O papa Bento XVI considera que, em alguns casos, o uso de preservativos se justifica, mas ressalta que eles não são a "verdadeira" forma para combater a Aids, já que é necessária uma "humanização da sexualidade".
O papa assim expressou no livro-entrevista produzido pelo escritor Peter Seewald - baseado em entrevistas com Bento XVI -, que será lançado no próximo dia 23, mas que teve alguns trechos divulgados neste sábado pelo jornal vaticano "L'Osservatore Romano".
No livro, dividido em 18 capítulos e com 284 páginas, o Papa também afirma que não ficou totalmente surpreso pelos escândalos de padres pedófilos, mas a dimensão do problema foi "um choque enorme".
Perguntado sobre sexualidade, o Papa disse que "se basear só" no preservativo significa banalizar a sexualidade e que isso faz com que muitas pessoas não vejam na sexualidade a expressão do amor, "mas apenas uma espécie de droga, que fornecem a si mesmos".
"Podem ter alguns casos em que se justifique o uso do preservativo, quando, por exemplo, uma prostituta utiliza um profilático. Isso pode ser o primeiro passo em direção a uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade, consciente que nem tudo está permitido e não se pode fazer tudo o que um quer", afirma.
Bento XVI acrescenta que o uso do preservativo "não é a verdadeira maneira para combater a aids, já que é necessária uma humanização da sexualidade".
Com estas palavras, o papa reitera o que disse durante sua viagem à África, quando afirmou que a aids "não se combate só com dinheiro, nem com a distribuição de preservativos, que, ao contrário, aumentam o problema".
A aids, segundo Bento XVI, se vence com "uma humanização da sexualidade e novas formas de condutas".
Essas palavras, em um continente onde 27 milhões de pessoas estão contaminadas pelo vírus da aids, foram duramente contestadas por vários países ocidentais, que ressaltaram que o preservativo é um elemento fundamental para prevenir a transmissão da doença.
Bento XVI também foi perguntado sobre os casos de padres pedófilos e assinala que não foi uma surpresa, já que quando esteve à frente da Congregação para a Doutrina da Fé tomou conhecimento dos fatos ocorridos nos EUA e, depois, na Irlanda.
"Mas a dimensão do problema foi um choque enorme", assegura o Papa, que lembra que já em 2006 - um ano após ser eleito pontífice - pediu aos bispos irlandeses que "revelassem o ocorrido e que tomassem todas as medidas" para evitar que o crime volte a ocorrer.