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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Jogos de interesse e poder travam o Brasil quanto ao escoamento, avalia Baixinho do Caminhão

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Jogos de interesse e poder travam o Brasil quanto ao escoamento, avalia Baixinho do Caminhão
A demora para a BR-163, ligando Cuiabá a Santarém (PA), ferrovias e hidrovias em Mato Grosso ficarem prontas nada mais é do que jogos de interesse e poder. A avaliação é do empresário e apresentador de televisão Wilson Chamorro, mais conhecido como Baixinho do Caminhão. De acordo com ele, as rodovias estaduais do Estado se encontram em total abandono.

Em entrevista ao Agro Olhar o empresário e apresentador de televisão relatou qual a real situação das rodovias estaduais e federais de Mato Grosso. Além da demora das ferrovia até Cuiabá (Ferrovia Senador Vicente Vuolo) e da Ferrovia de Integração Centro-Oeste.

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Conforme Baixinho do Caminhão, o 'arranca' safra 2014/2015 de soja em Mato Grosso e outros Estados, como Rondônia, estão parados diante os manifestos dos caminhoneiros a pedido de melhorias, principalmente do frete devido o aumento do óleo diesel.

Confira abaixo a entrevista com o Baixinho do Caminhão:

Agro Olhar - Você é um grande conhecedor da logística de Mato Grosso. Como está a situação hoje, tanto das rodovias estaduais quanto das federais?

Baixinho do Caminhão - As MTs estão abandonadas. Todas elas. Eu estive em Brasnorte na semana retrasada e a MT-170, para você ter uma ideia, tem atoleiro se chover no asfalto. É uma rodovia que foi inaugurada há menos de 6 anos, sinalização não tem. Têm umas 10 árvores caídas, só meia pista, porque estas árvores caíram na pista. Então, esse é um exemplo. Têm outros. Jangada a Barra do Bugres nunca prestou. Temos também de Barra do Bugres para Tangará da Serra, que é a MT-358, também nunca prestou, inclusive encontramos muitos buracos. Sinalização não existe. Placa, identificação nada. Quem não é daqui chega ao Estado, desde a entrada da Capital, não tem onde ele tomar um rumo. A pessoa chega e fica desnorteada, porque não tem uma sinalização adequada. Isso, principalmente as MTs. As BRs deram uma melhorada boa. Posso dizer que nestes últimos dois anos o DNIT andou fazendo a limpeza de drenos, melhorando as placas, a sinalização. Então, tanto as BRs, tipo ali da Serra da Petrovina, Alto Araguaia para cá está bem cuidada. A serra de São Vicente estão fazendo a limpeza neste ano nos drenos, que faziam de dois a três anos sem essa limpeza. E a Serra de São Vicente, até fiz uma matéria no meu programa, fiquei muito feliz, porque aconteceram três fatos novos. Todo ano a Serra de São Vicente queima e em 2014 não queimou, as placas estão novas (a sinalização tanto horizontal quanto vertical foram feitas) e a limpeza dos drenos, porque aí a chuva, a água correm por estes drenos danificando bem menos a pavimentação, apesar de lá ser concreto. O asfalto a maioria das estradas nossas em Mato Grosso eles não se preocupam em limpar as margens. Aí o que acontece? A água corre por cima da pista e o peso do fluxo intenso de veículos abre muita panela. É onde danifica a maioria das MTs, por causa das águas, de não ter uma limpeza nas beiradas. Se limpasse os acostamentos, os drenos essa água correria fora do asfalto e assim faria muito menos buracos.

Agro Olhar - E no caso deste trecho da Rota do Oeste?

Baixinho do Caminhão - Como eu viajo o Brasil todo, eles estão fazendo o mesmo sistema da Rodovia Bandeirantes, da Anhanguera, da Castelo Branco. Então, é um sistema de limpeza, um sistema de sinalização. É um sistema de cuidar da rodovia. Você pode ver um comparativo aí da Rodovia dos Imigrantes, que são 28 quilômetros e ela já está totalmente recuperada, limpa e sinalizada. Esse é o intuito da Concessionária. Apesar, que ela irá ter um grande benefício por trás disso que é a cobrança de pedágio. Serão nove praças de pedágio, aonde ela vai desfrutar dessa malha rodoviária. Só que em compensação eles fazem, eles cuidam. Ali na Rodovia dos Imigrantes, eu que acompanho direto, eles fizeram todo o recapeamento dos 28 quilômetros, só que já começou a aparecer alguns buraquinhos e eles já foram e tamparam, já corrigiram. Então, aí não danifica a estrada. A estrada sempre irá estar em boas condições de uso. Vou dar um exemplo, anteriormente falei da MT-170, que liga Campo Novo dos Parecis a Brasnorte. Essa rodovia foi inaugurada pelo governo do Blairo Maggi e ela tem uns seis anos. Hoje, ela está totalmente danificada. Só que o ano passado, segundo a Rádio Povo, foi liberado R$ 100 mil para fazer o recapeamento. Se tivessem feito abriu um buraco vai lá e corrige a MT-170 estaria totalmente boa. Então, é isso o que mata as MTs. No Estado não há uma manutenção preventiva. Não houve um cuidado dos nossos governantes anteriores e vamos aguardar que neste que entrou agora e parece que está com vontade se realmente eles vão fazer um recapeamento descente, uma melhoria.

