O atrelamento fisiológico de entidades das bases populares e organizações sociais ao governo de Mato Grosso, por anos, foi mantido como crença em bruxaria: todos sempre souberam de sua existência, mas ninguém conseguia provar. Todavia, a ‘barbeiragem’ em uma manobra do secretário adjunto de Assuntos Comunitários da Setas, Benjamin Franklin Lira Araújo, expôs as vísceras do tamanho da interferência do governo Silval Barbosa nas bases populares e organizações socais de Mato Grosso.

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O resultado: num momento em que a população ocupa as ruas para exigir maior transparência e combate à corrupção, a provável anulação da eleição para diretoria executiva e Conselho Fiscal da União Várzeagrandense de Associações de Bairros (Univab), realizada em 2011, é dada como certa. Testemunhas do processo judicial asseguram que o pleito foi realizado pela Federação Mato-Grossense de Associações de Moradores de Bairros (Femab), sob clara manipulação de Benjamin Franklin.

O secretário adjunto de Assuntos Comunitários, via assessoria, nega qualquer interferência, seja por iniciativa própria ou por ordem da secretária Roseli Barbosa, titular da Setas, ou do governador Silval Barbosa. "Nunca existiu quaisquer tipos de ordem do governo ou manipulação do movimento comunitário", afirma Franklin Lira, via assessorai da Setas.

O processo 238/2011 (código 265086), em tramitação na 3ª Vara Cível de Várzea Grande, expõe o claro tráfico de influência da Secretaria de Emprego, Trabalho e Assistência Social (Setas), via adjunta de Assuntos Comunitários.

A ação judicial visa anular a eleição da Univab, ocorrida em 13 de março de 2011, cujo vencedor foi o atual vereador Claído Celestino Batista (DEM), o ‘Ferreinho’, tendo Wanderlei Pimenta como vice.

O juiz Luiz Otávio Pereira Marques, titular da 3ª Vara Cível de Várzea Grande, marcou a instrução e julgamento do processo movido por Júlio Reveles Pereira Filho contra a Femab, para 24 de julho deste ano. O magistrado deixou de designar a preliminar “tendo em vista que as circunstâncias da causa evidenciam a improbabilidade de se obter a conciliação”.
Além disso, Pereira Marques exigiu que a Femab esclareça:

a) A possibilidade dos membros da Diretoria Executiva compor a Comissão Eleitoral bem como a Mesa Receptora de votos;
b) A existência das supostas fraudas/irregularidades eleitorais apontadas na inicial.

“Desde já, ficam as parte cientificadas de que deverão depositar o valor da diligencia ou fornecer meios, caso seja necessária intimação das testemunhas, tudo sob pena de preclusão”, argumenta o juiz Luiz Otávio Marques.

O que preocupa a sociedade em geral é a utilização do movimento comunitário, composto majoritariamente por homens e mulheres que são verdadeiros guerreiros, como ‘massa de manobra’ pelo poder público. Em geral, os líderes comunitários são manobrados pelo secretário Franklin Lira para obter feitos às suas comunidades, como por exemplos: orelhão, praça, pavimentação, semáforo ou outro benefício.

“Quem não reza na cartilha do secretário Benjamin, tem as portas fechadas no governo”, denuncia um presidente de Associação de Bairro, que não autoriza revelar seu nome, temendo represália. Ele lembra que foi Benjamin Franklin quem levou a maioria dos líderes comunitários a apoiar a reeleição do governador Silval Barbosa, em 2010, e a candidatura do ex-vereador Ludio Cabral (PT) à Prefeitura de Cuiabá, em 2012.

“Ele controla o pessoal com mão-de-ferro. Quem não obedece, está fora”, revela outro presidente de bairro, que confessa já ter sofrido por ‘abrir o bico’, em ocasiões passadas. “Meu bairro ficou sem a Base Comunitária de Segurança e, por dois anos, ficamos sem as cestas básicas do Natal das Crianças”, completa o mesmo dirigente.

O presidente da Femab, Walter Arruda, há 12 anos no comando da entidade, não atendeu nem retornou às ligações da reportagem do Olhar Direto.

O vereador Claído Celestino Batista afirma que a sua eleição foi limpa, inclusive com testemunho de centenas de líderes comunitários, e que a execução do pleito coube à Femab, na condição de entidade mãe do movimento comunitário.

A assessoria da Setas se comprometeu em dar uma resposta em nome da primeira-dama Roseli Barbosa, titular da pasta, mas ela estava em viagem, na tarde de quarta-feira (19).