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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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Pirarucu tem 95% de aprovação nos supermercados do País e começa a ganhar o mundo

Foto: Reprodução

Criação do peixe tem gerado renda a produtores da região norte do país

Criação do peixe tem gerado renda a produtores da região norte do país

A carne do pirarucu caiu no gosto de brasileiros de diversas regiões do país e começa a conquistar o mundo. De acordo com o SEBRAE (Sistema Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que desenvolve um projeto para criação do peixe e gerar emprego e renda na região Norte do país, a aceitação do produto chega a 95% dos consumidores nos supermercados de capitais de seis estados das regiões norte, nordeste, centro-oeste e sul do país onde o produto passou a ser comercializado inicialmente.

Considerado um dos maiores peixes de água doce do mundo - podendo pesar mais de 200 quilos -, a espécie começou a ser criada em 2007 numa iniciativa desenvolvida pelo SEBRAE e que hoje conta com a parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (EMBRAPA), Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), laboratórios de pesquisa, entidades privadas locais, além de empresários em uma gestão integrada do empreendimento.

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Esta história de sucesso e os desafios para viabilizar esta promissora cadeia produtiva no Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins foram tema do III Workshop de Cultivo de Pirarucu ocorrido nos dias 22 e 23 de novembro em Belém (PA).

O programa foi dividido em duas fases. Na primeira etapa, entre 2007 e 2010, foi diagnosticada a cadeia produtiva do pirarucu na região e implantadas 20 unidades de observação na fase de engorda e uma unidade de reprodução em Rondônia, voltada à formação voluntária de casais para reprodução natural, coleta de ovos, larvas e alevinos além de treinamento alimentar com ração balanceada. Foi desenvolvido um sistema de produção para povoamento de 300 peixes por Unidade de Observação, onde ocorre a recria e engorda em viveiro escavado ou tanques-açudes.

A entidade contratou consultoria tecnológica para orientação técnica para cada propriedade. O projeto envolveu ainda a elaboração de manuais de boas práticas de produção na fase de engorda e reprodução em cativeiro.

"Tivemos muito cuidado de colocar profissionais que conhecem o assunto, para que a gente pudesse fazer um trabalho e dar retorno ao setor. Contratamos consultoria local para fazer o acompanhamento quando o consultor máster não pudesse estar presente. Fizemos avaliação e compilação de todos esses dados técnicos e econômicos da cidade e colocamos nos manuais", descreve a coordenadora de Pesca e Aquicultura da Unidade de Agronegócios do SEBRAE Nacional Newman Costa, uma das palestrantes do evento em Belém.

Resultados

O projeto mostrou-se viável economicamente. O peixe apresenta elevado valor comercial, rápido crescimento (superando 10 kg no 1º ano), tem bom desempenho na produção intensiva, aceita ração balanceada após treinamento, possui alto rendimento de filé sem espinha (até 55% de carne), além de não depender do oxigênio da água para sua respiração.

Nos viveiros/açudes a produtividade varia de 10 a 15 toneladas por hectare, com peso final de 8 a 12 kg/ano. Nos tanques-rede, a produtividade fica entre 80 kg/ m³ a 100 kg/m³, peso médio entre 7 kg/ano a 10 kg/ano e entre 85% e 95% de taxa de sobrevivência. A taxa de sobrevivência em ambos os sistemas é de 85% a 95% e o custo de produção gira em torno de R$ 6 a R$ 9,50/Kg.

Esta etapa incluiu estudo de mercado para saber a aceitação do produto em seis capitais (Belém-PA, Recife-PE, Brasília-DF, São Paulo-SP, Rio de Janeiro-RJ e Curitiba-PR) com elevado consumo de peixes ou que já tinham acesso a produtos oriundos da piscicultura. Foram oferecidos cursos de capacitação para engorda do pirarucu,

Além de abrir as portas ao mercado consumidor doméstico com missões técnicas, o SEBRAE promoveu festivais gastronômicos e deu início a um intenso trabalho junto aos restaurantes, onde o pirarucu recebeu “aprovação total” dos chefs de cozinha.

"A gente precisava saber que mercado era esse. A gente vai investir e não vai entender o que esse mercado quer? Então nós fomos ao supermercado e a aprovação foi de 95% entre consumidores. As entregas a supermercados foram regulares e contínuas. Visitamos restaurantes, que fizeram compras em pequenas quantidades, mas com frequência. Elaboramos pratos especiais, vários tipos, visitamos as feiras, os cortes especiais da carne, a exposição. Entre os entrepostos e atacadistas a oferta se mostrou contínua e com escala de venda", explica Newman.

Ao consumidor o pirarucu é vantajoso por diversos fatores, entre eles por possuir carne clara, magra, tenra, leve, sabor suave e não susceptível ao "gosto de barro" comum a muitas espécies de água doce. A coordenadora demonstra entusiasmo com os avanços da atividade que está revolucionando o consumo de peixes no Brasil e no mundo. No entanto, admite que por se tratar de uma atividade em fase de implantação, ainda não possui escala de produção suficiente para suprir todo o mercado interno, nem atender a demanda internacional ávida por alimentos saudáveis e exóticos.