Agro Olhar - Você acha que esse recapeamento, fazendo essa manutenção, tanto nas rodovias federais quanto nas estaduais, podemos ver uma minimização de acidentes e perdas de cargas, porque sabemos que se um caminhão passa em um buraco a soja, o farelo ou milho se perde, o animal (o gado, o suíno, por exemplo) uma batida já faz perder a qualidade?

Baixinho do Caminhão - É um conjunto. Tanto a Rota do Oeste como o DNIT nessa parceria vão sim melhorar e muito a trafegabilidade nas estradas. O que vai acontecer? Vão ter novas sinalizações, pavimento novo, sinalização nova, limpeza nos acostamentos, acostamento para que os caminhões possam parar. Então, vai diminuir sim a perda de carga, os acidentes, vai diminuir a quebração de caminhões que é muito grande. As rodovias passando por este processo vão melhorar sim. Aí, nós esperamos uma melhora do governo estadual, porque ele pegou as MTs todas deterioradas, acabadas. Não tem concerto. Para se ter uma ideia existe 80 quilômetros da MT-170 que estão acabados. Você pega a MT-010, que liga para São José do Rio Claro a Novo Diamantino, está acabada, não têm condições de andar. E agora eles estão tampando buracos com terra, como caráter emergencial. As Prefeituras com o Governo fizeram uma parceria e estão tampando com terra, mas essa terra na primeira chuva ela sai. O certo é arrancar o atual pavimento e fazer de novo, porém isso custa dinheiro, custa tempo e eu acredito que demora.

Serra da Petrovina (Foto: Viviane Petroli/Agro Olhar)

Agro Olhar - Nestas suas 'andanças' por Mato Grosso como está o arranca safra 2014/2015 da soja?

Baixinho do Caminhão - Está acontecendo muita colheita. Os produtores estão colhendo e levando para os silos. Agora dos silos para os trens ou tradings aí já está demorando, está parado, porque os motoristas estão brigando por uma melhoria. Inclusive, Vilhena (RO) parou, aqui em Campo Novo dos Parecis e Tangará da Serra. Os motoristas estão fazendo os movimentos para que haja uma melhoria do frete para poder arrancar a safra. Contudo, a safra por enquanto está parada.

Agro Olhar - Mas, essa questão do diesel é que está impactando e por isso os motoristas estão pedindo uma melhora no frete?

Baixinho do Caminhão - A maior preocupação do frotista hoje é o diesel. Porque, o diesel come aí 60% a 70% do frete. O quê que sobra para pneu, manutenção, para o motorista e para o dono do caminhão? Não sobra nada.

Agro Olhar - Em suas conversas com os motoristas e os proprietários de empresas do transporte de cargas, como eles estão vendo as questões das ferrovias? Hoje, temos ferrovia até Rondonópolis, mas há projeto de trazer para Cuiabá. Ainda temos a Ferrovia de Integração Centro-Oeste.

Baixinho do Caminhão - Esse país nosso era para ser o melhor país do Mundo, se tivesse gestores honestos e sérios. O quê que era para termos hoje em Mato Grosso? Hidrovia. Nós temos rios navegáveis, nós temos o Porto de Cáceres, temos aqui vários rios que dariam para fazer hidrovia. Isso iria aliviar o frete de transporte de caminhão e o trem pela hidrovia. Nós temos, também, daqui para Santarém (PA) a BR-163. Se ligasse ela totalmente a safra que for tirada aqui por cima ela diminui aproximadamente 4 a 5 dias de navio, porque já saí lá em cima, então vai diminuir também o custo da exportação, vai vender melhor nossos produtos. Só o quê que acontece, eles (governantes) não têm interesse em fazer hidrovia e chegar a ferrovia. Existe um mito que os caminhoneiros e os frotistas que 'a se chegar a ferrovia vai diminuir o frete, vai diminuir o ganho', mas isso é engano. O frete estava melhor de Sorriso a Alto Araguaia do que você ir para Minas Gerais, para Paranaguá (PR) e Santos (SP). O frete aqui dentro é mais perto, o tal do bate e volta, só que o caminhoneiro e o frotista ganhava mais que ir para longe. Então, o trem ele não vai atrapalhar. Pelo contrário, irá agregar valores. Só que teria que ter uma política séria em nosso país para que acelerasse esse processo tanto de ferrovias como de hidrovias e das nossas próprias rodovias. Eu vou fazer 51 anos e desde os meus sete anos ouço falar da Cuiabá-Santarém. São vários anos se arrastando, porque não há interesse. Se houvesse interesse ela já teria sido liberada.

Agro Olhar - Daria-se para fazer várias viagens para a região Norte do país utilizando os portos de Santarém e Miritituba, no Pará, e o de Itacoatiara, no Amazonas. Seria uma viabilidade a mais em comparação a Santos.

Baixinho do Caminhão - Aí é que está. Por que, que há essa lentidão em Miritituba, no próprio Santarém? Porque, Santos irá ficar limitado a suco de laranja e café. Grãos seriam bem pouco em Santos, pois sairia tudo aqui por cima. Então, esse jogo de interesse, esse jogo de poder é que trava as coisas em nosso país. Se não houvesse este jogo Cuiabá a Santarém era para estar asfaltada há 20 anos e está se arrastando e vão muitos anos ainda, porque parece que tem cerca de 400 quilômetros para asfaltar.
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