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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Estuprada pelo tio dos 6 aos 13 anos, publicitária traz caso a tona e alerta vítimas sobre importância de denúncias

Foto: Reprodução

Estuprada pelo tio dos 6 aos 13 anos, publicitária traz caso a tona e alerta vítimas sobre importância de denúncias
Vítima de abuso sexual infantil, a publicitária cuiabana D.F.D, hoje com 31 anos,  carregou em silêncio o trauma que a acompanha desde os 6 anos de idade. Estuprada até os 13 pelo próprio tio, manteve o segredo por medo e vergonha, trazendo-o a tona agora na tentativa alertar possíveis vítimas e tentar evitar que casos como o seu se repitam. Os anos de segredo e vergonha tiveram fim com a decisão recente de contar a seus familiares sobre os atos de violência sofridos.

 
A atitude foi seguida por um boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Dedica), registrado mesmo sob a certeza de que o crime já prescreveu, e que nenhuma medida jurídica será adotada. Uma carta com o relato também foi escrita por ela, que, diante da situação, ainda procurou pelo acusado. "Só agora eu consegui falar sobre isso e resolvi escrever. Não cito o nome de ninguém porque sei que alguns não acreditam, mas espero poder ajudar outras vítimas."

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A coragem de D.F pode contribuir com o aumento no número de denúncias realizadas no Estado, uma vez que segue uma tendência de encorajamento das vítimas. Em Mato Grosso onde, no último ano houve aumento de 32% nos registros em comparação com 2015, o acréscimo está ligado, na opinião do delegado titular da Dedica, Eduardo Botelho, ao encorajamento.

Assim, segundo ele, as iniciativas surgem em paralelo a uma maior severidade na lei e no amplo debate promovido pela mídia, que fazem com que às vítimas sintam maior confiança em denunciar. “Se olharmos os dados a impressão é de que esses crimes aumentaram, mas só que eles sempre ocorreram. O crime sexual causa dois tipos de constrangimento. Primeiro pelo crime em si e depois quando se inicia a investigação. Agora, por uma soma de fatores as pessoas estão se encorajando.”

Recentemente, acompanhada pela família, D.F viu confessar o crime diante da esposa e filhos, sendo ofendida, desacreditada e humilhada novamente. 
“Hoje, aos 31 anos me senti estuprada novamente. Com muita coragem e ajuda da minha família, fomos até a casa do meu tio e lá ele confessou tudo que fez na frente da sua esposa e filhos. Era o mínimo que podíamos fazer já que a lei não irá puni-lo mais. Mesmo assim, fui chamada de vadia, como se a culpa fosse minha. Como se eu tivesse o seduzido aos seis anos de idade.”
 
De acordo com a mulher, mesmo diante da confirmação do tio, foi questionada sobre a demora para falar sobre o caso. “Como se isso, pelo tempo perdesse a importância. Os porquês não eram pra mim e sim pra ele. Por que ele fez isso comigo? Ficaram totalmente do lado do bandido, ali minhas forças acabaram e chorei de tristeza”, afirma em trecho da carta enviada ao Olhar Direto. Em entrevista ela contou ainda que uma prima também era vítima dos estupros.

Em um dos trechos mais tristes de seu relato, ela detalha como os abusos aconteciam e como o tio usava sua autoridade para fazer com que seus irmãos saíssem de casa e ela ficasse sozinha. "Eu tive um homem, bicho, animal que fica me cercando a cada oportunidade que teve, que passava suas mãos áspera de cimento com um fedor de pinga se esfregando em mim.Um velho feio e fedido que colocou seus dedos na minha vagina de tal maneira que não conseguia fazer xixi, que fazia sexo oral em mim e pedia pra eu fazer nele", diz. 

Aumento nas denúncias e resolução dos casos
 
O cálculo, realizado com base em dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), representam 701 ocorrências neste ano contra 531 do ano passado. O estudo corrobora mais uma vez a análise de Botelho, uma vez que também aponta para o crescimento nas ocorrências de tentativa de estupro, de 124 para 187, assédio sexual,de 50 para 79,  ato obsceno, de 17 para 58 e abuso de incapazes, de 12 para 30.

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Em Mato Grosso, onde quase um estupro de vulnerável é registrado por hora, os casos também apresentam alto índice de resolução, chegando a uma média de oito crimes desvendados para cada 10 denúncias. “Os crimes sexuais são, em sua grande maioria, de identificação não tão complexa, então, a partir de uma denúncia, a chance de ser chegar ao culpado é muito grande e a própria vítima sabe disso. No entanto normalmente isso não acontece em vias públicas.”
 
Assim, é importante que pais e responsáveis estejam sempre atentos ao comportamento dos filhos para perceber pequenas mudanças que podem indicar se está acontecendo algo dentro de casa. Além disso, é importante que os menores se sintam a vontade para conversar com os pais, sobre o que está acontecendo com elas. As alterações variam e dependem da subjetividade de cada um, logo algumas crianças podem ficar mais quietas, outras mais agressivas ou tristes.
 
