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Notícias / Ciência & Saúde

Nova espécie de macaco é descoberta na divisa entre Mato Grosso e Rondônia

da Redação - Isabela Mercuri

O pesquisador Almério Câmara Gusmão, aluno de doutorado da Universidade do Estado de Mato Grosso no programa em Rede em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Bionorte), é o principal autor de um artigo em que é relatada a descoberta de uma nova espécie de macaco na divisa  entre Mato Grosso e Rondônia: a Plecturocebus parecis, também conhecida regionalmente por zogue-zogue e apelidada pelos pesquisadores como zogue-zogue dos Parecis ou zogue-zogue-de-barba-branca.

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O macaco vive em parte da Chapada dos Parecis, nos estados de Mato Grosso e Rondônia, e é a única espécie que possui uma barba marcantemente esbranquiçada. Sua descoberta foi publicada em uma das mais importantes revistas internacionais, a Primate Conservation.
 
Segundo Almério, a nova espécie foi descrita após um grande esforço de um grupo de 15 pesquisadores de nove instituições: Unemat, Universidade Federal de Rondônia, Universidade Federal do Pará, Instituto Pró-Carnívoro, Universidade Federal do Acre, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Universidade Federal de Sergipe, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e Global Wildlife Conservation, Stony Brook University.
 
Após a descoberta da nova espécie, os pesquisadores fizeram uma revisão da literatura cientifica histórica, e perceberam que o único breve relato sobre populações de zogue-zogue foi feita pelo naturalista Alipio de Miranda Ribeiro, da Comissão das linhas telegráficas de Rondon, publicado em seu livro em 1914.
           
Na obra de Alipio existe um relato muito resumido de dois espécimes coletados na cabeceira do rio Ji-Paraná, que aparentemente se tratava do zogue-zogue dos Parecis. Segundo ele (1914), aqueles espécimes foram provisoriamente identificados como Plecturocebus [Callicebus] cinerascens. “Durante um século esse macaquinho ficou esquecido, quando em 2011 foi reencontrado na natureza, entre os estados de Rondônia e Mato Grosso, município de Vilhena, RO”, afirma o doutorando da Unemat.
 
De acordo com a assessoria da universidade, ainda em 2011, pesquisas sobre o desmatamento na região do rio Comemoração resultaram na coleta de quatro espécimes, o que possibilitou análises minuciosas da anatomia e genética dos animais. Durante esse período de investigação, novos registros de P. parecis foram obtidos na região de Juína, Aripuanã, MT, e no Parque Nacional Juruena, adicionando-os ao estudo. “Ao todo foram mais de 50 variáveis investigadas. Um pouco mais que aquelas utilizadas nas ultimas descrições de novas espécies de zogue-zogue. A partir dessas investigações foi possível aceitar a nossa hipótese de espécie nova e então descrevê-la cientificamente”, esclarece o pesquisador.
 
O padrão de cores da nova espécie foi o que chamou a atenção dos pesquisadores durante a observação, pois o zogue-zogue dos Parecis tem uma barba marcadamente branca, além das costas vermelhas, mãos e pés cinza-esbranquiçados e a ponta da cauda também cinza-esbranquiçada.
 
Ameaça de extinção
 

Mesmo com a recente descoberta, o zogue-zogue já corre o risco de desaparecer, pois que foi encontrado em uma região de intenso desmatamento, conhecido como "Arco do Desmatamento da Amazônia brasileira".
 
Por este motivo, agora os pesquisadores querem assegurar que a espécie seja incluída nas listas de espécies ameaçadas de extinção como quase ameaçada da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
 
Segundo Gusmão, ainda existem muitas lacunas no conhecimento da nova espécie, pois é necessária melhor compreensão da distribuição geográfica e ecologia, por exemplo. Esses estudos já estão em andamento dentro do grupo de pesquisadores que descreveram a nova espécie.  Mesmo assim, o pesquisador lembra que o fato da nova espécie ter sido descrita cientificamente é essencial. “É a partir da descrição da espécie que se garante a existência científica da espécie, permitindo, portanto, políticas de conservação possam ser realizadas especificamente para a espécie. Principalmente porque sua distribuição geográfica coincide com o Arco do Desmatamento da Amazônia”, finaliza.
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