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"Vizinha mostrou vídeo e falou que eu estava estourada", conta gari que dançou lambadão em praça de Cuiabá

Da Redação - Bruna Barbosa

Quando chegou em casa, no bairro Jardim União, em Cuiabá, após mais um dia normal de trabalho no sábado (30), a gari Sibeli Ferreira da Costa, de 33 anos, ouviu da vizinha que ela estava “estourada”. Sem redes sociais, Sibeli não imaginou que um vídeo seu dançando lambadão enquanto trabalhava havia viralizado nas redes sociais. 

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Naquele dia, ela e a colega de trabalho, Dinalva Ferreira Souza, de 50 anos, haviam sido escaladas para fazer a limpeza da praça Santos Dumont, na avenida Getúlio Vargas, na Capital, onde estava sendo realizado o Festival Matula.

Além da feira gastronômica, bandas e cantores se apresentaram no evento em que as garis trabalhavam. Em certo momento da noite, após já terem limpado parte da praça, Sibeli não hesitou em convidar a parceira de limpeza para dançar o lambadão tocado pela banda “Os Originais”. 

Sibeli e Dinalva contaram que sempre trabalham ouvindo música, por isso não é difícil ver as duas dançando por aí. (Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto)

“Gostei do toque da música, quando chegamos perto do palco falei para ela [Dinalva]: ‘vamos brincar’. Começamos a dançar e, de repente, o vocalista me chamou. Ela não quis ir, só eu fui correndo”, lembra Sibeli, que não segura as risadas ao pensar na situação. 

As imagens mostram a gari fazendo passos de dança do ventre misturados com o ritmo do lambadão. Quando percebeu, Sibeli estava sendo filmada por várias pessoas que estavam na feira. 

O vídeo da gari se divertindo viralizou nas redes sociais rapidamente. Antes da repercussão, ela e Dinalva temeram ser mal interpretadas por estarem dançando no horário de trabalho. 

Por medo de “dar BO”, Dinalva não pensou duas vezes antes de ligar para a chefe, responsável pela administração dos servidores da limpeza urbana, Eliane Ieber. 

“Qualquer ‘coisinha’ temos que ligar para ela. Quando ela [Sibeli] subiu no palco, já liguei para a Eliane. Sou assim, qualquer BO já corro para ela”, conta Dinalva.

“Ficamos com medo das pessoas falarem que a praça estava suja e os garis se divertindo. Além delas terem feito um bom trabalho, ainda se divertiram”, pondera Eliane, que sempre escala a dupla para eventos como a feira por conta da animação que elas demonstram.

Mas o medo das garis não se tornou realidade, já que a repercussão do vídeo foi positiva e muitos elogiaram a alegria e disposição das duas, mesmo exercendo um trabalho cansativo. 

Sibeli garante que não é difícil vê-la fazendo a limpeza nas ruas enquanto dança ao som de suas músicas favoritas no fone de ouvido, assim como Dinalva. Para ela, o trabalho é  motivo de orgulho e, por isso, não há razão para desânimo. 

“Sempre estamos com fone de ouvido com música e dançando. Se não fizer com amor, como vamos fazer?”, questiona Sibeli.

Trabalho duro e rotina puxada 

Para entrar no trabalho às 6h30, Sibeli precisaacordar às 5h para conseguir pegar ônibus e deixar a filha mais nova na creche. Mãe solteira, ela cria os cinco filhos, que têm entre 17 e quatro anos, sozinha. 

Ela garante que tenta ser “divertida” na maior parte do tempo, mesmo com as durezas da vida. Um dos sonhos é conseguir conquistar a casa própria, já que atualmente mora de favor e tem medo das incertezas do futuro. 

“Quero conseguir ter minha casa, porque moro de favor, não sei o dia de amanhã. De repente posso ter que sair e para onde vou com meus filhos? Meu sonho é só esse, dar conforto para meus filhos. Depois conseguir estudar”, conta. 

Sibeli começou a trabalhar com 12 anos, como babá, para conseguir ajudar a mãe com as contas de casa. Há três anos, ela trabalha na limpeza urbana de Cuiabá e se orgulha do uniforme de gari. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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“Tem gente que tem vergonha, vai embora e tira a roupa. Não tenho vergonha, não. Vou embora assim mesmo, vou na creche  buscar minha filha, até no shopping ando assim”, afirma. 

Ela e Dinalva trabalharam nos três dias de feira. Por conta do evento, não conseguiram sequer ir em casa e só descansaram após às 20h, mas nada tirou a animação da dupla. 

“No domingo estava só passando, estava com dor de dente, falei para minha parceira pegar uma água. Quando passei perto do palco, a vocalista me chamou para dançar rasqueado”, lembra Sibele que, claro, não negou o convite. 

Apesar de ter nascido em Vilhena (RO), Dinalva se considera cuiabana após mais de dez anos vivendo em Cuiabá. Há cinco, ela trabalha como gari e, assim como a colega de trabalho, se orgulha do serviço que exerce. 

“É um serviço digno, trabalho dançando e ouvindo música. Conquistei tudo, tenho filho, neto, conquistei minha casinha. A pandemia passou, estou aqui forte, firme e alegre. Vassoura para frente e dançando meu lambadão”, brinca Dinalva sem economizar nas gargalhadas. 

Durante a entrevista com o Olhar Direto, Sibele e Dinalva também não se intimidaram em dançarem juntas mais uma vez ao som da música tocada pela banda "Os Originais", no Festival Matula. 

Veja o vídeo:


 
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