Denúncias

Hoje estão disponíveis os telefones dos seis Conselhos Tutelares de Cuiabá (no bairro Centro, Planalto, CPA, Coxipó, Cidade Alta, Pedra 90), além do Disque 100 e o telefone 3653-5763, da secretaria de Assistência Social, para que sejam realizadas denúncias desses crimes. As informações podem ser repassadas a polícia anonimamente.

Em caso de denúncia, a Assistência Social atua junto aos Conselhos Tutelares para retirar a criança do ambiente de violência. Atualmente, a Assistência Social oferece a essas crianças abrigamento na Casa da Criança Cuiabana I e II e na casa Nosso Lar, que são as primeiras unidades na modalidade "Casa-Lar" construídas para abrigar crianças e adolescentes de 0 a 18 anos que, por determinação da Justiça, foram retiradas do convívio familiar devido à violência.
 
Leia a íntegra da carta:
 
Quem sou eu? Eu sou uma menina da década de 90 que foi abusada sexualmente e que só hoje, aos 31 anos, tenho coragem de relatar tudo que sofri. Minha mãe sempre foi uma pessoa muito boa, trabalhadora em busca de nos dar sempre o melhor que podia. Éramos uma família grande, morávamos em uma casa que sempre estava em construção e reparos. Contratamos um pedreiro e foi neste momento que os abusos sofridos por mim começaram.
 
Pra começar a contar a minha historia, gostaria que cada um de vocês, voltassem ao tempo, tentem lembrar como era bom ser uma criança aos 5, 6 ou 7 anos de idade, como foi gostoso se tornarem um adolescente feliz e saudável. Creio que tiveram uma infância prazerosa, não é?  Eu não. Eu tive um homem, bicho, animal que fica me cercando a cada oportunidade que teve, que passava suas mãos áspera de cimento com um fedor de pinga se esfregando em mim.
 
Um velho feio e fedido que colocou seus dedos dentro da minha vagina de tal maneira que não conseguia fazer xixi que ardia, que fazia sexo oral em mim e pedia pra eu fazer nele, que mandava meus irmãos irem ao mercado só pra ficar sozinho comigo, que me apalpava, me fazia sentar em seu colo, colocava a minha mão  eu seu  pênis e perguntava se eu gostava do que ele estava fazendo comigo. Ele me levou pra uma casa que estava sendo construída ao lado da minha e lá ele abusou de mim. Ele vigiava minha irmã trocar de roupa no quarto e abusou da prima minha também.
 
Esse homem era meu TIO e ele me estuprou até aos 13 anos. Na época eu não contava porque tinha medo, porque no começo eu nem sabia o que ele estava fazendo comigo, mas ele deixa bem CLARO, que ninguém podia saber, ele me dava balas e até dinheiro. Dizia pra eu falar que havia achado. Ele era um tarado, estuprador... e com quem mais ele não fez isso???? Porque pessoas assim não tem limites.
 
Sabemos que hoje, apesar de ser um crime hediondo, já esta prescrito e para o alivio da geração atual e das próximas, foi aprovada em 2012 a lei nº12.650 que estende prazo de prescrição para estupro de criança, pela lei, prazo correrá a partir da data em que a vítima fizer 18 anos.
 
Hoje, aos 31 anos me senti estuprada novamente, com muita coragem e ajuda da minha família, fomos até a casa do meu tio e lá ele confessou tudo que fez na frente da sua esposa e filhos, era o mínimo que podíamos fazer já que a lei não irá puni-lo mais.  E mesmo sendo ele, um réu confesso, fui chamada de vadia, minha família foi distratada, como se a culpa fosse minha, no mínimo eu seduzi-lo aos seis anos de idade, me perguntaram por que demorei tanto a falar, por que estou falando só agora?? Como se isso, pelo tempo perdesse a importância. Os porquês não eram pra mim e sim pra ele, porque ele fez isso comigo?  Ficaram totalmente do lado do bandido, ali minhas forças acabaram e chorei de tristeza.
 
Escrevo esta carta para alertar a todos, pois todos nós podemos ser vitimas meninos e meninas, homens e mulheres de abuso sexual ou um estrupo velado, seja no trabalho, na escola, no namoro com sexo não consentido. Não podemos nos calar, nem nos culpar, mesmo que o abusador esteja dentro da nossa própria casa, mesmo que faça parte do seio familiar.
 
Este caso aconteceu em Cuiabá -MT, este homem continua solto e talvez ao longo do tempo, pode ter feito outras vitimas, um B.O foi lavrado na DEDDICA mesmo que o crime esteja prescrito é importante a denúncia para que outras pessoas não sofra o que eu sofri.
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