O Olhar Direto teve acesso exclusivo a gravações telefônicas dos envolvidos na Operação Volver, da Polícia Federal, que desarticula uma grande quadrilha de tráfico de drogas em Mato Grosso e outros estados. A quadrilha buscava pasta base de cocaína na Bolívia, levando a droga por uma rota que seguia até o Espírito Santo. Durante as investigações, a polícia interceptou o telefone da advogada de um dos presos, Kattleen Káritas Oliveira Barbosa, de Cáceres. Seu cliente, Everton Cândido Gomes da Silva, vulgo “Pupunha”, com apenas 20 anos de idade, era um dos cabeças do esquema.

Mesmo preso, Pupunha continuava a comandar o tráfico na região, com auxílio de Kattleen em diversas situações. O envolvimento da advogada foi comprovado pela polícia por meio das ligações telefônicas entre ela, seu cliente e outros envolvidos.

As gravações mostram a advogada Kattleen no meio de negociações suspeitas para a liberdade e determinação da pena de Pupunha, cometendo os crimes de exploração de prestigio e corrupção ativa.

Trechos das ligações mostram extorsão, através de ameaças de expedição de mandado de prisão preventiva para agilizar o pagamento e associação ao tráfico, quando de sua ajuda financeira em determinados momentos e de meios físicos, para que Pupunha se recuperasse na atividade criminosa, a fim de levantar o dinheiro cobrado.

Confira, com exclusividade e na íntegra, algumas ligações interceptadas pela polícia durante as investigações.


Conversa em Kattleen e Pupunha, em agosto de 2008. Eles conversam sobre o dinheiro que Pupunha deve pela liberdade:


Pupunha: Vixi tô cheio de conta pra pagá hein.

Katlen: Á, não esquenta não é bom que cê tá livre. Aquele ainda tá preso, me ligou hoje dizendo que tá preso.

Pupunha: Quem?

Katlen: Otaniel.

Pupunha: Falou que tá preso ainda?

Katlen: Tá preso ainda , cê acredita que o advogado dele não tirou ele até agora?

Pupunha: Noooossa.

Katlen: O cara vai apodrecer lá na cadeia por causa de um 180. Mas tranquilo então.

Pupunha: Hahã, mas eu vou ver aqui mas num, fica tranquila dotôra que eu, nem que eu vendo tudo que eu tivé aqui, mas o da senhora...

Katlen: Eu sei como é que cê é, fica tranquilo que eu confio em você.

Pupunha: Eu nem fui hoje na casa da senhora entendeu, que eu tava meio longe fui resolver um negócio.

Katlen: Não tem problema não eu confio em você, tá bom, tchau, tchau.

Pupunha: Hahã, tchau.


Em outra conversa, no mesmo mês, advogada diz que se Pupunha não pagar, poderá sair uma “PP” (Prisão Preventiva):

Pupunha: Oi dotora.

Katlen: Oiii.

Pupunha: É eu Everton.

Katlen: Deixa eu te falar, preciso conversar com você pessoalmente.

Pupunha: Huhum, diz que vai sai uma pp né.

Katlen: O cara me ligou aqui, desesperado e tal, eu precisava falar contigo.

Pupunha: Hahãm, hein.., eu.., se tá ligado eu vou ter o dinheiro só semana que vem lá pra sexta-feira que eu tenho dois dinheiro pra chegar num tem, um dinheiro que os guri lá vai manda, e nossa esse mês o dinheiro tá difícil, nossa num sei pra onde que tá
Katlen: Cara e o pior que são dois lados ééé.., procurando nós, um é esse o outro é aquele outro lado lá entendeu.

Pupunha: Huhum.

Katlen: Já me ligaram aqui pedindo o processo pra devolvê.

Pupunha: E otra e.. só semana que vem que eu vo ter dinheiro.

Katlen: Eu vou enrrolando o que dé aqui, vamo ve o que que a gente faz

Pupunha: E vai e perigoso sai uma PP até mais ou menos que dia?

Katlen: Ele falou pra mim que o pessoal lá tava querendo revogá o julgamento entendeu?

Pupunha: Como assim?

