser, estipula qual seu tempo de repouso! É pra acabar! Deixa uma consulta passar sem cobrar, o médico come seu fígado! Então, comparação: podemos ficar com salário baixo, sem reajuste, ter 3 empregos e sorrir! Certo, eu escolhi, mas Conselho, cobrar é bom, e vigiar? Faz uma merda pra ver, se não caem matando! Oro por vocês, profissionais que se enganjam nessa profissão! Deus abençoe e proteja, porque somos meros instrumentos...”, indignou-se um internauta ao responder a nota de pesar do conselho. 

Leia abaixo a nota de pesar do Coren-MT:

NOTA DE PESAR

O Coren-MT vem a público demonstrar seu pesar pelo falecimento da enfermeira Anna Angélica Dorileo, ocorrido neste sábado (23). Ela atuava no Pronto Socorro Municipal de Cuiabá. 

O Coren-MT estende suas condolências à família enlutada e a todos os colegas profissionais de enfermagem pela perda de mais uma grande profissional.
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