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Parada desde 2014 e com risco de ser descartada, obra do VLT ainda causa transtorno aos comerciantes

Da Redação - José Lucas Salvani

Com obras paralisadas desde dezembro de 2014, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ainda causa transtornos aos comerciantes de Cuiabá e Várzea Grande. E a verdadeira cicatriz aberta nas duas principais cidades do Estado pode ter sido um longo e inútil transtorno para quem há anos sofre prejuízos com a obra do modal. Nos últimos dias, o governdador Mauro Mendes (DEM) afirmou que a troca do VLT pelo BRT (faixas exclúsivas para ônibus) é uma alternativa estudada para a resolução do problema. 

“Você sabe por que nós ainda estamos aqui? Porque o prédio é nosso. Se nós pagássemos aluguel, nós não estaríamos aqui na avenida. Aqui morreu, acabou”, desabafa Zilda Pereira, comerciante de auto-peças na Avenida da Feb, em Várzea Grande, há 33 anos.

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Zilda conta ao Olhar Direto que o número de fregueses diminuiu bastante por conta dos retornos serem muito distantes, o que faz com que muitos clientes novos que não encontram o estabelecimento decidam ir em outro lugar, além da falta de estacionamento. Ela explica que tinha um estacionamento próprio, mas devido a expansão da via perdeu grande parte dele, tendo que substituir por uma calçada.

Em entrevista ao Olhar Direto, Carolina Carlos Castro, 23 anos, relembra a época em que as obras se iniciaram. “A nossa empresa foi uma das poucas que conseguiu sobreviver. Foi horrível comercialmente. Muitas empresas, como você pode ver, fecharam. Eles encheram de terra tudo e não tinha onde o cliente parar ou até mesmo vir até nossa empresa”, conta.

Eduardo Paulo de Arruda, 56 anos, também conta que na época seu comércio foi muito prejudicado por conta do rodízio de vias, em que uma ficava interditada para obras por uma semana, funcionando somente uma delas. Eduardo conta que só não saiu da avenida da FEB por falta de condições.

“Uma obra dessa iria mudar tanto Várzea Grande quanto Cuiabá. Seria um cartão de visitas para nós. Realmente, a gente fica frustrado em ver muito dinheiro público que foi investido. Quem está pagando tudo isso somos nós contribuintes e falar que simplesmente não dá e acabou? E o dinheiro que foi gasto? O que vai fazer?”, questiona Eduardo quanto ao futuro incerto do VLT.

Mesmo com as obras paralisadas, Carolina conta que o comércio ainda sente os efeitos negativos. “Temos muitos anos de mercado, então a gente tem clientes fixos. Novos clientes? Perdemos”, explica. A mudança de local também foi cogitada, mas o receio de perder os clientes conquistados fala mais alto.

Obras paradas

O VLT foi apresentado pelo Governador Silval Barbosa e deputados como “um avanço” para o Estado, além de ser uma das melhorias à região por conta da Copa do Mundo- Cuiabá foi uma das sedes. A obra teve início em junho 2012 e está paralisada desde dezembro de 2014. O Governo já gastou R$ 1,066 bilhão na construção.

A obra foi paralisada em meio às suspeitas de corrupção que foram confirmadas com os depoimentos da delação premiada de Silval com a operação Descarrilho, deflagrada pela Polícia Federal em agosto de 2017. Barbosa afirmou que seu grupo político fez um acordo para receber R$ 18 milhões de propina do grupo CR Almeida, que integrava o Consórcio da obra.

Atualmente, o Governo de Mato Grosso disse estar aberto a encontrar um parceiro do setor privado que pode dar continuidade às obras e a empresa espanhola Acciona Construcción S.A. já encaminhou uma proposta de estudo. A proposta já está sendo avaliada pela equipe técnica do Governo.

Subsídio de R$ 80 milhões

Para subsidiar a passagem do VLT, o Governador Mauro Mendes afirmou em entrevista à TV Vila Real na última segunda-feira (15) que o Estado teria que desembolsar até R$ 80 milhões por ano. O governador ainda alega que há imbróglio jurídico para a finalização da obra, sendo mais viável convertê-la para outro modal. Para sua finalização será necessário quase R$ 1 bilhão.

O deputado Wilson Santos (PSDB), por outro lado, afirma que Mato Grosso tem R$ 193 milhões em caixa para serem usados exclusivamente na construção do modal. O parlamentar sugeriu que o governador “administre sua angústia” e cumpra com prazo de um ano, estipulado durante a campanha, para voltar a tratar publicamente do assunto.
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