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Pantanal teve mais focos de calor em um mês do que durante todo ano de 2019

Da Redação - Fabiana Mendes

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que somente neste mês de agosto, o Pantanal mato-grossense registrou 5.935 focos de calor. Por pouco este número não é o maior da história registrado em um agosto, só perdendo para 2005, quando ocorreram 5.993 focos.

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Em comparação com 2019, a situação é ainda mais crítica, pois foram registrados 1.690 focos, número 351% menor. O acumulado nos 8 primeiros meses deste ano está em 10.153, contra 10.025 durante todo o ano passado.   

A área queimada também já tomou proporções gigantescas. Somente em agosto foram mais de 1 milhão de hectares queimados conforme dados do INPE, ou seja, no último mês queimou mais que a metade de todo o ano, que soma 1.864.600 de hectares do Pantanal afetados pelo fogo. 

Na década de 1960 houve uma grande seca no Pantanal, que durou alguns anos. A pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU) Cátia Nunes da Cunha, que cresceu na cidade pantaneira de Poconé e sempre visitava a fazenda do avô durante as férias escolares, ainda era criança, mas lembra que foi uma época terrível. "Ouvia conversas dos adultos dizendo que era o fim do mundo", recorda. 


 
Agora a pragmática lembrança volta a se tornar realidade. "Vi animais sofrendo, queimando, ninhos destruídos, floresta e vegetação pegando fogo, anos de investimentos em conhecimento voltou para a estaca zero. Também vi uma tremenda luta dos fazendeiros para que suas moradias não fossem queimadas, estavam apavorados com medo de que o fogo entrasse nas dependências. A força do vento fazia com que as chamas tomassem uma dimensão inimaginável, verdadeiras cenas pirotécnicas, faíscas voavam a longas distâncias e começando outros focos. Essas cenas me chocaram muito". 
 
Relembrando o passado, ela percorreu a região da Transpantaneira no Pantanal mato-grossense durante quatro dias há cerca de duas semanas.  Cátia conta que muitos locais da região estão bastante afetados pela seca. "Estudo o bioma desde a década de 80, lugares que eu nunca havia visto seco agora estão sem água nenhuma. A preocupação que eu tenho é que acontecer isso novamente nos próximos anos ou este é um ano atípico", avalia. 

O tempo seco ainda deve continuar, já que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não prevê chuva na região para os próximos dias e a temperatura pode ultrapassar 40ºC. Em algumas áreas a umidade pode ficar abaixo de 12% nessa primeira semana de setembro.   

Combate  

Atualmente, 80% dos focos de incêndio no Pantanal Sul-mato-grossense se concentram nos municípios de Corumbá e Porto Murtinho. A Terra Indígena Kadiwéu localizada nesses municípios, foi gravemente afetada. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da UFRJ, o fogo atingiu 24% desse território até o dia 27 de agosto.  
 
Já Corumbá segue como o município com mais focos do país, com 4.394 focos durante todo o ano. No entanto, a chuva que caiu na terceira semana de agosto deu uma amenizada no fogo que acometia essa região. 

Por este fato, até o dia 27 de agosto, os esforços para combate ao fogo estavam concentrados em Mato Grosso, onde a situação era mais crítica devido à falta de chuvas. No entanto, o dia 29 de agosto foi preocupante para todas as áreas do bioma, já que ocorreram 760 focos de incêndio e no dia 31 de agosto ocorreram 408. 
 
Uma operação para combater o fogo no bioma foi denominada Pantanal II. É conjunta entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, começou no início de agosto e conta com mais de 400 pessoas. 

Boletim Radar do Fogo 

Este é primeiro boletim sobre a situação do fogo no Pantanal produzido pela Wetlands International. Serão publicadas informações atualizadas periodicamente sobre os números do fogo no Pantanal.

A Wetlands International Brasil desenvolve no Pantanal ações direcionadas para a conservação do ecossistema e incentiva o manejo sustentável pelas comunidades.
 
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