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Quarta-feira, 29 de maio de 2024

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Células maternas moldam imunidade de bebê no útero

Os pesquisadores há muito queriam descobrir de que maneiras mulheres grávidas podem influenciar o desenvolvimento de seus fetos - protegendo-os contra futuras doenças, talvez, ou instalando neles uma apreciação por Mozart.


Agora, um grupo na Califórnia descobriu um novo e surpreendente mecanismo pelo qual as mães treinam os sistemas imunológicos incipientes de seus fetos: as células maternas atravessam a placenta, penetram no corpo do feto e o ensinam a tratá-las como se fossem parte do corpo dele.

Uma das tarefas cruciais no desenvolvimento do sistema imunológico é aprender a distinguir entre o indivíduo e as substâncias estranhas a ele. É complicado. O sistema precisa responder a ameaças externas mas sem reagir em excesso a estímulos inofensivos ou aos tecidos do próprio corpo.

As novas descobertas demonstram "como a mamãe ajuda a afinar todo o sistema logo no começo", disse William Burlingham, imunologista na Universidade do Wisconsin que não participou da pesquisa. "É um grande avanço, muito novo e muito animador".

O trabalho pode ter relevância para pesquisas sobre tópicos diferenciados como o transplante de órgãos e a transmissão de mãe a filho do HIV e de doenças imunológicas como o diabetes tipo 1. "O estudo abre caminho para o estudo de uma ampla gama de questões biologicamente significativas e dignas de pesquisa", disse Burlingham.

Os pesquisadores, que operam da Universidade da Califórnia em San Francisco, trabalharam com nódulos linfáticos e baços de fetos abortados no segundo trimestre de gestação. Também extraíram sangue das mulheres que estavam gestando esses fetos a fim de testar respostas imunológicas específicas.

A equipe examinou 18 amostras de nódulos linfáticos de fetos e encontrou traços de células maternas em 15 deles. Os pesquisadores sabiam há décadas que algumas células maternas atravessam a placenta e podem ser observadas nos tecidos dos fetos. Mas os especialistas afirmam que o novo trabalho apontou para uma incidência surpreendentemente elevada de células maternas.

"Isso nos diz que é preciso prestar mais atenção ao que essas células estão fazendo", disse o Dr. J. Lee Nelson, imunologista do Centro de Pesquisa Fred Hutchinson, em Seattle, que conduziu as primeiras pesquisas a sugerir que as células maternas podem persistir nos tecidos de adultos normais.

A equipe de San Francisco também observou que as células regulatórias T, um tipo específico de célula imunológica, estavam presentes em largos números nos nódulos linfáticos fetais. As células T regulatórias tipicamente operam para suprimir a resposta imunológica. Em uma mulher grávida, por exemplo, essas células podem ajudar a impedir que o sistema imunológico trate o feto como objeto estranho e o ataque. Os cientistas queriam determinar se um mecanismo simétrico existia nos fetos.

"Queríamos determinar o que estava induzindo aquelas células a proliferar, e que papel específico elas desempenham nos tecidos fetais", disse Jeff Mold, estudante de pós-graduação em imunologia na Universidade da Califórnia em San Francisco. O grupo conseguiu demonstrar que as células da mãe são causa direta de que o tecido fetal produza mais células T regulatórias. Estas, por sua vez, ajudam a impedir que o sistema imunológico do feto ataque as células da mãe.

O feto é geneticamente distinto da mãe e do pai, já que recebe ADN dos dois. Isso significa que seu sistema imunológico poderia rejeitar as células maternas como estranhas, já que elas apresentam certas características superficiais que não são transmissíveis. O trabalho em curso pode ajudar a explicar por que isso não parece acontecer no curso de uma gestação normal.

"Nós encontramos um mecanismo específico que explica como as células da mãe induzem maior tolerância no sistema imunológico fetal", disse Mold, o principal autor do estudo, publicado em 5 de dezembro pela revista Science. Outros especialistas dizem que a descoberta pode ter implicações importantes para o trabalho com transplantes.

Quando os pacientes recebem órgãos transplantados, em geral precisam usar remédios que suprimem seu sistema imunológico e impedem que ataque o tecido estranho. Mas esses remédios podem resultar em maior suscetibilidade a problemas renais, infecções e fraqueza óssea, disse Burlingham.

"Gostaríamos de encontrar maneiras de transplantar tecidos sem que isso resulte em dependência vitalícia de remédios", ele disse. "Isso poderia ser possível caso os pesquisadores levassem mais em conta os perfis imunológicos das mães dos pacientes ao selecionar órgãos para transplante".

A descoberta também pode ser relevante para o estudo da transmissão de doenças infecciosas de mães a filhos. Quando uma mulher grávida é infectada por HIV, por exemplo, é freqüente que ela não transmita o vírus ao feto, diz o Dr. Joseph McCune, o imunologista que comanda o grupo envolvido na pesquisa.

McCune diz que está curioso para determinar se o mesmo mecanismo que impede que o feto ataque as células maternas também ajude a protegê-lo contra infecções. E ele quer determinar se a tolerância tem papel central em ambos os processos. "São algumas das questões importantes em que estamos interessados no momento", ele afirmou.

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