Olhar Direto

Quarta-feira, 15 de maio de 2024

Opinião

Nas mãos dos homens

A ambição política do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não conhece limites, suas manobras para se livrar de denúncias de corrupção, em governos anteriores, e manter seu poder político culminaram com uma guerra-santa empreendida contra o poder judiciário de Israel;pretende submeter a validade das decisões da suprema corte de Israel ao Knesset – Parlamento de Israel.

O seu plano de poder conta com o apoio de políticos ultraortodoxos, fazendo-lhes vontade com cargos no governo e com a retomada de políticas agressivas de assentamentos na Cisjordânia e o aumento das restrições à população da Faixa de Gaza, empreendidas de forma truculenta; consta ainda que o delírio de Poder dos ultraortodoxos incluí a tomada da mesquita de Al-Aqsa (Domo da Rocha) no Centro de Jerusalém, para ser administrada por Judeus.

Apenas para contextualizar o barril de pólvora que é Jerusalém, tenha em mente que o terceiro lugar mais sagrado no mundo para um Muçulmano é o Domo da Rocha ou monte Moriá – que é um platô localizado no centro da cidade de Jerusalém, e que foi tomado por Israel dos palestinos na Guerra dos Seis Dias em 1967, mas que ainda é administrada por uma sociedade Muçulmana –; o Domo da Rocha seria o lugar onde Abrão (Ibrahim) levou Isaac para o sacrifício (p/ Judeus e Cristãos); ou onde Ibrahim (Abrão) levou Ismael para o sacrifício (p/ Muçulmanos); e mais, lá no mesmo lugar foi onde, segundo Muçulmanos, o Profeta Maomé ascendeu aos céus em um cavalo-alado.

Sob o monte Moriá está edificada a Mesquita de Al-Aqsa, e, em um dos lados de sua base está localizado o que restou do templo de Jerusalém construído por Salomão, isto é, o Muro das Lamentações que é considerado o local mais sagrado do judaísmo no planeta terra. Entendem a dificuldade? Enfim, o mesmo lugar é sagrado (e põe sagrado nisso) para Judeus, Muçulmanos e para os Cristãos, e, todos eles se acham no direito “divino” de administrar o lugar, com exclusividade!

Tudo isso fez o nível de tensão com os palestinos chegar a níveis inaceitáveis, assim como a inércia de vários anos da ONU e da comunidade internacional (inclusive árabes) com a causa do Estado Palestino; o Hamas, ao que parece, tomou para si o desespero povo palestino e deu início a uma empreitada de altíssimo risco, ou seja, um ataque terrorista em Israel para chamar a atenção do mundo. Conseguiu! Mas qual será o preço? O uso de práticas terroristas pelo Hamas facilitou a vida de Netanyahu, pois agora conta com um governo de coalizão nacional para enfrentar a crise externa, tamponando assim a crise interna.

Os Estados Unidos (Governo Biden) se opunha a política de Netanyahu, mas agora tem que apoiá-lo em razão do terrorismo sofrido. O direito internacional não transaciona com certos valores, em hipótese alguma, há quem pense o contrário, mas a forma como o Hamas agiu contra Israel não pode ser justificada, porque não tem amparo algum, uma vez que terrorismo não é ato legítimo de defesa de interesses de um Estado; por exemplo, no Brasil temos vigente internamente por força do Decreto nº 42.121, de 21 de agosto de 1957, as convenções concluídas em Genebra em 12 de agosto de 1949, destinadas a proteger vítimas de defesa (prisioneiros de guerra); a título exemplificativo, o nosso direito interno também não admite sequestro, vejam que o crime de Extorsão Mediante Sequestro previsto no Código Penal Brasileiro é crime hediondo – nossa sociedade não admite o sequestro como prática legitima de protesto!

Em suma, não há negociação diplomática com faca no pescoço, pensar que Israel deveria negociar com o Hamas enquanto ele mantém reféns, ou, que tal prática é justificável, lembrou-me cena do filme Tropa de Elite; quando uma personagem estudante universitária que cuida de ONG na favela disse ao Capitão Nascimento, outra personagem, a sua opinião sobre o traficante chefe do morro: Capitão, o Baiano tem consciência social! Importante dizer que os Palestinos têm direito ao reconhecimento de seu Estado e que lhes é empreendida guerra sórdida de aniquilamento por Netanyahu (Israel, faz tempo); e que a palestina é uma coisa e o Hamas é outra; mas terrorismo não é tolerado nas relações internacionais civilizadas, portanto, o Brasil não pode apoiar atos terroristas; ou seja, Israel tem o direito de se defender e poderá retaliar o Hamas, posto que as regras internacionais lhe favorecem nesta quadra inicial deste conflito.

