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De aliados a inimigos: relembre os caminhos que conduziram Emanuel e Abílio a este 2º turno marcado por ataques

Da Redação - Isabela Mercuri

No site oficial do vereador Abílio Junior, do Podemos, a primeira matéria publicada é de 19 de julho de 2017, seis meses após sua posse na Câmara de Vereadores. O texto revela que Abilinho, como era conhecido, pediu para que fossem retirados seus cargos e indicações a pastas da Prefeitura de Cuiabá. Antes de virar rival ferrenho, o maior antagonista da atual gestão era aliado e, inclusive, ajudou o atual prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), a se eleger em 2016. Os encontros e desencontros dos dois traçaram a história que conduziu Cuiabá a este segundo turno de 2020, em uma campanha de animosidade, polarização, ataques e nervos à flor da pele.

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Apesar de estar atualmente no Podemos, Abílio foi eleito pelo Partido Social Cristão (PSC), sigla que estava no arco de aliança de Emanuel Pinheiro, junto a PTB, PP, PSC, PMB, PR, PROS, SD, PPL, PTdoB, PRP e PTC, em 2016. Antes disso, nunca tinha participado de nenhuma eleição. Arquiteto, urbanista e apresentador de rádio, ele é evangélico e conhecido pelos fiéis da igreja Assembleia de Deus, onde seu avô, Sebastião, era pastor.

Posse na Câmara de Vereadores (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

O rompimento com Emanuel veio quando o prefeito não aceitou nomear indicados pelo vereador para cargos na Prefeitura de Cuiabá. A situação foi, inclusive, filmada pelo próprio parlamentar e publicada em suas redes sociais. “O prefeito cedeu para a gente desde o início do nosso mandato dois cargos de pessoas para atuar na Prefeitura de Cuiabá. E nós deixamos depois uma sequência de currículos aqui, que era para ser atendido de forma até progressiva, que era aquilo que tínhamos conversado, porém a minha postura dentro da Câmara de Cuiabá acabou não agradando o Executivo, e provavelmente colocado em dúvida minha posição se base ou não”.




Emanuel, quando ainda era deputado, ao lado do então governador Silval Barbosa (Foto: Assessoria)

O prefeito, após as acusações, ficou em silêncio. Manteve o argumento de que o processo estava em segredo de justiça e não explicou o caso em detalhes até o início da campanha pela reeleição. Enquanto isso, Abílio tentava se firmar, cada vez mais, como o antagonista da atual gestão, e incorporou o papel de “fiscalizador” do Executivo, utilizando-se das redes sociais, voz alta e cenas cinematográficas tanto quanto fosse necessário.
 
Em 2018, Abílio foi quem propôs a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a gestão da Secretaria Municipal de Saúde. Antes disso, ele já teria ido até a sede da Secretaria, de onde foi expulso, inclusive com a presença da Polícia Militar. Em setembro do mesmo ano, ele protocolou o pedido de cassação do então secretário de saúde Huark Douglas Correia.

Abílio na CPI da Saúde (Foto: Ednei Rosa)

O secretário foi preso em dezembro de 2018 pela Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz) em uma chácara na cidade de Santo Antônio do Leverger, após pedir exoneração do cargo, logo depois da deflagração da primeira fase da 'Operação Sangria'. A pasta foi assumida por Luiz Antônio Pôssas de Carvalho.

No final do ano de 2018, o vereador Abílio protagonizou mais uma das cenas memoráveis de seu mandato, na inauguração do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC). Na ocasião, ele   fez uma live em seu perfil do Facebook, e aos gritos de “farsa” e “ato ilegal” tumultuou o evento. Advertido de que não poderia entrar em um local restrito, o parlamentar começou a correr. Em certo momento ele se senta ao chão e se recusou a sair do local. A situação foi acompanhada pelos jornalistas.

Abílio sentou no chão na inauguração do HMC (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto) 

Na ocasião, Abílio alegou que estava sendo infringida a lei municipal 6.012 de 10 de dezembro 2015, que proíbe a inauguração e a entrega de obras públicas incompletas ou que, apesar de concluídas, não estejam em condições de atender a população.
 
No ano seguinte, 2019, o novo secretário de saúde, Antônio Pôssas de Carvalho, também protagonizou um embate com Abílio, quando o processou por calúnia, injúria e difamação. Ele pediu uma indenização por ter sido acusado de ter cometido tráfico de influência e de agir em favor de uma empresa que presta serviços farmacêuticos a prefeitura de Cuiabá. Durante uma sessão ocorrida no mês de fevereiro de 2019, Abílio disse que existe um conflito de interesses envolvendo o secretário, seu escritório de advocacia e a empresa AFIP, prestadora de serviços laboratoriais para a secretaria de Saúde da Capital.
 
Ainda em 2019, junto aos vereadores Felipe Wellaton (PV), Diego Guimarães (PP) e Marcelo Bussiki (PSB), Abílio registrou um boletim de ocorrência contra o secretário de Ordem Pública, coronel Leovaldo Salles, alegando que o gestor da pasta agiu com truculência ao retirá-los de dentro do Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), durante uma vistoria que eles faziam na unidade.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação partilhada por Felipe Wellaton (@felipewellaton)



Abílio, na ocasião, afirmou que teve autorização do coordenador da unidade para verificar denúncias que chegaram para eles. “O secretário ordenou que nos retirasse”. Em trecho do vídeo divulgado por ele, é possível ver uma discussão acalorada entre Wellaton e o secretário. “Capacho do Emanuel Pinheiro. O senhor encostou a mão em mim”, dispara o vereador, que é rebatido pelo coronel: “Moleque tem que ser tratado assim mesmo. Tem que ser retirado”.
 
