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Domingo, 19 de maio de 2024

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Tratando de câncer a espinha, médico é desvalorizado na periferia

Foto: Lucas Bólico - OD

Doutor Werley Peres atendendo pacientes em casa.

Doutor Werley Peres atendendo pacientes em casa.

Dona Aninha tem 86 anos e mora em um dos bairros mais periféricos da capital, o Novo Paraíso, que só tem duas ruas asfaltadas. Ela não enxerga quase nada porque perdeu um olho há 10 anos e o que lhe restou não funciona direito. Ela ainda é hipertensa e superou uma hanseníase que levou-lhe as pontas dos dedos de uma mão e a sensibilidade do que sobrou desses membros. Mesmo assim, dona Aninha não tira o sorriso do rosto enquanto o doutor Werley Peres não sai da sala de sua casa. Ela tem um médico para chamar de seu.


Doutor Peres é o profissional que atende as famílias do bairro Novo Paraíso há seis anos. Para ser mais preciso, é o único médico que atende cerca de quatro 4 mil pessoas no bairro, auxiliado por quatro agentes de saúde, e ainda falta um agente no quadro. Sexta-feira é dia de visita. Os pacientes que não podem se locomover até o posto médico são atendidos em casa no período matutino. A rotina de Peres é dura, mas esse não é um caso isolado. O mesmo acontece com os médicos que atendem as periferias, locais que mais precisam de assistência médica gratuita.

Enquanto circula pelas ruas esburacadas do bairro, Peres mais parece morador antigo do local. Todos o cumprimentam pelo nome e, apesar de ser chamado de doutor, o ar é de total informalidade. “O tratamento do médico da família é diferente por causa disso. Você conhece as pessoas e pode acompanhar o [paciente] passo a passo”, explica o médico, nascido em Goiânia e formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

“Às vezes a pessoa vai a um especialista e ele [o médico] fica focado somente no que  [o paciente reclama] e esquece de analisar o resto”, diz o médico. Exemplo vivo da constatação é um senhor de 50 anos que aparenta muito mais. Graças à ajuda de Peres, Donizete descobriu a tempo que tinha câncer no osso e depois leucemia. “O médico dizia que era osteoporose”, lembra o paciente, que encarou um tratamento errado até descobrir sua verdadeira doença.

“Como o caso era grave, a gente o encaminhou logo para o Hospital Julio Muller para fazer os exames e descobrimos o que ele tinha”, lembra Peres. Hoje Donizete é tratado por mais profissionais. “Um dos princípios do Sus [Sistema Único de Saúde] é tratar de maneira diferente as pessoas diferentes”, lembra Peres. Por isso, Donizete foi priorizado para descobrir o problema. “Você não pode dar o mesmo tratamento para alguém que está gripado e para alguém com câncer”, afirma.

A agenda no Programa Saúde da Família do Bairro Novo Paraíso é elástica. Mesmo que a pessoa não esteja com uma consulta agendada ela acaba sendo atendida. “Você conhece as pessoas, como vai falar que não pode atender?”, questiona o médico. E foi sabendo disso, que uma idosa o procurou hoje pela manhã, no horário das visitas. Ela tinha um problema dermatológico nas axilas e foi atendida.

Depois chegou uma adolescente com problemas de espinha e também foi atendida. Hanseníase, câncer, espinha... a lista de problemas que um médico de PSF atende é enorme, mas o valor dado a este profissional é inversamente proporcional. “Os médicos daqui têm que ser mais valorizados não só na questão salarial, mas têm que ser atualizados em cursos”, reclama o Doutor Peres entre uma consulta e outra.
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