Há mais de dois anos na espera para receber cerca de R$ 1,4 milhões de dívidas trabalhistas, 51 funcionários demitidos do canteiro de obras da Semenge S/A Empreendimentos em Vila Rica (1279 quilômetros a Nordeste de Cuiabá) denunciam que os maquinários a serem postos em leilões para quitar os débitos são “sucatas sem valor”.
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Os trabalhadores eram contratados para Semenge para pavimentar um trecho da BR-158, entre o Rio Crisóstomo, em Mato Grosso, até a divisa com o Pará. A empresa, entretanto, cessou atividades em maio de 2012 sem completar a empreitada alegando dificuldades financeiras e desfez o canteiro de obras sem acertar com parte dos funcionários.
“Está tudo sucateado. Não tem nada bom para ir a leilão. O que tem lá é só ferro velho. Só sucata que não vale nada. Ninguém vai querer comprar aquilo”, disse José Bento de Araújo Souza, eletricista que trabalhava desde 1998 com a Semenge, tendo passado por canteiros de obras em Goiás, Tocantins, e vários municípios de Mato Grosso.
Bento afirma que todos os bons equipamentos foram vendidos antes de a empresa fazer o pedido de falência, no dia 31 de maio de 2012, tendo sobrado somente “ferro-velho”, a exceção de uma britadeira. “Eu mesmo ajudei a carregar os maquinários quando trabalhava lá. Eles vendiam e nós (trabalhadores) colocávamos nos caminhões”, contou o ex-funcionário.
Apesar de te trabalhado 14 anos na firma, sempre que trocava de canteiro Bento acertava com a empresa e por isso, de todo o tempo junto da Semenge, ficou “apenas” com 34 meses pendentes. Ao total, a Semenge deve a ele, entre danos morais e dívidas trabalhistas, R$ 65 mil.
Contudo, Raimundo Barros Coelho, encarregado de obras que passou 18 anos trabalhando na mesma empresa e não havia feito acertos anteriores. Depois de quase completar duas décadas na Seminge ele afirma ter ficado sem nenhum os direitos, inclusive FGTS, se vendo obrigado a acionar a Justiça.
“Eu pedi só meu salário e o FGTS. Nisso ficou R$ 131 mil, sem danos morais, sem mais nada. Só o básico. Estou com tanta raiva que nem quero ir lá ver como estão as coisas (o equipamento para ser leiloado). Eles não mandaram a gente embora. Eles nos abandonaram. Sumiram sem falar nada”, desabafou.
Os últimos meses
Outro ex-funcionário da Semenge que espera por pagamento, Vilson Moura, afirma que todos os operários do canteiro de obras trabalharam em situação análoga a escravidão. “Nós não tínhamos salários. Era trabalho escravo”, acusou, em entrevista por telefone ao
Olhar Direto.
Segundo ele, os empregadores assalariavam os trabalhadores com “vales” semanais, ou quinzenais, em torno de R$ 50. Em outros casos, os pagamentos eram feitos após vários meses de atraso e, ainda assim, incompletos. “Os últimos meses eu recebia só de quatro em quatro meses... e recebia só um mês”, falou José Bento.
A reportagem procurou a Semenge em todos os telefones disponíveis no site da empresa, mas nenhuma ligação foi atendida ou então a linha já havia deixado de existir.