Katlen: Aí a gente vai conversar pessoalmente, dá um pulo aqui em casa hoje a noite lá pelas 8 horas da noite.

Pupunha: oito horas?

Katlen: Huhum, oito horas oito e meia.

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As investigações também evidenciam extrema proximidade entre Kattleen Karitas e o Juíz da 3º Vara Criminal de Várzea Grande, Dr. Jorge Luiz Tadeu Rodrigues, que emprega o pai de Kattleen como administrador de sua propriedade rural e segundo a advogada comenta, é amigo íntimo da família. Segundo comentário de diversos alvos, como Tôto, primo de Pupunha, ele seria Tio de Kattleen e por isto ela teria facilidade em obter “vantagens” nos processos que correm naquela vara, como o de Everton/Pupunha. Confira trechos que evidenciam a ligação.


Conversa entre a advogada e uma das envolvidas, em março deste ano:

FERNANDA: oi.

KATLEN: Fernanda?

FERNANDA: oi doutora.

KATLEN: tudo bom?

FERNANDA: tudo bom.

KATLEN: tô aqui em Cuiabá,(...)saí agora do Carumbé.Tirei o Tiago pra falar com ele(...)só que não tive tempo de ir.Porque eu cheguei, o meu vôo chegou e foi tempo de eu descer no Carumbé, não tive tempo de ir em Várzea Grande tirar cópia do processo.

FERNANDA: há, eu tenho o depoimento, a cópia do depoimento, eu tenho.Se a senhora quiser...

KATLEN: eu precisava de tudo, na verdade.Do flagrante todo.Precisa de que os policiais falaram também.Aí é o seguinte: esse processo tá na vara do doutor Jorge Tadeu(...)Ele é amigo particular meu, então não sei se...se ele não vai declinar a competência na hora que eu entrar(...)se por acaso eu entrar no processo, entendeu?(...)Porque como ele é meu amigo particular, ele pode,de repente,não se sentir a vontade em jurisdicionar no processo(...)inclusive eu vou conversar com ele hoje, vê se ele vai, se ele iria decidir no processo ou não.Inclusive eu até tô, vou ficar hospedada na casa dele hoje aqui. Pra gente saber já se...o que é que eu falo pra vocês.Porque por exemplo, se ele falar que não vai, eu já quero ver que juiz que é(...)-(Ligação interrompida)


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Nesta ligação, em fevereiro deste ano, um os envolvidos, conhecido por Otaniel, conversa com a presa Janaína, e elogia o trabalho de Kettleen, citando o envolvimento com o juiz e os “acertos” da advogada:

OTANIEL: fala amor.

JANAINA: oi meu (...)

OTANIEL: aí minha paixão.Vai mesmo(...)

JANAINA: não sei.Eu tô tentando falar com a advogada mas não tô conseguindo.

OTANIEL: quem é sua advogada?

JANAINA: Dra. Katlen.

OTANIEL: iiii.Dra.Katlen é a melhor advogada que tem na cidade,minha amiga.Minha advogada também.(...)Minha advogada.Ela que tirou nóis lá do Pascoal no acerto(...)é.Boa advogada.Cê tá com uma excelente advogada, colega.

JANAINA: há,então.Pois é.Tô tentando falar com ela.

OTANIEL: o tio dela é Juiz,cê quer saber(...)Lá em Várzea Grande.Nóis tava no excesso de prazo,o gordão.Cento e oitenta conto.

JANAINA: é...ela já me contou essa estória.

OTANIEL: foi nóis que ela saiu: eu e o Pupunha.(...)Já ouviu falar nóis,já?(...)Eu e o Pupunha saimo no acerto.

JANAINA: então.Daí...eu tô tentando falar com ela, mas o celular dela tá desligado.Não sei porquê.(...)

OTANIEL: é melhor ir no escritório dela.

JANAINA: mas ela não tá lá não.

OTANIEL: eu sei onde é o escritório dela.

JANAINA: há,tá.Mas eu tô te falando que eu não tô...eu tô tentando pra vê,né.

OTANIEL: e o do Dr.Vinícius, o marido dela?

JANAINA: eu não ligo pra ele não.Só ligo pra ela porque eu dou toque,ela me retorna.O celular dela tá desligado.