Neste ano, 2020, o relator da Comissão de Ética da Câmara Municipal, vereador Ricardo Saad (PSDB) apresentou, durante sessão extraordinária, um parecer pedindo a cassação do mandato do vereador Abílio Junior (PSC). Na avaliação do tucano, Abílio cometera quebra de decoro por diversas ações desde que iniciou seu mandato. Saad é da base de Emanuel na Câmara.  

Saad e Abílio (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Em março, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) decidiu por maioria, pedir pela nulidade do processo de cassação do vereador Abílio Junior (PSC), em reunião realizada na Câmara Municipal de Cuiabá. A decisão iria para plenário, mas, dois dias depois, em uma sessão que durou 14 horas, foi decretada a cassação do mandato do vereador Abílio Brunini Júnior (PSC). A votação foi marcada por bate-boca e muito desgaste entre os pares, que se dividiram entre prós e contra a cassação. No fim, o oposicionista foi tirado do mandato por 14 votos a 11.
 
No mês seguinte, em abril, Abílio propôs uma Ação Anulatória de Atos Administrativos com pedido de liminar em desfavor da Câmara e de Óseas Machado de Oliveira (PSC), que assumiu sua cadeira no parlamento. Já em maio, o juiz Carlos Roberto Barros de Campos, da Quarta Vara Especializada da Fazenda Pública de Cuiabá, determinou a imediata recondução de Abílio Junior, já no Podemos, ao cargo de vereador da Capital.
 
Dois meses depois, em julho, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) por possível recebimento de propina paga pelo governador Silval Barbosa (sem partido) quando o gestor ainda era deputado,  apresentou parecer favorável ao afastamento do prefeito por 180 dias e pela criação de uma comissão processante que poderia resultar na cassação do mandato em definitivo.  

Emanuel não chegou a depor na Câmara de Vereadores (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Em julho, o pedido de afastamento foi reprovado e arquivado. O resultado final foi de 13 votos pela não aprovação do relatório e apenas 9 votaram pelo afastamento. Com isso, Emanuel Pinheiro permaneceu no cargo, sem o ônus de ter o mandado e os direitos políticos cassados.
 
A questão, no entanto, não estava finalizada. Em setembro, o juiz da 4ª Vara Especializada da Fazenda Pública, Carlos Roberto de Campos, determinou a suspensão da sessão realizada pela Câmara de Cuiabá que arquivou o relatório da CPI e determinou que o presidente da Câmara de Cuiabá, Misael Galvão, colocasse novamente em votação o relatório final, uma vez que a sessão realizada em 16 de julho descumpriu o regimento interno da Casa de Leis. Na ocasião, o relatório foi rejeitado e arquivado por 13 votos a 9.

 
Em 29 de setembro, o pedido de afastamento e a abertura de uma Comissão Processante contra o prefeito foi reprovado e arquivado pelos vereadores em sessão extraordinária.
 
Em agosto de 2020, um homem, identificado como Gustavo Lima Franco, foi detido após agredir um segurança da Prefeitura de Cuiabá e proferir ameaças contra o prefeito. Relatos apontavam que ele iria “dar um presente” para o gestor, em posse- supostamente de um machado. Ele é acusado de ameaçar de morte o vereador Toninho de Souza (PSD) e investigado pela Polícia Civil. Gustavo é filho de uma empresária do setor, seria ligado ao movimento “Pró-Abílio” e estaria presente na última manifestação contra a cassação do parlamentar, na Câmara Municipal.



A rivalidade acirrada entre o eleitorado e os próprios políticos abriu os caminhos para a campanha eleitoral. No dia 11 de setembro de 2020, os dois vereadores oposicionistas Abílio Júnior (Podemos) e Felipe Wellaton (Cidadania) anunciaram, em uma coletiva de imprensa, a candidatura para a Prefeitura de Cuiabá. Três dias depois, em 14 de setembro, integrantes de uma reunião de quatro horas, que aconteceu na própria casa do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), anunciaram que ele seria candidato à reeleição. A confirmação do nome do candidato a vice, José Roberto Stopa (PV), veio somente no dia 17 de setembro.
 
Após uma campanha acirrada de primeiro turno, Abílio Junior (PODE) conseguiu 90.631 votos, e Emanuel Pinheiro, 82.367 votos nas urnas. Com apenas duas semanas entre o primeiro e o segundo turno, os candidatos focaram seu tempo em angariar apoios, sendo que Abílio atraiu o governador Mauro Mendes (DEM) e os candidatos derrotados, que ficaram em terceiro e quarto lugar respectivamente, Gisela Simona (PROS) e Roberto França (PATRI). Emanuel, por sua vez, aproximou-se do Fórum Sindical e ganhou apoio crítico do Partido dos Trabalhadores (PT).
 
Neste domingo (29), os cuiabanos escolherão quem comandará o Palácio Alencastro pelos próximos quatro anos, de primeiro de janeiro de 2021 a 31 de dezembro de 2024. Cuiabá possui 378.097 eleitores em situação regular e com plenos direitos, número menor que na última eleição municipal, em 2016.
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