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Notícias / Meio Ambiente

Programa irá plantar mudas correspondente ao número de mortos por Covid-19 em Mato Grosso

Da Redação - Fabiana Mendes

O Programa REM Mato Grosso realizará o plantio de mais de 11.000 mudas de diferentes espécies, em 65 municípios de Mato Grosso, como forma de homenagear a memória das vítimas da Covid-19. Em cada localidade será instalada uma placa de metal com dizeres e plantada uma quantidade de mudas correspondente ao número de mortos pela Covid-19 no município. O início do plantio deve ocorrer em meados de novembro, quando o período chuvoso costuma ser mais intenso.

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Nesta terça-feira (21) é comemorado o Dia da Árvore. A data chama atenção para a importância dessa riqueza natural, principalmente no contexto das mudanças climáticas.
 
De acordo com a coordenadora do Programa, Lígia Vendramin, a ausência de árvores “afeta drasticamente a vida das pessoas, provocando assoreamento de rios, baixa umidade relativa do ar, interferência no regime de chuvas, perda da biodiversidade e desertificação”.
 
A ação foi pensada pela coordenação do programa REM MT em parceria com o setor de Educação Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), durante as atividades da Semana do Meio Ambiente, que neste ano teve como tema “Restauração de Ecossistemas”.
 
“A ideia é que cada árvore simbolize uma vida que se foi e, que ao mesmo tempo, se restaura junto à natureza. Além disso, é uma forma de mostrarmos que qualquer pessoa pode ajudar a restaurar o ecossistema, seja plantando diferentes espécies de árvores no quintal ou separando o lixo para reciclagem”, explica Lígia.
 
Memória viva
 
Uma das vítimas homenageadas pela ação será o irmão gêmeo do arquiteto Fernando Birello de Lima, 43 anos. Evandro Birello de Lima, morreu de Covid-19 em agosto do ano passado, no Pronto-Socorro de Cuiabá.
 
Fernando conta que 2020 foi “o ano mais terrível de sua vida”. Pois, além do irmão, ele se deparou com a morte da mãe, por Câncer no cérebro, no mês anterior.
 
“Minha família toda pegou Covid: meu irmão gêmeo, que infelizmente não resistiu, meu irmão mais velho, que sobreviveu, minha cunhada e sobrinha. Entre as idas e vindas do hospital para socorrer minha mãe, os três irmãos foram infectados. Não foi por descuido ou porque a gente quis. A gente ia o tempo todo no hospital cuidar da nossa mãe. Era um ambiente muito propício ao contágio e a gente acabou se infectando”, conta.


 
Fernando relata que foi o primeiro a adoecer. "Foram duas semanas passando mal. A primeira semana foi pior. Tive que usar cateter. Sensação horrível! Você tosse e falta ar. Você não consegue respirar”, descreveu o arquiteto, que é professor de carreira da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).
 
Ele e o irmão mais velho conseguiram se recuperar. Mas seu irmão gêmeo, que se infectou no mesmo período, não. O estado de saúde dele só foi se complicando ao ponto de ser intubado. Evandro morreu de covid em 13 de agosto, dia do aniversário de sua mãe, que faleceu em 30 de julho.
 
“Foi um golpe muito duro para quem sobreviveu. Éramos muito unidos e apegados à nossa mãe, que nos criou com muito amor.  O Evandro era um cara cheio de vida. Estava cheio de planos, querendo namorar…Entre os irmãos era o cara conciliador, que fazia o meio de campo. Isso tornava a nossa convivência muito fácil”, recorda emocionado.


 
Ainda em estado de luto, ele se recupera do trauma aos poucos por meio do trabalho na universidade e das terapias com a psicóloga. "Falar sobre o ocorrido também ajuda no processo", diz.
 
Para Fernando, homenagens como a do plantio de mudas são extremamente importantes, tanto do ponto de vista pessoal quanto coletivo.
 
“Essa memória é muito necessária! Não estamos falando de números. Eram pessoas, queridas e amadas por muitos. E nada mais simbólico do que o plantio de uma árvore para mostrar que a vida sempre floresce de alguma forma. Sou muito grato por essa homenagem”, garante.
 
Ainda sobre a importância da memória viva, Fernando não tem dúvida de que o irmão apoiaria a iniciativa.
 
“Gostaria de ler uma das últimas mensagens do meu irmão, que sintetiza muito bem tudo isso que estou falando, e como essa homenagem é importante: ‘Espero que consigamos superar tudo isso, né? E se daqui a alguns meses, nós conseguirmos retornar à convivência social para contar a história, que a gente possa celebrar a vida dos que continuam e honrar a existência daqueles que se foram. Obrigado pelo contato, pela lembrança, fiquem com Deus e se cuidem”.
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