Olhar Direto

Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Opinião

Vivências no V Encontro de Educação Quilombola: Vila Bela da Santíssima Trindade/MT.

Entre os dias 20 a 22 de setembro de 2023, o município de Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, sediou o “V Encontro de Educação Quilombola: a reconstrução das políticas nacionais para a educação escolar quilombola e seus desafios no Estado de Mato Grosso”. O evento ocorreu na Escola Quilombola Verena Leite de Brito coordenado pela professora Doutora Suely Castilho e pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Quilombola (GEPEQ/UFMT) com a participação de todos os representantes das comunidades quilombolas do Estado de Mato Grosso. Além dos representantes, as comunidades escolares inseriram nas discussões professores e alunos da rede estadual de ensino, alunos de graduação e pós-graduação (mestrandos e doutorandos) da Universidade Federal de Mato Grosso, Delegacia Regional de Ensino (DRE/SEDUC -Pontes e Lacerda), representantes do Ministério da Cultura (MINC) e da Coordenação Nacional dos Quilombolas (CONAF), além do prefeito e secretários do município sede.

O evento que a cinco anos discute em mesas redondas as práticas e saberes da educação quilombola, as necessidades da representação de toda a comunidade em seus locais de fala e apresenta nos grupos de trabalhos projetos que ao longo do ano letivo foram desenvolvidos, sobretudo, para a qualificação proficiente de estudantes quilombolas da rede pública, partindo de conceitos teóricos interdisciplinares e culminando na prática dos mesmos. Neste ano, foram apresentados oitenta e oito projetos que vão desde aprender gênero textual com ervas medicinais, o esquecimento dos quilombos mato-grossense nos livros didáticos, a importância de Teresa de Benguela, permanência dos estudantes quilombolas em nível superior, musicalidade como reconhecimento de territorialidade, artesanato nos quilombos, relatos de experiência na construção das bonecas Abayoimi, saberes tradicionais como sabão de cinza, produção de chocolate, colorau, colchão de capim Membeca, tapete de malha no tear e forno de Cupim, permanência das danças do chorado do congo, siriri, dentre vários outros temas que abrangem o universo cultural e social das comunidades.

Para além das discussões realizadas nos grupos de trabalho, acerca do desenvolvimento dos projetos realizados nas unidades de ensino quilombola, na ocasião do evento foi lançado a Revista “Quilombolando Ideias”, que tem como objetivo divulgar as discussões da produção de quilombolas em formato de leitura de fácil compreensão, e junto a isso a revista propõem pensar sobre as práticas e saberes produzidos e os que estão por vir. Na direção institucional do Coletivo Herdeiras do Quariteré, está a Drª. Silviane Ramos Lopes da Silva, o coletivo foi inaugurado durante o evento com espaço físico próprio que funcionará como lugar de memória, oferecendo a comunidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, cursos e práticas de preservação de origem quilombola.

Foram dias de intensidade ao que tange as discussões inseridas no âmbito da educação quilombola, da preservação memorial, cultural, social e na manutenção da permanência territorial. A participação das comunidades suscita questões que abordadas, ouvidas e faladas sobre a ótica das locais e as necessidades que emergem e muitas vezes não são atendidas. É necessário que as vozes quilombolas estejam e sejam ouvidas com maior frequência, não somente em eventos específicos, mas em todos os campos além de educacionais e/ou midiáticos.

Lidiane Álvares Mendes é doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT. Bolsista CAPES. Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro – Manaus/AM – 1894-1930. 
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