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"É impactante que com Covid-19, Bolsonaro se preocupe em conservar família e apaniguados", diz deputada

Da Redação - Wesley Santiago

A deputada federal, Rosa Neide (PT), criticou duramente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após o discurso feito pelo agora ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, que pediu demissão nesta sexta-feira (24), após discordar do que chamou de interferência política na troca do comando da Polícia Federal. Para a parlamentar, é impactante que, no meio de uma pandemia do coronavírus, Bolsonaro se preocupe apenas em “conservar sua família, seu apaniguados e os que se juntaram a ele”.

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Rosa Neide pontuou ao Olhar Direto que, para o Partido dos Trabalhadores (PT), não é uma surpresa as atitudes descritas pelo ex-ministro. “Sabemos que Bolsonaro sempre trabalhou assim, no período eleitoral foi a mesma coisa e logo que assumiu, existiram tratativas escusas junto às instituições. Nunca foi um deputado que respeitou a democracia, como presidente, segue do mesmo jeito”.
 
“Fico impactada que num momento de dor, a gente vê o presidente sem a menor preocupação com o povo brasileiro e preocupado apenas em conservar sua família, seus apaniguados, os que se juntaram a ele. Não está preocupado com a pandemia, com quem está morrendo”, disparou a parlamentar.
 
A deputada também criticou a demora de Sérgio Moro para quebrar o silêncio sobre as atitudes de Bolsonaro. “Ele estava vendo tudo o que o governo fazia. Agora, que foi para dentro da Polícia Federal, acabou dizendo. Pelo que parece, não foi tudo, porque ele mesmo disse que não falaria mais porque ia respeitar que ainda estava dentro do ministério. Deveria ter criticado quando o presidente estava em frente de quartel pedindo para o povo desrespeitar a quarentena e apoiando o AI5”.
 
“É uma interferência direta, algo que nunca aconteceu. Um presidente da República manipular alguém da PF para interferir em investigações. Vivemos um momento muito difícil economicamente, socialmente, nunca juntamos tanta coisa em uma crise só. Estamos em chamamento, reunião das bancadas, para avaliar a situação, pensando no povo, como que vamos unir forças”, acrescentou a deputada.
 
Segundo a parlamentar, os advogados das bancadas estão avaliando todas as falas do ministro. A expectativa é que, até o fim da tarde, após várias reuniões com lideranças políticas, orientações sejam passadas. “Gostaria de um país melhor, em que o governo estivesse acertando. Meu temor é ter um país descarrilhado”.

Saída de Moro

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, anunciou o seu pedido de demissão do governo Jair Bolsonaro (sem partido), na manhã desta sexta-feira (24). Em seu forte pronunciamento, ele pontuou que a mudança na chefia da Polícia Federal foi uma interferência política, confirmada pelo próprio chefe de Estado; elogiou os governos do PT e PMDB, que não interferiram nas investigações, como foi o caso da Lava Jato e disse ter ficado sabendo da troca apenas durante esta madrugada.

Segundo moro, desde o fim do ano passado, houve uma pressão do presidente Jair Bolsonaro em fazer trocas nas equipes da Polícia Federal. "Não havia nenhum motivo. No caso do Rio de Janeiro, ele quem queria sair do cargo, portanto nós concordamos na promoção da troca, com substituição técnica, indicada pela polícia. A única pessoa que eu indiquei, foi o Valeixo, não é meu papel nomear superintendentes".

"Eu sempre disse ao presidente que não tinha problema em trocar o diretor-geral da Polícia Federal, mas preciso de uma causa, um erro grave. No entanto, o que eu vi, é que ele estava fazendo um trabalho bem feito", explicou Moro. Ele ainda acrescentou que "uma troca destas, seria uma violação da promessa de carta branca. Isso deixa claro que houve uma interferência política dentro da instituição, o que abala um pouco a minha imagem, mas também da governo".

O ministro ainda continuou pontuando que "isso não aconteceu durante a Lava Jato (nos governo do PT e PMDB), a despeito de todos problemas de corrupção que houve". Moro ainda disse que havia a intenção do presidente em trocar outros superintendentes, como no Rio de Janeiro e Pernambuco, sem que fosse apresentada uma causa. 

Moro fez uma comparação da situação com o período em que conduziu os processos da Operação Lava Jato como juiz: "Imaginem se durante a própria Lava Jato, ministro, diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, o ex-presidente, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?", questionou.

"Na quinta-feira (23), houve esta insistência, eu disse que seria uma interferência política e ele confirmou isto. Para evitar uma crise, durante uma pandemia, sugeri um nome, mas não obtive resposta. Não sei qual será a escolha, foi ventilado o nome de um delegado que passou mais tempo no congresso do que na ativa", continuou o ministro.

Moro revelou que, após pressões para que saisse, Maurício Aleixo disse que seria melhor ele sair para que fosse realizada uma substituição adequada. "Nunca voluntariamente, mas decorrente de uma pressão".

"Fiquei sabendo da demissão durante a madrugada e não assinei este decreto. Em nenhum momento houve pedido formal de exoneração. Depois, me comunicou que, ontem a noite, recebeu uma ligação de que sairia como exoneração a pedido e se ele concordava. Falou: 'vou fazer o que?'. Fui surpreendido, achei que isto foi ofensivo. A Secom afirmou que sim, mas isso não é verdadeiro", acrescentou.

Moro explicou que esta atitude seria uma forma de Bolsonaro o ver fora do cargo e comentou que existiram outras divergências entre os dois, mas que foram sempre resolvidas. 
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