OTANIEL: cara.Quem arrumou essa advogada pro cê?(...)

JANAINA: há, quando eu saí aqui, eu arrumei uns três advogados.Daí me indicaram ela, eu conversei com ela e gostei dela e fiquei com ela.

Ouça AQUI.


Na conversa transcrita a seguir, Kettleen fala com Adomício de Lima França, em fevereiro, vulgo “França”, outro líder do tráfico. Ele mostra-se surpreso com a atuação rápida da advogada no caso de Pupunha. França comenta, inclusive, que Pupunha, também chamado de “gordão”, “tem que orar por ter Kettleen como advogada”, evidenciando a fama que ela adquiriu por seus serviços no meio.

KATLEN: alô.

ADOMICIO: dotora?

KATLEN: oi?

ADOMICIO: boa tarde.Cê tá boa?

KATLEN: boa tarde. Tô bem.

ADOMICIO: é a dotora Katlen que tá falando?

KATLEN: isso.

ADOMICIO: dotora, é o seguinte. A senhora me conhece, eu sou o França, o preso.

KATLEN: é quem?

ADOMICIO: França.

KATLEN: há sim.França.

ADOMICIO: dotora, caiu dois cara aqui.Caiu dois cara hoje aqui, ontem, aqui em Várzea Grande, entendeu?(...)Eles vai ser ouvido no fórum.Chegou aqui hoje.Eu falei pra eles bem assim, ó: eu tenho um advogado aí que foi advogado de um amigo meu, entendeu?(...)E ela tirou ele muito rapidamente. Não sei qual foi a situação que ela fez.Saiu rápido.Saiu rápido ele, entendeu?E aí dotora, eles queria falar com a senhora.Você tem interesse em vir esse negócio pra eles aí ou não?

KATLEN: tenho.Eu tô descendo pra aí,depois de amanhã.Sábado.

ADOMICIO: é o seguinte: eles caiu com centro e cinquenta quilo de m
aconha,não tem?(...)Num ônibus.(...)Eu não sei qual que é o fundamento dos guri.Do guri do meio é alinhado, entendeu?Chegou aqui hoje.Aí eu falei ó: eu tenho uma dotora, uma advogada aí que ela trabalhou pra um amigo meu, tava cheio de probrema, o cara foi delatado, caguetado e foi embora.Entendeu?Ele e outro,entendeu?Se eu tivesse pegado ela, eu não tava mais preso,mais aqui, já.Que meu caso foi completamente diferente e eu perdi carro, perdi carro, e ela começou a tirar o guri e o carro do guri, entendeu?(...)A senhora quiser vir aqui, a senhora vem aqui essa semana,quiser pegar o nome dos guri, eu vou pegar o nome deles e passar pra senhora, entendeu?

KATLEN: hein França.Você ficou sabendo que a Polícia Federal usou o carro dele até fundir o carro?

ADOMICIO: tamo sabão.(...)caiu com nada, alguém me delatou e eu perdi meu Golf 2006, fora os cinquenta mil reais. O Gordão podia dar graças a Deus, ajoelhar, ajoelhar.Falar: obrigado Senhor...

KATLEN: ele tá tranquilo agora.Esses dias saiu a condena dele: dois anos.

ADOMICIO: pois é, pegou pouco.E eu que agora que tô cheio de probrema aí, nem sei quando vou embora desse lugar aqui.Sofrendo igual Jó(...)peguei um monte de cadeia,no mesmo juiz, então, o Gordão tem que orar pra senhora ter feito tudo isso pra ele, porque não tinha mais ninguém.Ó, só a senhora advogou ele, entendeu, o resto tudo robaram ele, então(...)ele devia dar graças a Deus de ter a senhora(...)

KATLEN: mas ele é gente boa.Me fala uma coisa: qual que é o nome dele?
ADOMICIO: eu vou pegar ali agora e passo agorinha, tá?

KATLEN: tá bom.Obrigada.Tchau.


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*A reportagem do Olhar Direto está à disposição para ouvir e publicar respostas de qualquer um dos citados e/ou envolvidos nesta matéria.