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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Opinião

A fantasia que mais dá medo

Na última semana o Halloween foi um dos assuntos mais comentados na internet, em meio a realização de festas, caça a doces, casas decoradas, crianças e adultos com fantasias das mais fofas às mais horripilantes. Nas ruas e nas redes, o tema despertou a alegria de quem participa e a ira de quem condena.

Bruxinhas, abóboras com caretas malvadas, fantasmas, zumbis, personagens clássicos das histórias de terror... As caracterizações foram as mais variadas. Porém, a fantasia que mais deu medo não teve cor nem modelo, teve um padrão: a intolerância.

No Brasil, país em que aproximadamente 90% da população declara-se religiosa, o Halloween foi comemorado por todos os cantos e, ao mesmo tempo, duramente combatido por alguns grupos. Importante ressaltar que não gostar desta festa e manifestar insatisfação jamais pode ser considerado intolerância.

A opinião contrária só ganha status de intolerância quando ultrapassa o viés do "o que eu penso sobre isso", para o "quero que você aja de acordo com o que eu penso" ou "você é inferior a mim porque pensa diferente".
Vi e ouvi manifestações contrárias ao Halloween de forma bastante saudável, exercendo o direito de opinião que cada um possui, e esse tipo de debate sempre é saudável. Mas também vi a intolerância tentando fantasiar-se de liberdade de expressão, o que certamente deixa marcas visíveis.

Vi pessoas querendo que a festa seja proibida ("eu não gosto e além de não participar quero que o outro não participe"), vi pessoas ofendendo quem gosta, discriminando quem participa, categorizando pessoas segundo suas próprias crenças e querendo impor ao outro o que faz sentido a si mesmo.

A liberdade de expressão não permite ofender ou moldar o comportamento do outro, isso sempre será intolerância, sem eufemismos. Agir até onde não cria prejuízos na vida do outro é imperativo tanto na lei dos homens quanto nos ensinamentos cristãos.

Eu vi monstros, caveiras, fantasmas, maquiagens cinematográficas, trilhas sonoras assustadoras, decorações de filme de terror, mas nada me deu tanto medo quanto a intolerância. Nada me deixou mais apavorada que pessoas julgando, condenando, impondo suas crenças ao outro, ofendendo, segregando.

Para algumas pessoas, o Dia das Bruxas, como é chamado no Brasil, é uma data de diversão, doces, fantasias e brincadeiras de terror. Para outras, é um culto à maldade. Cada um compra a tese que faz sentido à sua própria vivência e visão de mundo – e ninguém precisa impor seu filtro ao outro.

Fica aqui uma reflexão para que possamos combater nossos próprios "demônios" internos: raiva, soberba, orgulho, vaidade – sentimentos que levam a julgar, condenar, impor e segregar. Esses sentimentos são totalmente contrários a qualquer ensinamento de qualquer doutrina religiosa.

Que a teoria não se sobreponha à prática. Que a forma não seja mais importante que o conteúdo. Que nossas obras sejam mais valiosas que nossas crenças. Que o espelho seja alvo de maior observação, antes de tudo. E, seja brincando na noite de Halloween ou rezando no Dia de Todos os Santos, que cada um possa estar em paz consigo mesmo – pois é o melhor caminho para gerar a paz ao seu redor.
 
Thalita Araújo é Jornalista e contadora de histórias. 
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