Olhar Direto

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Opinião

De Rondon a Borrazópolis

Falar de Rondon é proclamar o óbvio. “Chover no molhado”. Assim sendo, pouco eu teria a acrescentar, além daquilo que já está registrado e é do conhecimento mais ou menos geral, sobre a obra enciclopédica desse mimoseano de feições abugradas típicas de pantaneiro.

Basta dizer que o mato-grossense natural da pequena vila de Mimoso, sem favor algum, se inclui entre os 10 maiores vultos da Humanidade de todos os tempos. Antes e depois da Idade Média, que é um marco cultural na contagem das eras.

Sua epopéia de desbravador dos trópicos, de estudioso das ciências naturais e antropológicas, de humanista e de defensor do meio ambiente – e, observem, sem o rótulo tão maçante do “ecochatismo”, o que só aumenta as virtudes do rondonismo - faz parte do patrimônio do que se convencionou chamar de Civilização e está em pé de igualdade com odisséias como a empreendida por Marco Pólo, na suas épicas aventuras pela China e contatos com outras culturas.

Falar mais o quê?!

Do fato do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon ser mais conhecido no estrangeiro do que no Brasil, particularmente em sua terra natal e em especial na Capital do Estado onde ele nasceu, também eu seria apenas mais uma voz entre aquelas – poucas, infelizmente – que ainda se indignam contra a falta desse reconhecimento à altura de um homem, como ele, de estatura heróica e dimensão universal.

Aliás, essa falta de sensibilidade e interesse das chamadas elites, daqueles que comandam o processo político e econômico, para investir na preservação da memória de tudo aquilo que o nosso povo (e Rondon, mais do que tudo, é povo na acepção do berço de onde veio) tem de melhor, é uma das tragédias brasileira e da qual Mato Grosso e Cuiabá não fogem à regra. Ou não fugiam, caso se concretize realmente o resgate mais amplo que o Governo do Estado está anunciando sobre a vida e obra de Rondon.

No tocante a esse aspecto, no que tange mais de perto à nossa paróquia, o historiador, jornalista e escritor cuiabano, Rubens de Mendonça, do alto da sua irreverência, já sintetizou numa frase lapidar esse descaso histórico, quando proferiu: “Quem morre em Cuiabá morre para sempre!”

Ao me socorrer do cuiabano talentoso, também escassamente lembrado por estas bandas (inclusive, quando se percorre uma das mais importantes avenidas de Cuiabá, mais conhecida como “do CPA” e cujo nome é “Historiador Rubens de Mendonça”, porém pouco citado até nas correspondências), tento provar que não estou sendo pessimista em exagero ao me referir à falta de sensibilidade oficial para resgatar e difundir acervos culturais e históricos macros, usando estratégias de comunicação de massa, visando popularizar os grandes feitos.

Ao ponto de que, quando se toca em cultura, na cabeça de muita gente por aqui, vem a da soja, do algodão ou da cana. Importantes, é verdade, para a geração de empregos e rendas, mas não suficientes para satisfazer as necessidades da mente e do espírito das pessoas. Nesse aspecto, não basta apenas encher o bucho ou a bolsa, ou os bolsos, como queiram.

Agora, por uma dessas armações do destino, precisou alguém sair lá de Borrazópolis, cidadezinha do interior do Paraná, se embrenhar ainda muito jovem no que era antes selva bruta ao Norte de Cuiabá, construir, como migrante sofrido, sua história de vida, e numa escalada de sucesso chegar a governador de Mato Grosso, para firmar intenção de parceria com um dos maiores cineastas brasileiros, Luiz Carlos Barreto, tendo como objetivo viabilizar meios para uma superprodução cinematográfica, que inclui um filme, minissérie e documentário, sobre a obra monumental de Rondon.

Que Silval prossiga - ele que também desde recém-saído da adolescência demonstrou carregar no sangue a marca de desbravador - nessa trilha aberta pelo grande Marechal.

Na próxima, volto ao assunto, para falar de outra dívida de reconhecimento cultural e histórico que Mato Grosso e Cuiabá tem.

Mário Marques de Almeida é jornalista. www.paginaunica.com.br. E-mail: mario@paginaunica.com.br

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