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Sábado, 04 de maio de 2024

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Prisão de Mladic resulta de cálculo político sérvio, diz jornalista bósnio

Foto: Divulgação

Prisão de Mladic resulta de cálculo político sérvio, diz jornalista bósnio
A prisão do ex-general sérvio-bósnio Ratko Mladic, acusado de crimes de guerra e genocídio, após 16 anos foragido, foi resultado de um “cálculo político”, afirma o jornalista bósnio Drazen Simic, um dos editores da revista online “Zurnal”.


“Prender Mladic foi puramente resultado de um cálculo político. Prendê-lo antes de 6 de junho, quando o procurador [Serge] Brammertz [promotor de crimes de guerra das Nações Unidas] vai submeter seu relatório enviado a cada seis meses ao Conselho de Segurança da ONU, garante à Sérvia sinal verde para sua candidatura à União Europeia até o final deste ano”, disse o jornalista em entrevista ao G1, de Sarajevo, onde vive.

Mladic, que vai enfrentar as acusações no Tribunal Penal Internacional de Haia, foi preso há uma semana nos arredores de Belgrado. Ele é apontado como responsável pelo massacre de 8 mil adultos e crianças muçulmanos em Srebrenica, durante a guerra da Bósnia (1992-1995), o que lhe valeu o apelido de “carniceiro dos Bálcãs”.

A primeira sessão do julgamento está prevista para esta sexta-feira (3).

O fato de Mladic estar em liberdade era considerado um entrave à candidatura da Sérvia a membro da União Europeia. “Se Mladic não estivesse preso, isso não seria possível e adiaria o status de candidato da Sérvia por pelo menos um ano”, diz Simic.

Por outro lado, na opinião do jornalista, se o ex-comandante do Exército sérvio-bósnio tivesse sido preso há mais tempo, o país teria que equacionar outros pré-requisitos à candidatura, como “o combate sério contra a corrupção, o Estado de direito e outras reformas importantes, mas impopulares para os políticos”.

Para a antropóloga brasileira Andréa Peres, que viveu dois anos em Sarajevo, há um certo "ceticismo" em torno da prisão do ex-general, já que ocorreu 16 anos após a guerra e "num momento conveniente para a Sérvia", embora para os parentes das vítimas de Srebrenica "não se trate de um fato banal".

Embora reconheça que a prisão do ex-general não signifique a admissão automática à União Europeia, segundo Simic o status de candidato vai permitir acesso aos fundos do bloco, “o que sem a candidatura não seria possível”.

A Sérvia vinha sofrendo pressão dos países ocidentais para que efetuasse a prisão de Mladic e chegou a ser acusada de simular buscas durante as visitas de Serge Brammertz ao país.

Segundo o jornalista, até 2006, Mladic vivia normalmente em sua casa em Belgrado, frequentava restaurantes e ia a partidas de futebol. “Após esta fase, ele decidiu se manter mais discreto e é claro que tinha proteção, pelo menos de parte dos aparatos militares e de segurança, que com certeza sempre souberam onde ele estava a qualquer momento.”

‘Herói’
A prisão de Ratko Mladic provocou reação em grupos de extrema-direita do país, que organizaram manifestações de apoio ao ex-general em diversas cidades. Segundo Simic, isto ocorre devido à divisão de grupos étnicos no país, que abriga bósnios, sérvios e croatas.

“Para bósnios e croatas, Mladic é a personificação do mal enquanto para os sérvios, é um herói. Eles negam que ocorreu um crime em massa em Srebrenica e, mesmo os que admitem que houve, acreditam que se tratou de uma vingança por crimes anteriores contra os sérvios”, explica.

"Mais que dividida entre sérvios, muçulmanos e croatas, a Sérvia é dividida em nacionalistas e não-nacionalistas. Muitas pessoas com quem eu conversei acham que as mortes foram conseqüência de uma guerra civil, onde todos os lados são igualmente culpados e cometeram atrocidades", conta a antropóloga Andréa Peres, autora da tese de doutorado "Contando histórias : fixers em Saravejo", em que analisa o papel dos intérpretes (fixers) que tornaram possível a cobertura jornalística durante a guerra (Unicamp).

Para famílias de vítimas do massacre, no entanto, a prisão do ex-general significa que, mesmo tarde, o responsável por um genocídio vai enfrentar a justiça, “embora não exista punição adequada para alguém responsável pela execução de 8 mil pessoas”, diz o jornalista.
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