Olhar Direto

Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Opinião

Independência, sob influência

O Brasil completou 200 anos de independência. Um país que foi colônia de Portugal, uma das menores economia da Europa, por mais de 300 anos. Naquela época, enquanto colônia de exploração, o papel do Brasil era prover riquezas para Portugal e atender aos interesses dos colonizadores. Foi durante esse período, que a economia portuguesa foi uma das mais prósperas.
 
Muito mudou nesses 200 anos. O Brasil se tornou uma grande potência econômica. Fez parte dos países em desenvolvimento que mais cresceram. Hoje, sem dúvida, é essencial para o mundo, em especial para os mercados asiáticos, ao garantir o abastecimento alimentar, seja de produtos que vão direto para o consumo humano, ou mesmo para garantir a ração animal para ruminantes e não ruminantes engordados nesses países.
 
Entre a sua relevância econômica e social, também está o seu papel na preservação. Hoje, o Brasil possui a maior área de cobertura de vegetação nativa do mundo. Esse montante equivale a 66% do território nacional. Aliás, esse número, que não cansamos de repetir, foi diversas vezes contestado mundialmente, especialmente pela Europa. Após alguns anos, o valor já é reconhecido inclusive pelo terceiro setor, que tem feito um trabalho super importante no monitoramento dessas áreas.
 
Além do já mencionado, o Brasil foi um grande protagonista da agenda climática. A Rio 92 consagrou conceitos de desenvolvimento sustentável e selou compromissos globais. Atualmente, o grande calcanhar de Aquiles nessa agenda é o desmatamento ilegal. Porém, a ação de criminosos não pode ser maior do que o fato do Brasil ter uma matriz energética limpa, programas de descarbonização como o Renovabio e uma agropecuária com crescimento majoritariamente em bases descarbonizantes, pelas tecnologias de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) desenvolvidas pelo MAPA, pela Embrapa e por outras instituições de pesquisa.
 
Ocorre que a Europa, nossa antiga colonizadora, reforça o desmatamento. Na maior parte das vezes, ao invés de práticas inclusivas e com incentivos, inclusive financeiros, como o Pagamento pelos Serviços Ambientais (PSA) para excedente de Reserva Legal, são sugeridas medidas restritivas para banir ou limitar o acesso a produtos da agropecuária brasileira.
 
E se por um lado buscam proteger seus mercados, sob a narrativa liberal, por outro enfrentam uma crise dramática. Com a restrição de importação do gás russo, a preocupação no velho continente é com o frio. Dia após dia as temperaturas médias estão caindo e o inverno se aproxima. Alguns países, como Suíça, Alemanha e França já anunciaram medidas para conter o consumo e economizar gás para o período mais gelado.
 
Pensando na população, todo o abastecimento de energia para o inverno está sendo construído com a queima de madeira em pellets. Poderia ser pela biomassa florestal de floresta plantada. Poderia. Mas não é totalmente. Diversas florestas nativas estão sendo cortadas para garantir o abastecimento de energia. A situação é tão dramática, que o tema foi a primeira página do New York Times do dia 07 de setembro.
 
Sete de Setembro, quando celebramos 200 anos de independência. Todo esse contexto, inclusive sobre a queima de combustíveis fósseis, já estava claro durante as negociações da COP-26. Países desenvolvidos, ao mesmo tempo em que exigiam compromissos de redução das emissões de países em desenvolvimento, mantiveram fora das negociações as questões energéticas.

As negociações precisam ser justas e entrar na balança os ativos e passivos de todos. As emissões brasileiras precisam ter o mesmo peso das emissões europeias, assim como nossas reservas precisam ser contabilizadas. Reconhecem a independência brasileira, mas só quando convém.
 
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria & Comunicação
 
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