Segunda fase

A segunda fase do projeto, a partir de 2012, abrange o Estado do Pará e serve ao desenvolvimento dos produtos e serviços e gerar rentabilidade. O objetivo é difundir e aprofundar os conhecimentos obtidos na fase um do projeto, replicar as unidades de reprodução nos sete Estados e promover o pirarucu de cativeiro.

As ações envolveram implantação e acompanhamento das sete unidades de reprodução e 14 de engorda em parceria com empreendedores nos sete Estados da região Norte. Também inclui pesquisa de soluções das dificuldades nas áreas de nutrição e sanidade (EMBRAPA) e a elaboração de plano de marketing e comercialização para o pirarucu produzido em cativeiro.

Além da capacitação de multiplicadores, da realização de missões técnicas e participação de feiras e eventos, o SEBRAE pretende elaborar publicações e vídeos para divulgação das informações geradas durante o projeto e promover os produtos do pirarucu.

O registro da marca “Pirarucu da Amazônia” também é um dos objetivos do projeto. A preocupação da coordenadora é garantir que uma entidade do setor assuma a responsabilidade da indicação geográfica e do registro da própria marca, considerados diferenciais para o mercado.

“Estamos trabalhando para valorizar o pirarucu da Amazônia e não a espécie “o bacalhau da Amazônia”. É o Pirarucu da Amazônia. Vamos brigar por ele. Às vezes quando eu vejo alguém fala “ah, é o bacalhau”. Da até arrepio! Gosto, compro, mas acho que a gente tem que brigar pela espécie que é nossa!”, enfatiza.

Mercado

O consumo desta espécie diferenciada que habita águas das bacias Amazônica e Araguaia-Tocantins, no coração do Brasil, desperta desde 2011 o interesse de mercados consumidores como China, Estados Unidos e Alemanha, que passaram a conhecer o produto depois de missões técnicas internacionais promovidas pelo SEBRAE.

A coordenadora lembra de feira realizada em Bruxelas (Bel), em 2011, em que o MPA recebeu encomendas de toneladas de peixe após ter exibido amostra de pirarucu e tambaqui, outra espécie amazônica considerada exótica para os padrões europeus.

"Recebemos uma demanda que era impossível ser atendida. China, Alemanha e Estados Unidos tinham encomenda. O produto precisa ter condições de atender o mercado. Se você não tiver condições, é melhor não levar. Porque isso depõe contra nosso produto e nós temos produtos de primeira linha, de qualidade, excelente. Temos que vender aquilo que a gente tem condições de levar para o mercado", destaca ao lembrar que os exportadores apostam no potencial do mercado.

“Lidamos muito com isso na questão de mercado externo. A gente às vezes se esquece de olhar para o nosso mercado interno. A gente tem um potencial muito grande", frisa.

Desafios para melhorar a gestão

A qualificação dos técnicos e pequenos empreendedores envolvidos na produção do Pirarucu é um dos principais desafios do SEBRAE para alavancar a produção, gerar renda e viabilizar um negócio promissor. Para Newman Costa, a formação de mão de obra qualificada para orientar os pequenos produtores e disseminar a cultura é um dos grandes problemas percebidos. A coordenadora faz um apelo aos jovens para que estudem e se capacitem para trabalharem no mercado de trabalho da piscicultura.

“Estudem! Preparem-se para o mercado! Tem mercado de trabalho na área. Hoje em dia, se tiver profissional capacitado, tem trabalho! Quando eu preciso de um consultor, eu sempre encontro os mesmos, mas é porque a gente não tem outros consultores. Então faço um apelo para que aqueles que realmente querem investir na atividade, façam! Porque tem mercado, o mercado é bom para se trabalhar”, orienta a coordenadora ao lembrar da importância de as pessoas estarem credenciadas no banco de consultores do SEBRAE.

Outro desafio que vem sendo enfrentado é a baixa qualidade dos alevinos e das rações comerciais usadas no projeto. Ela propõe a gestão compartilhada para diversas etapas do empreendimento para baixar os custos de produção.

“É dessa forma que a gente faz. A gente integra para diminuir os custos, inclusive para a gente ter o resultado mais positivo”, pontua.

A produção, ainda em pequena escala, encarece a cadeia produtiva e dificulta a comercialização, alerta a coordenadora, que aponta a concorrência entre o pirarucu criado em tanques e açudes e os que são oriundos do extrativismo como desafio a ser enfrentado.

Entre os desafios, incluídos na segunda fase do projeto, estão a elaboração e implantação do plano de marketing e comercialização, além da difusão e aprofundamento dos conhecimentos da primeira fase as unidades de reprodução nos sete estados.

A elaboração de vídeos-aula e publicações é outro ponto merece um cuidado especial do SEBRAE. “A gente já está pensando lá na frente como é que vai ser o trabalho de marketing, como vamos levar a questão da comercialização para o mercado. Estamos fazendo toda a filmagem daquilo que está acontecendo nas capacitações, os treinamentos; queremos vídeos aulas para quem quiser ver. Nós não vamos ter só o material escrito, como vamos ter as imagens para as pessoas verem o que está acontecendo através de vídeo aulas”, conclui.
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