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Terça-feira, 07 de maio de 2024

Notícias | Educação

Nem qualificação dá chance de emprego para mais jovens

Basta circular por bairros de classe média baixa da região metropolitana do Rio de Janeiro para constatar um dos mais cruéis efeitos da crise econômica: o aumento do desemprego entre jovens. Ociosos, eles passam o dia sentados em grupo nas praças e nas calçadas.


O cenário confirma a pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na semana passada, que apontou taxa de desemprego de 21,1%, na faixa etária dos 16 aos 24 anos, em março.

A Folha ouviu dezenas de rapazes e moças na zona oeste do Rio e nos municípios de Duque de Caxias e Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e constatou o esforço das famílias para custear a qualificação técnica dos filhos e a decepção com os cursos rápidos, que não abrem portas no mercado de trabalho.

""Há seis meses procuro emprego. Qualquer um. Na semana passada, fui atrás de um anúncio falso. Eu teria que convencer alguém na rua a comprar um eletrodoméstico que não existia para conseguir a vaga. Só me aparecem arapucas", diz Rúbio Catrinck, 19, morador de Belford Roxo.

Estudante do supletivo do ensino médio, Catrinck fez cursos de informática básica e de manutenção de computadores.

O estudante universitário Victor Jacinto da Silva, 22, também de Belford Roxo, está desempregado há dois meses. Depois de trabalhar como copeiro, auxiliar e vendedor, procura emprego dentro de sua área de estudo: gestão da tecnologia da informação.

Filho de pai taxista e de mãe doméstica, atribui ao fato de morar a 50 km do centro do Rio parte do desinteresse por seu currículo. Ele pesquisa as ofertas de emprego e envia o currículo pela internet, mas, até agora, não teve, segundo diz, ""nenhum feedback". ""Levo duas horas para chegar ao centro do Rio, e a passagem custa R$ 4,50. Quem vai me contratar podendo escolher um candidato mais perto?", afirma.

O ponto de encontro dos jovens desempregados do bairro São Vicente, em Belford Roxo, é a avenida Boulevard. Todos os dias, por volta das 15h, eles se juntam para bater papo.

""A gente corre atrás de emprego, e ele corre da gente", disse Jony Cardoso, 19. Ele parou de estudar, trabalhou como ajudante de caminhão e está sem emprego há um ano.

""Nosso programa é ficar sentado no meio-fio, olhando os carros passarem. No fim da tarde, jogamos futebol. Depois, voltamos para a rua e continuamos a conversar até a madrugada", disse Wilber Santos da Silva, 18, que já fez ""bicos" como auxiliar de pedreiro.

Petróleo e gás

Trabalhar na produção de petróleo e gás é o emprego idealizado pela maioria dos ouvidos no bairro de Padre Miguel (zona oeste do Rio) e no município de Duque de Caxias.

A Petrobras, que contrata apenas via concurso público, é a empregadora dos sonhos.

Júlio Martins, Jorge Luiz Silva, William Oliveira e Wellington Benício, com idades entre 18 e 32 anos, têm segundo grau completo e frequentam cursos particulares de qualificação.

Eles passam a maior parte do tempo com outros desempregados na praça Silvinha Teles, no conjunto habitacional Dom Jaime Câmara, em Padre Miguel (zona oeste), que tem 180 prédios e 7.500 apartamentos.

Os mais velhos, Wellington e William, fazem curso técnico e declararam abertamente que sobrevivem da agiotagem. Depois de terem sido demitidos, passaram a emprestar o dinheiro da indenização, a juros de 30% ao mês, a outros desempregados ou subempregados.

É mais frequente encontrar rapazes desempregados pelas ruas do que de moças.

Mães solteiras, Rafaela Gonçalves, 24, Juliane dos Santos, 19, e Natasha Teichart, 17, moram no conjunto Jaime Câmara e estão à procura de emprego. A exemplo dos homens, fizeram cursos técnicos rápidos para as áreas de telemarketing, computação e vendas. As famílias se mobilizam para pagar as mensalidades. Tios e avós se cotizam para pagar os cursos.


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