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Domingo, 19 de maio de 2024

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Desorientação espacial pode ter afetado pilotos do voo 447, diz analista

Os pilotos que estavam no comando do voo 447 da Air France podem ter sofrido desorientação espacial nos momentos que antecederam a queda do Airbus no Oceano Atlântico, em 1º de junho em 2009. O problema faz com que pilotos e copilotos tenham uma ilusão de referência durante o voo, fator considerado contribuinte para acidentes aéreos, e deixar os comandantes sem a sensação de queda, por exemplo.


Isso pode ser agravado pelo fato de os pilotos tere enfrentado dificuldade de acessar os dados dos instrumentos automatizados do avião e estarem sem referência visual confiável.

"O que aconteceu foi uma desorientação espacial. Eles perderam a referência pelos instrumentos, eles ficaram desorientados. Se olharmos em um relógio, eles deveriam estar no ponteiro das duas horas e caíram no ponteiro das nove horas. Tecnicamente, eles caíram na proa 270 graus magnéticos, que é a Oeste, e deveriam estar na proa 20 ou 30, que é a Nordeste, na direção da Europa", disse o médico aeroespacial Paulo Demenato, credenciado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Ele afirmou ainda que o Airbus voou para o mar. "Na verdade, eles não caíram, eles entraram voando no mar. Os passageiros encontrados estavam afivelados. Foi um acidente que pode ser chamado de Controlled Flight into Terrain (CFIT) [Voo Controlado ao Solo]. Eles estavam com 55% da potência de turbina no momento da queda. Os pilotos estavam voando mesmo. É impressionante o que acontece. Para sair disso, só olhando para os instrumentos do painel. Hipoteticamente, eles nem teriam sentido frio na barriga."

O médico acredita que os tripulantes e passageiros do voo 447 morreram no momento do impacto da aeronave com a água. "Acho que eles passaram os 3 minutos e 30 segundos vivos. A desorietanção espacial é isso mesmo, os pilotos não sabem que estão caindo. Os pitots [sensores de parâmetros, como altitude e velocidade] congelaram e o painel de informações teria apagado, apresentado problemas", disse Demenato.

A tese dele pode explicar a possibilidade de os pilotos pudessem não ter compreendido corretamente que a aeronave entrou em stall (perda de sustentação) e por isso adotaram procedimentos equivocados que podem ter levado à queda do avião. "O papel do piloto é fazer julgamento. Quem estava na cabine [do Airbus] julgou errado. O procedimento de perda de painel é treinado em simulador, não é novidade para pilotos, e eu tenho certeza que eles fizeram. Quero acreditar nisso", afirmou o médico aeroespacial.

Relatório da investigação
Conforme dados divulgados nesta sexta-feira (27) pelo BEA (Escritório de Investigações e Análises da França), que apura a tragédia, o alarme de stall tocou várias vezes durante os 3 minutos e 30 segundos que durou a queda. Primeiro, houve uma falha nos pitots, sensores de parâmetros, como altitude e velocidade, que passaram a enviar informações erradas à cabine. A Air France divulgou um comunicado confirmando a falha nos sensores.

Segundo o BEA, o último registro da caixa-preta é que o Airbus estava a uma velocidade de cerca de 200 km/h (10.912 pés por minuto).

Reação equivocada dos pilotos
Conforme o presidente da Associação Brasileira de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, George Sucupira, a tendência do piloto quando o avião está em stall é jogar o nariz da aeronave para baixo, ganhando assim velocidade e conseguindo obter a sustentação.

Mas os pilotos do AF 447 fizeram um procedimento diferente do padrão entre os pilotos em caso de estolagem da aeronave, conforme especialistas e técnicos em investigação de acidentes aeronáuticos ouvidos pelo G1. Os pilotos do Airbus do AF 447 determinaram em todos os momentos que fosse elevado o nariz da aeronave, segundo o BEA.

Os pilotos receberam duas indicações de velocidade diferentes por pouco menos de 1 minuto, possivelmente devido ao congelamento dos pitots.O texto divulgado pelo BEA não faz nenhuma análise sobre os fatos, apenas descreve como os pilotos agiram após o congelamento dos pitots, quando teve início a tragédia.

Informações erradas de velocidade
Como a caixa-preta registra informações de apenas dois pitots, o BEA divulgou que dois dos três pitots do Airbus congelaram. O terceiro pitot, que fica no lado direito da aeronave, possivelmente também deve ter tido problema. Eles passaram a enviar informações erradas à cabine. Neste instante, às 2h10min05s, o piloto automático desliga-se automaticamente e o alarme de stall dispara pela primeira vez.

Os pilotos perceberam que estavam com informações erradas sobre a velocidade e assumem manualmente o comando da aeronave. O piloto fala “eu tenho o comando” e sempre comanda a aeronave para subir. Onze segundos depois, diz: "perdemos as velocidades".

A velocidade nos mostradores caiu muito, conforme o BEA. Em seguida, o piloto que estava no comando da aeronave tentou chamar várias vezes o comandante de bordo, que estava dormindo.


Perda de sustentação
Às 2h10min51s, o alarme de perda de sustentação tocou várias vezes. Às 2h11min40s, o comandante de bordo retornou à cabine, mas não chegou a assumir o comando. E, nessa ocasião, os valores de velocidade pararam de ser registrados. O Airbus entrou em stall totalmente e o avião começou a cair em uma velocidade vertical de mais de 10 mil pés por minuto, sempre mantendo a posição horizontal. Às 2h12min02s, o piloto no comando disse: “eu não tenho mais nenhuma indicação”.

O BEA não informou se os pilotos entenderam de forma errada o alarme de stall e se haviam recebido treinamento para atuar em situações anormais e de pane como essa. Em nenhum momento os pilotos conseguem recuperar a perda de sustentação da aeronave.

O presidente da Associação Brasileira de Pilotos e Proprietários de Aeronaves comenta um outro fato que pode ter contribuído para a queda. Um voo da Ibéria que fazia o mesmo trecho e havia decolado pouco antes do AF 447 deslocou para leste, pouco antes da tempestade. Já o avião da Air France virou para oeste, mais para dentro da tempestade.

A Força Aérea Brasileira informou que não iria se manifestar sobre o relatório divulgado pelo BEA. O Ministério da Defesa não respondeu ao questionamento do G1 sobre se iria comentar os dados.
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