O líder quilombola e presidente da Associação dos Moradores do Quilombo de Mata Cavalo, Sinezando do Carmo Santos, foi vítima de agressão policial no último sábado (14), durante a realização da festa de São Benedito. Conhecido como “Pai Nezinho”, o homem é uma das mais importantes vozes dentro da comunidade e principal organizador da festa, promovida há cerca de 50 anos.
O tradicional festejo em homenagem a São Benedito ia completar 49 anos neste final de semana, em Nossa Senhora do Livramento (38 km de Cuiabá). “É de geração, começou com nosso tataravô que era escravo. Minha avó morreu e passou para mim. Já estava tudo pronto a festa no sábado”, disse Nezinho ao Olhar Direto. Mestre Nezinho é muito respeitado na comunidade por seu trabalho de resistência da cultura negra, tradicional e popular, além de promover o siriri e cururu.
Conforme informou o líder, a festa estava marcada para 18h de sábado. Entretanto, os policiais compareceram ao local por volta de 8h, cobrando documentação. Foi neste momento que um dos militares desferiu um soco no peito e um tapa no rosto do presidente. Ainda de acordo com informações do boletim de ocorrência, o presidente chegou a comentar que o local é protegido por lei federal, mas foi ignorado.
Em seguida, a guarnição retornou para a comunidade cerca de 18h, e mandaram fechar o festejo, mesmo com documentações como alvará da prefeitura e do Corpo de Bombeiros em mãos. Além da truculência policial, foi registrado intolerância por parte do PM.
“Pediram até por 12 seguranças. Pagamos os seguranças e foram liberar a festa pra nós 1h da manhã. E aí perdemos tudo, tivemos que jogar a comida fora porque azedou, não deixaram as instalações, nada. E vieram com arrogância às 18h, mandando todo mundo calar a boca e ainda me chamando de ‘viado’, ‘que eu era gay’”, comenta Nezinho.
O rapper Mano Raul, que é afilhado do mestre, o acompanhou depois para registrar um boletim de ocorrência, na 1º Delegacia de Cuiabá. “Eles pediram por documentação do Conselho Tutelar, essa era a ‘tal da causa’. Mas temos as cópias da documentação do evento, alvará do Conselho Tutelar... A festa estava legalizada. E ele teve um prejuízo emocional, mental e prejuízo financeiro, porque ele perdeu um monte de comida, azedou. E gera uma situação terrível pra ele”, diz o rapper.
Nas imagens que foram gravadas durante a ocorrência, é possível ouvir o policial cobrando pelos documentos. “Isso aqui para mim não serve. Eu só estou cumprindo ordens”.
Outro lado
A assessoria da Polícia Militar encaminhou na segunda-feira (16) uma nota à imprensa informando que a corregedoria da PM expediu um levantamento do ocorrido, a fim de definir as medidas a serem tomadas. Confira a nota na íntegra:
NOTA/RESPOSTA
Até o final da tarde desta segunda-feira(16.07) a Corregedoria da Polícia Militar não havia recebido nenhuma denúncia relacionada a comunidade Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento.
O comando do 2ºCR(Comando Regional), com sede em Várzea Grande, unidade responsável pelo policiamento na região, também desconhece, até o momento, que tenha ocorrido qualquer alteração ou excesso por parte dos policiais.
O 2º CR informa ainda, que a documentação solicitada para a realização de festas onde há exibição de som e consumo de bebida alcoólica é uma exigência legal para qualquer região. Portanto, assim como na Comunidade Mata Cavalo, na mesma data os policiais fizeram solicitação similar em outras duas festas realizadas em comunidades da mesma região.
Todavia, a Corregedoria da PMMT informa que com base nas informações veiculadas na imprensa, expediu um pedido de providências, ou seja, um levantamento prévio cujo resultado definirá o procedimento a ser instaurado e as medidas a serem adotadas.
Veja o vídeo:
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real,clique aqui
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento. Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.