O culpado dessa situação dramática, segundo analistas internacionais (a maioria israelenses), é Netanyahu, que colocou Israel na maior armadilha política de sua história recente por conta dos distúrbios internos que sua política engendrou. Assim está estampado em jornais de Jerusalém à Nova York, pois grande parte da sociedade civil saiu em defesa do Poder Judiciário, com várias manifestações que contaram até com a participação de militares que também se opõem a reforma do Judiciário – fica a dica, reformar Suprema Corte tem lá os seus inconvenientes, inclusive aqui.

A questão da Palestina (Cisjordânia e Gaza) assim como a segurança do Estado (no longo prazo) podem se tornar questões de de menor relevância, ao cabo desta crise, que agora é manejada pelos Senhores da Guerra (Rússia e EUA) – a guerra é muito interessante para muitos atores internacionais.

Ninguém até agora disse que apoiou o Hamas, ou deu-lhe suporte – o Irã, como todos, também nega qualquer participação, mas já sofreu retaliação dos EUA com bloqueio de bens –; o ocidente não acredita que Teerã assista inerte a assinatura de um acordo de paz do Estado Saudita com o Estado de Israel sob as bênçãos dos norte-americanos. Duas potencias regionais brigam pela hegemonia política do Oriente-Médio: Irã (apoiado pela Rússia) e Arábia Saudita (apoiada pelos EUA).

O pano de fundo, não menos importante do conflito é a questão Religiosa (teológica) entre Muçulmanos Sunitas (Arábia Saudita, Egito, Iêmen, Paquistão, Indonésia, Turquia, Argélia, Marrocos e Tunísia) e Muçulmanos Xiitas (Irã, Iraque, Bahrein, Azerbaijão e Síria); o Irã, assim como muitos, questiona a guarda e administração dos dois monumentos mais sagrados da religião islâmica pela Arábia Saudita: Meca e Medina. O Governo Sírio de Bashar al-Assad, Rússia e o Hezbollah saíram vitoriosos na recentíssima guerra civil na síria e contra o Estado Islâmico (ISIS).

O Hezbollah é a principal força político-militar da comunidade xiita no Líbano e o braço principal do que ficou conhecido mais tarde como a Resistência Islâmica no Líbano; o governo de Damasco interfere politicamente no Líbano, hoje um Estado Zumbi, o que é um problema extra para Israel, que pode ter duas frentes de combate para se preocupar, acaso haja guerra. Mas pode ser que todas as ameaças do Hezbollah e do mundo árabe não passem de retórica para segurar a mão pesada na retaliação de Israel na faixa de Gaza – não esquecer que o único Estado da região com poder bélico nuclear é Israel.

Lembrem que Gaza é composta por miseráveis, uma favela murada em uma franja no deserto junto ao mar, com mais ou menos 10 km de comprimento por 5 Km de largura, onde vivem espremidas dois milhões de pessoas; todos são dignos de misericórdia, mas a população civil da palestina precisa da atenção humanitária do mundo para sobreviver, ou morrem.

O revide de Israel, comandado por Benjamin Netanyahu, contra o Hamas em Gaza, talvez, seja o desejo de uma vida, um plano que contou com a ajuda do desespero dos Palestinos e mais ninguém; está nas mãos dele a decisão que pode mergulhar, ou não, Israel e a região no caos e colocar “Ares” em cena.

A guerra do deus grego Ares é uma guerra insana, que não conhece limites de selvageria e brutalidade tal como em Troia, violência devastadora que não conhece racionalidade; é o preferido das Eríneas. Uma frase de Golda Meir nunca fez tanto sentido: “É mais fácil fazer uma revolução do que conservar os valores pelos quais ela foi feita” – o que conta mesmo é o que acontece daqui para frente! A retaliação ao Hamas, acaso ocorra em Gaza, será observada por todos com atenção, e, a forma, a intensidade e os danos colaterais sofridos pela população civil com as ações bélicas excessivas ou desastradas serão avaliados pelo mundo todo, sobretudo, o mundo árabe; e quem por ora é vítima, pode tornar-se o vilão e alvo de repulsa.

A guerra que se prenuncia é oportuna e lucrativa porque faz o preço do petróleo subir; afasta a paz da região (acordo Arábia Saudita e Israel); mantém o Irã e Síria em posição confortável; tira o foco da guerra da Rússia contra a Ucrânia (e das covardias de Putin com o sequestro de crianças Ucranianas), levando, pois, bagunça ao mundo todo como desejam alguns neste momento – desnecessário alongar que na região do conflito estão as maiores fontes de petróleo do mundo, e que outra guerra abalando seu fornecimento poderá levar a economia mundial ao colapso. Esperança? Sempre tem, até porque, “Olho por olho, e o mundo acabará cego” – Mahatma Gandhi; “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim” – Chico Xavier. Enfim, sem um Estado Palestino legítimo, e um Judeu reconhecido pelos seus vizinhos, nunca haverá paz em Jerusalém e no Oriente Médio. Isso tudo é uma opinião pessoal! 

Diogo Egidio Sachs é  Advogado.
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