Olhar Direto

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Notícias | Cidades

índices de depressão

Temos que estar mais atentos com nossos colegas, diz médico após suicídio de enfermeiras

Foto: Jardel P. Arruda

Temos que estar mais atentos com nossos colegas, diz médico após suicídio de enfermeiras
Diante do alerta sobre índices de depressão dos profissionais da área da saúde, o médico de família com pós-graduação em psiquiatria, Werley Silva Peres, afirma que eles dão sinais de que não estão bem, seja por meio da rede social ou até mesmo com comentários que demonstram descontentamento. “Todos nós, que estamos nessa área e lidamos com a dor e problemas a todo tempo, temos que estar mais atentos com nossos colegas de trabalho, eles dão sinais quando não estão bem”.

 
No último final de semana, duas enfermeiras cometeram suicídio em Cuiabá. Uma delas foi identificada como Anna Angélica Dorileo. A outra, cuja identidade não foi divulgada, já estaria fora do mercado de trabalho. Há dois anos, a enfermeira Cecília Victorazza, que foi professora no Centro Universitário de Várzea Grande (Univag) e fez mestrado pela Universidade Federal de Mato Grosso, também tirou a própria vida. Essas mortes trazem à tona o debate da saúde mental entre os profissionais da categoria.

Leia mais:
Suicídio: Conselho de Enfermagem admite dificuldades e cita esforço para melhorar qualidade de vida

De acordo com o médico, de uma forma geral, a depressão, esquizofrenia, ou qualquer outro tipo de surto psicótico influenciam no suicídio. Entretanto, um profissional que passa diariamente por estresse e carga horaria de trabalho elevada, acaba tendo mais chances de cometer suicídio. “Se não tratado, não acompanhado, a pessoa pode tentar se matar. Isso infelizmente acontece”, lamenta.
 
Durante período que atuou em um hospital psiquiátrico da capital, o médico observou alguns profissionais doentes. No entanto, eles acabavam sofrendo preconceito dos próprios colegas. Conforme Perez, falar que profissionais da saúde precisam ser tratados ainda é um tabu entre a categoria. “Justamente porque há um inconsciente coletivo de quem trabalha na saúde é forte e não pode adoecer jamais. O outro pode, mas o trabalhador da saúde, não. O profissional de saúde acha que é de ferro, que não adoece, que vai aguentar tudo”, acrescenta.
 
“Um profissional que trabalha na saúde mental, ele ainda está mais sujeito a adoecer, porque está lidando diretamente com sofrimento mental, problemas angustiantes e uma história de vida pesada. Se não tiver uma válvula de escape, como uma boa estrutura familiar, atividade física regular, uma rotina mais saudável, ele acaba adoecendo. Isso é comum com todos profissionais da área da saúde”, salienta.
 
Para Peres, a pessoa que pretende se matar dá vários indícios. “Frases do tipo ‘eu queria dormir e não acordar mais’, ou então ‘estou cansado de viver’, ‘não aguento mais essa vida’. Ela não fala ‘eu quero me matar’. Dificilmente fala isso”, pontua. Outros sinais seriam postagens em redes sociais. “Às vezes tem mensagens negativas ou subliminares. Uma musica depressiva, um texto muito pesado, que fala de final de vida”, afirma.

Em junho de 2018, a Ordem dos Enfermeiros’ fez um alerta ao Ministério da Saúde sobre os altos casos de suicídio. Só naquele primeiro semestre, quatro profissionais da área já haviam tirado a própria vida.

Um estudo publicado pela Universidade do Minho em 2016 mostrou que um em cada cinco enfermeiros de Portugal apresentavam exaustão física e emocional, o chamado ‘burnout’, o que mostra que o problema não é específico do Brasil.
 
Diante do debate sobre suicídio, o presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren/MT), Antônio César Ribeiro, reconheceu que as condições de trabalho em que atuam os profissionais, podem influenciar no desenvolvimento da depressão. Contudo, pontuou os projetos de lei que tramitam na Câmara Federal para reduzir a jornada de trabalho, garantir piso salarial, descanso digno e aposentadoria especial.

Suicídio: Conselho de Enfermagem admite dificuldades e cita esforço para melhorar qualidade de vida
 
“Eu sou enfermeiro e entendo o suicídio como uma doença social. Não tem um único fato associado ao suicídio. Via de regra, está sempre vinculado a um processo de depressão. Esse processo de depressão, [dependendo do] meio onde eu vivo, essa minha doença pode melhorar ou piorar”, disse em entrevista ao Olhar Direto.

Após divulgação de uma nota de pesar do Coren, grande parte dos comentários eram de pessoas cobrando fiscalizações e estudos psicológicos sobre os profissionais. Sobre isso, o presidente citou um estudo em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para avaliar o perfil e qualidade de vida dos profissionais após os 60 anos de idade. “A gente sabe o desgaste e temos investido nessa pesquisa. O resultado dela é uma forma do Conselho melhorar a sua atuação politica”, acrescentou.

Anna Angélica Dorileo
Anna Angélica Dorileo era enfermeira no Pronto-Socorro de Cuiabá

Leia abaixo a nota de pesar do Coren-MT:

NOTA DE PESAR

O Coren-MT vem a público demonstrar seu pesar pelo falecimento da enfermeira Anna Angélica Dorileo, ocorrido neste sábado (23). Ela atuava no Pronto Socorro Municipal de Cuiabá. 

O Coren-MT estende suas condolências à família enlutada e a todos os colegas profissionais de enfermagem pela perda de mais uma grande profissional.

 
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet