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Sábado, 18 de maio de 2024

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Tidos como novidade, 'Rolezinhos' acontecem na Grande Cuiabá há anos; entenda o fenômeno

Foto: Do Internauta

Rolezinho no Pantanal Shopping no fim de dezembro de 2013

Rolezinho no Pantanal Shopping no fim de dezembro de 2013

A palavra “rolezinho” tomou conta dos noticiários nacionais e das redes sociais nas últimas semanas, principalmente após uma decisão da Justiça de São Paulo proibir a realização de alguns desses eventos em shopping centers. O veto judicial aconteceu devido alguns casos de roubo e vandalismo registrados no primeiro grande evento com esse nome, no shopping Metrô Itaquera, em 08 de dezembro, quando mais de seis mil adolescentes marcaram de se encontrar no lugar.


Leia mais: Lojistas temem "rolezinho" e PM monitora articulação para evitar novo tumulto em shopping

Essas liminares concedidas aos centros comerciais gerou uma intensa discussão sobre a existência de um velado “Apartheid” social/racial no Brasil, termo faz referência ao regime segregacionista entre brancos e negros que vigorou na África do Sul de 1948 a 1994, e desencadearam uma série de “rolezinhos de protestos” por todo o Brasil. Em suma, esses "movimentos" pós-repressão são organizados por representantes de movimentos sociais e universitários que estão organizando os novos eventos para combater o elitismo, racismo e a truculência policial usada em repressão aos rolezinhos.

E já tem “rolêzin no tchópe” marcado para acontecer em Cuiabá, no dia 02 de fevereiro. O local ainda não está confirmado, mas provavelmente será no Shopping Goiabeiras, estabelecimento onde o vendedor ambulante Reginaldo Donnan dos Santos Queiroz, 29, foi espancado até a morte por seguranças privados, em 2009. O evento está sendo organizado por três universitários através da rede social Facebook, a mesma usada para marcar os rolezinhos originais, e por enquanto conta com cerca de 150 pessoas confirmadas.

Contudo, esse tipo de evento, com jovens da periferia, já acontece há anos no Brasil, inclusive na Região Metropolitana de Cuiabá. Só não era conhecido por esse nome, que é uma gíria tipicamente paulistana, e ainda contava com uma participação tão grande. Se agora existe a facilidade de organizar esse tipo de encontro através do facebook, antes o “point” era escolhido e repassado boca-a-boca, depois pela rede social Orkut – os famosos Orkontros.

Durante algum tempo, os “rolés cuiabanos” aconteciam principalmente nos terminais de transporte coletivo. Era lá que a garotada de várias escolas se encontrava com diversos objetivos: paquerar e fazer novos amigos para alguns, consumir drogas e brigar para outros, tudo isso ao mesmo tempo para terceiros. Depois, com o advento do “rebolation” e suas disputas de dança, esses encontros ganharam proporções maiores e outros locais também, entre eles as praças, principalmente as próximas de colégios.


(A febre do rebolation inspirou trabalhos acadêmicos em Cuiabá)

Em Várzea Grande, cidade vizinha da Capital, ainda é normal o encontro maciço de adolescentes na praça da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em frente a Escola Estadual Pedro Gardés, uma das maiores do município. Lá, jovens se reúnem para flertar, beber, tocar violão e inúmeras outras atividades, bem como no terminal André Maggi, o único da cidade.

Ainda na época do rebolation, adolescentes da periferia começavam a “invadir” o shoppings de Cuiabá, antes tidos como “templos sagrados das classes média e alta”. E lá, nos corredores dos centros comerciais, perto das entradas dos cinemas e nas praças de alimentação, rolavam as disputas para decidir quem era o melhor dançarino.

A grande diferença dos que viriam a seguir era a espontaneidade dos eventos. Sem o Facebook, era difícil organizar encontros com muita gente, e mesmo através do Orkut, não era fácil reunir pessoas desconhecidas ou de comunidades diferentes. Por isso, existiam os “points” comuns, onde todos iam espontaneamente. Entretanto, com o crescimento da nova rede social no Brasil, ficou mais fácil de criar um evento e convidar os amigos e seguidores, que então convocam os amigos dos amigos deles e seus respectivos seguidores, que então convocam amigos dos amigos dos amigos e seguidores dos seguidores dos seguidores e por aí vai.

Quem anda pelos corredores dos shoppings de Cuiabá aos finais de semana nota o quanto a periferia já se faz presente nestes espaços: disputam metro a metro o direito de se divertir e consumir no que antes era visto como espaço da elite. E agora esses adolescentes começaram a marcar encontros por lá utilizando as redes sociais, as mesmas que foram usadas para colocar na rua cerca de 10% da população da Capital em junho de 2013, durante a onda de protestos.

Em Cuiabá, ainda não houve nem de perto rolezinho tão grande quantos os paulistanos e cariocas, mas vários já aconteceram. Um deles no dia 28 de dezembro, no shopping Pantanal, que terminou em briga generalizada e com a detenção de 35 adolescentes. No dia seguinte, após passarem uma noite na delegacia, eles voltaram as redes sociais para fazer piada com o ocorrido no dia anterior.


(Resultado do rolê do dia 28 de dezembro; Foto do Internauta)

Por hora, a Polícia Militar de Mato Grosso afirma que passou a monitorar as redes sociais desde o fim de dezembro e já se prepara para o novo evento marcado para o dia 02 de fevereiro. Entretanto, pelo fato de os shopping centers se tratarem de uma instituição privada, a PM só intervirá caso seja acionada. Os lojistas, por sua vez, se mantém em polvorosa, assustados com o impacto nos negócios e com medo de terem estabelecimentos depredados e roubados.
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