Imprimir

Notícias / Cidades

“Sofreu muito antes de morrer”, lamenta mãe de jovem gay morto com mais de 30 facadas; olhos foram arrancados

Da Redação - Bruna Barbosa

Toda vez que vai ao mercado, a doméstica Jucimar Catarina Soares da Silva precisa passar em frente à casa onde o filho, Roger André Soares da Silva, de 29 anos, foi morto com mais de 30 facadas, no bairro Parque Cuiabá, em Cuiabá. Jucimar não consegue esquecer a cena que viu no imóvel, que fica apenas quatro quadras de distância da residência onde eles moravam juntos, após o corpo do filho ser encontrado.
 
Leia também
Corpo de jovem morto com mais de 30 facadas foi encontrado em posição de 'crucificado'; cruzes foram desenhadas com sangue

Jovem é encontrado morto com mais de 30 facadas pelo corpo


Roger era homossexual e foi brutalmente assassinado por um homem que teria ido encontrar na noite da última quinta-feira (21). No cômodo em que o corpo do jovem foi encontrado em posição de “crucifixo”, o suspeito usou sangue da vítima para desenhar três cruzes na parede. 

“A rua principal que pegamos para ir ao mercado é em frente de onde ele morreu. Hoje precisei passar em frente. Fico muito triste porque estive lá, vi a barbaridade. Não vi ele ‘crucificado’, porque ninguém deixou”. 

Desde quando contou que era homossexual, algo que a mãe afirma já saber mesmo antes de ser verbalizado pelo filho, Jucimar tinha medo de que ele sofresse algum tipo de violência fora de casa. 

“Eu sempre soube, nunca foi um problema para mim. Todos os dias da minha vida tive medo, porque o preconceito é muito grande. Têm pessoas que não gostam de homossexuais”. 

Jucimar lembra de quando, por volta das 19h30, o filho avisou que iria em um bar, mas não voltou vivo para casa. No dia seguinte, a doméstica e amigos estranharam o sumiço do jovem, que não tinha costume de faltar ao trabalho. O corpo foi encontrado no chão do quarto da casa do suspeito, que morava de favor no imóvel avô. 

O responsável pelo crime foi identificado, mas ainda está foragido. Jucimar ressalta que não conhecia o suspeito. O celular de Roger será analisado pela Polícia Civil e, com base nas conversas, a mãe espera que seja possível responder a perguntas ainda sem respostas.

“Autorizei entrar no celular dele já, porque se fosse esperar pelo juiz seriam 45 dias. Quero saber se eles se conheciam há muito tempo ou se conheceram naquele dia. Deve ter isso no celular dele”. 


Roger trabalhava em um shopping de Cuiabá no setor de limpeza e esperava ser contratato efetivamente. (Foto: Arquivo pessoal)
A doméstica explica que a brutalidade do crime espantou até mesmo os peritos do IML. Roger teve os olhos arrancados, o tórax aberto com uma faca e o pescoço cortado. Cortes nas mãos do jovem indicaram que ele tentou se proteger. 

“O local [cena do crime], era uma coisa terrível. Meu marido disse que parecia que não haviam matado uma pessoa, mas sim um animal. Tinham um carro velho lá, não sei se o Roger tentou subir para fugir, tinha muito sangue no carro. Na moto dele também, a casa estava lavada de sangue”. 

Jovem era trabalhador e ajudava em casa 

Nos últimos dias, Jucimar se assustou com notícias de que o filho foi morto por ser usuário de drogas, informação que é desmentida pela mãe. Ela conta que Roger sempre foi comprometido e responsável com o trabalho. Recentemente, ele recebia diárias pela limpeza em um shopping da Capital. 

“O patrão dele ia assinar a carteira dele nessa semana. Ele foi no velório, homenageou o  Roger, falou que era uma pessoa boa. Ele era bem querido pelas pessoas que conheciam ele”. 

Recentemente, o jovem havia conseguido comprar uma motocicleta, que o ajudaria a ir e voltar do trabalho. Além disso, Roger ajudava a mãe financeiramente com as despesas de casa. Para Jucimar, é como se tivesse perdido “os pés e as mãos”. 

“Ele recebia e já me chamava para passar o dinheiro das contas de casa. Gostava que eu fizesse exercícios físicos, ele que pagava todo mês minha academia. Sinto pelo que estão fazendo com a imagem dele. Ele cuidava muito da família dele e estava muito feliz”. 

Orgulhosa, Jucimar conta que o filho trabalhou durante três anos em um mercado e estudava a noite para conseguir terminar o ensino médio. Um dos planos de Roger para o futuro era cursar Geografia. 

“Chegava do serviço minha casa estava limpa. Só tenho a agradecer a Deus pelo filho que tive. Todo mundo pode falar o que quiser, mas para a mãe dele, ele foi um homem. Um homem que cuidou da mãe dele”.
Imprimir