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Hemocentro sofre queda de mais de 30% em doações na pandemia e diretora comemora autorização para gays: 'grande evolução'

Da Redação - Isabela Mercuri

Em meio à pandemia do novo coronavírus, com os bancos de sangue de todo o Brasil sofrendo quedas nos estoques, o Supremo Tribunal Federal decidiu que era inconstitucional a portaria da Anvisa que proibia a doação por homens gays. Para a diretora do MT Hemocentro, Gian Carla Zanela, 49, esta será uma grande evolução, e, inclusive, já foram percebidas mudanças no número de doadores – que, desde março, caíram 31,81% em relação ao mesmo período de 2019.

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“Eu acho que nesse momento toda ajuda é fundamental. Eu penso que vai auxiliar, vai aumentar o numero de pessoas doando sangue não só agora, mas que vão ser doadores fieis”, disse ao Olhar Direto. “Penso que vai ser uma grande evolução. A gente espera que a comunidade venha aos bancos de sangue e façam a doação. Nós já tivemos uma campanha, inclusive, do dia 22 ao dia 26, em que um grupo nos procurou para vir fazer as doações”.


Gian Carla (Foto: Reprodução / SES MT) 

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) aconteceu no mês de maio. Somente na última quarta-feira (8), no entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revogou a portaria, e o ato foi publicado no Diário Oficial da União. Gian Carla explica que desde então o MT Hemocentro tem entrado em contato com representatividades da comunidade LGBTQIA+ para organizarem ums frente de trabalho juntos. 
 
A justificativa da Anvisa para proibir a doação de sangue por homens que tiveram relações sexuais com outros homens nos últimos doze meses, anteriormente, era de que eles faziam parte de um ‘grupo de risco’ para doenças sexualmente transmissíveis. O conceito, no entanto, é obsoleto. Segundo Gian Carla, o ideal é se falar em comportamento de risco.
 
A Pesquisa Mosaico 2.0, divulgada em 2019, por exemplo, comandada pela especialista Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo, e financiada pela farmacêutica Pfizer, mostrou que homens gays e bissexuais são ‘campeões’ no uso de camisinha. A porcentagem dos que não usam, entre os heterossexuais, é de 37%, contra 19% entre homossexuais e 11% entre bissexuais.

Infográfico divulgado pela Folha de SP 

A discussão a respeito da revogação da portaria estava em pauta no STF desde 2017, mas só foi julgada em 2020. Com este novo entendimento, todas as pessoas, independente de orientação sexual, continuam passando pela bateria de exames para identificar se estão aptas à doação. “Tecnicamente falando, houve uma evolução muito grande de exames, e todas as pessoas que fazem a doação passam pela mesma bateria”, explica Gian Carla.
 
Pede socorro
 
A mudança na legislação veio em um momento em que os hemocentros de todo o Brasil passam por dificuldades. Segundo dados informados pela diretora, que é também farmacêutica, bioquímica e bacharel em direito, de março a junho de 2020 houve uma queda de 31,81% no número de candidatos a doadores, em relação ao mesmo período de 2019, ou seja, 2234 candidatos a menos.
 
Em números absolutos, os candidatos nestes quatro meses, em 2018, foram 6644; em 2019, 7021; e em 2020, apenas 4787. A demanda pelo sangue, no entanto, não caiu na mesma velocidade. “O impacto da pandemia está sendo violento, muito preocupante. O nosso estoque mínimo está abaixo daquilo que nós esperamos ter para manter a regularidade da entrega do sangue, e o sangue não tem um substituto. Pra eu ter o sangue, eu preciso que o doador venha”, lamenta a diretora.

Foto: Secom / SES
 
Apesar de as cirurgias eletivas terem sido adiadas, Gian Carla lembra que os pacientes hematológicos e oncológicos continuam precisando de doações, assim como aqueles que têm dengue hemorrágica e precisam de plaquetas (que, além de tudo, só têm validade de cinco dias). “O interessante é que, para uma pessoa de 60 kg, por exemplo, é preciso coletar bolsa de sangue de seis doadores pra eu conseguir suprir a necessidade de plaquetas”, explica.
 
Os motivos para esta queda nas doações são muitos, desde o medo de sair de casa e se contaminar com o novo coronavírus, até o adoecimento dos doadores. Gian Carla, no entanto, tranquiliza os doadores, e explica que o Hemocentro só está atendendo por agendamento, e seguindo todos os protocolos da Organização Mundial da Saúde, como a utilização de tapete para higienização dos pés, triagem com aferição da temperatura, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e desinfecção dos espaços.
 
Outra preocupação está no fato de que, como o hemocentro é a retaguarda hemoterápica dos 141 municípios do estado, há muita demanda do interior. “Esta queda de 2234 candidatos a doadores foi só aqui no Hemocentro, sem contar toda a hemorede. Houve uma diminuição também em todos eles, e quando diminui a coleta no interior, eles pedem pra nós”, lamenta. No total, houve queda de 50% na coleta de sangue em todo o Mato Grosso.
 
Serviço
 
Quem quiser doar sangue pode fazer o agendamento pelo 3623-0044 ou pelo (65) 98433-0624 (também é WhatsApp). O horário é das 7h30 às 17h30, sem pausa para horário de almoço.
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