Imprimir

Notícias / Cidades

Jovem tem perna amputada após tiro durante abordagem da PM em Cuiabá: "Acabaram com minha vida"

Da Redação - Fabiana Mendes

Trabalhador desde os 18 anos de idade e sem passagens criminais, Adriano Ferreira da Silva, atualmente com 22, não conseguirá realizar seu sonho de se tornar caminhoneiro. Isso porque em agosto desse ano uma abordagem do Grupo Raio da Polícia Militar, ocorrida no bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, resultou na amputação da sua perna direita. "Acabaram com minha vida", lamenta o jovem ao Olhar Direto

Leia também:
Laudo descarta disparo acidental e menor que matou amigo de infância com tiro de espingarda no rosto é denunciado ao MP

Desde o dia 20, a vida do jovem nunca mais foi a mesma. Naquela sexta-feira, Adriano planejou uma ‘resenha’ com quatro amigos de infância que não se reuniam há algum tempo. O grupo se encontrou em uma casa para beber, mas em dado momento da noite, Adriano saiu no portão do imóvel, quando uma equipe de motopatrulhamento da PM parou em uma igreja ao lado.

Adriano saiu para ver o que se tratava e um militar pediu que ele saísse da casa com as mãos na cabeça. O agente perguntou se havia mais pessoas na casa e pediu que todos saíssem.

O policial também pediu que um dos rapazes desbloqueasse o celular para que ele pudesse vasculhar, e assim o fez. Porém, o aparelho teria travado e por causa disso, o policial teria dado um tapa no rosto do amigo de Adriano.

Adriano teria falado que ele não poderia fazer aquilo com o grupo, pois todos que estavam ali eram trabalhadores. Foi quando o agente teria partido para cima de Adriano e dado um tapa no rosto dele.

Para se proteger, Adriano empurrou o PM e saiu de perto do agente. Ao sair andando, o PM efetuou dois tiros para cima e um na perna dele.

Depois do disparo, o jovem não sabia, mas sua vida nunca mais seria a mesma. Foram 30 minutos caído no chão e agonizando por socorro, até que uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegasse ao local. Mesmo no chão e sem conseguir andar, Adriano foi algemado.



O tiro efetuado pelo PM atingiu uma artéria de Adriano. Foram realizados alguns procedimentos para tentar salvar o membro, mas não adiantou. A perna começou a necrosar e para que sobrevivesse, ela teve que ser amputada.
 
Policiais afirmam que foram atacados e agredidos
 
No boletim de ocorrência registrado pela PM consta que o grupo teria sido abordado após denúncia de que no local estaria acontecendo tráfico e uso de drogas. O relato diz também que eles estavam com os ânimos alterados e sinais visíveis de que estavam sob efeito de drogas.

Durante abordagem aos rapazes, nada de ilícito teria sido encontrado e os policiais teriam pedido que eles permanecessem no local, enquanto faziam varredura no imóvel. Na ocasião, teriam encontrado um cigarro de maconha e algumas porções.

A PM afirma que questionou de quem seria a droga, quando teria sido atacada pelo grupo de amigos com socos. Os agentes acrescentam ainda que teriam utilizados de meios não letais para conter os rapazes, como gás de efeito moral. Mas que não teria sido suficiente, pois Adriano teria derrubado o soldado Trindade e o agredido com chutes. Diante disso, ele teria dado um tiro na panturrilha do jovem. Os demais amigos teriam foragido.
 
Informações divergem

Conforme Adriano, várias informações que constam no boletim de ocorrência não são verdadeiras como, por exemplo, de que havia droga no local, de que eles partiram para cima dos agentes e de que usaram a bomba de efeito moral.



Com emprego de carteira assinada desde 2018, o trabalhador agora vive com medo, pois os policiais do Grupo Raio têm ido até a casa de sua irmã para perguntar o endereço dele. Este, inclusive, é o motivo que ele decidiu não mostrar o rosto nas fotos. 

Sonho interrompido

Afastado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Adriano atuava em uma empresa como lavador de ônibus e estava juntando dinheiro para fazer Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Este seria um passo importante para ele que sonhava em ser caminhoneiro.

“Eu não faço nada de errado, eu trabalho, para ele chegar abordando e dando tiro na gente...”, lamenta. “É uma situação chata, angustiante, não queria estar passando por essa situação. Eu nunca procurei nada de errado para estar passando por isso. Nunca fiz nada de errado”.



Adriano ainda sonha em voltar trabalhar, enquanto aguarda pela perícia que fará uma avaliação sobre suas condições físicas.

A advogada da família na parte indenizatória, Luana Fátima Zapello, irá lutar pelo direito diante da abordagem e abuso de poder dos policiais.

“Mesmo após estar caído no chão, ele continua algemado. Veja o estado que ele estava que não tinha como ele correr, não precisava nem de algema, ele não resistiu. No momento que ele virou de costas, foi atingido por um tiro na perna. Infelizmente para ele não vir a óbito, teve que ser amputada a perna dele.

Outro lado

Procurada pela reportagem na sexta-feira (22), a assessoria de imprensa da PM ficou de se manifestar na segunda-feira (25).
Imprimir