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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Enem volta a abordar ditadura militar no primeiro dia de prova e professora avalia conteúdo aplicado

Foto: Arquivo Pessoal/Érico Andrade - g1

Enem volta a abordar ditadura militar no primeiro dia de prova e professora avalia conteúdo aplicado
O primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorreu no domingo (05), surpreendeu candidatos e professores com temas que não eram mais abordados no caderno de questões de linguagens, códigos e duas tecnologias, redação, e ciências humanas e suas tecnologias. Um deles foi a ditadura militar, que ficou três anos de fora do Enem, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).


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Além de duas questões sobre a ditadura militar, sendo que uma trazia o texto do colunista da Folha de S. Paulo, Élio Gaspari, sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog; também caíram temas como antissemitismo, desigualdade racial e de gênero, preconceitos e violência.

Alguns escritores brasileiros, como Itamar Vieira Júnior, também caíram nas questões. A obra de Itamar, Torto Arado, teve um trecho usado em uma das questões. A escritora negra Conceição Evaristo também foi contemplada na prova.

Já a redação deveria abordar sobre “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Em 2015, a pauta feminina também foi tema da redação dissertativa, com “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.

Para acompanhar o desenvolvimento da prova, o Olhar Direto conversou com a professora de redação do Ensino Médio e Pré-Vestibular, Kellen Silva, sobre as questões e problemáticas abordadas no Enem. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

OD: Como você avalia esse primeiro dia de prova do Enem?

“Esse primeiro dia apresentou questões bastante interpretativas, o que achei excelente, porque os alunos precisam dar atenção ao significado das palavras de modo que elas traduzam efetivamente as respostas para cada questão. O fato de o Enem ter trazido, também, questões que dão visibilidade a autoras, como Conceição Evaristo, referência na literatura brasileira atual, me deixou extasiada. Achei necessário”.

OD: Os temas abordados nas questões eram esperados pelos professores e alunos?

“Houve questões que há um tempo não caíam no Enem, como ditadura militar. Então, penso que algumas podem ter surpreendido muitos alunos, sobretudo aqueles que já fazem ENEM há dois, três anos. Mas, de modo geral, foi menos conteudista. Quem esperava isso, pode ter ficado surpreso demais! Exigia, na verdade, que houvesse bastante concentração, porque, de fato, as questões traziam textos longos”.

OD: E a proposta da redação, o aluno que estava preparado já aguardava por uma temática similar?

“Penso que os alunos aguardavam temas completamente diferentes do que o Enem trouxe! Eu mesma fique bastante surpresa, principalmente, porque, em 2015, o exame cobrou o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. São oito anos apenas, não imaginava que esse eixo temático viria a cair novamente agora. No entanto, esse recorte temático, embora traga a mulher como palavra-chave, se apresenta dentro de outra problematização, essa, inclusive, bastante necessária de ser debatida. O tema “fala” por si só, né? Esse é, definitivamente, um trabalho invisível”.

OD: Fale um pouco sobre o desenvolvimento do texto dissertativo nesta temática proposta

“A escolha desse tema foi genial! Agora, as discussões sobre isso vão se tornar maiores! Acho que essa é a intenção inclusive! Retirar esse problema social da invisibilidade é crucial justamente pra que a sociedade comece a pensar sobre possibilidade de saída, porque o trabalho de cuidado, efetivamente, gera sobrecarga para a mulher! Existe uma filósofa que, inclusive, foi a primeira personalidade em que pensei quando vi o tema, chamada Silvia Frederici. Lembro que pensei “meu Deus, esse tema é todo dela”. Pensei nisso porque ela já afirmava que chamam de amor o que, na verdade, é só trabalho não pago. Ela se refere, justamente, a essa dupla, tripla jornada à qual a mulher se submete, uma vez, para além do trabalho fora de casa, também lida com ele assim que volta pro lar. Não que não haja homens fazendo, mas sabemos que, majoritamente, é delegado à mulher essa atividade, por uma questão cultural na maioria das vezes. E essa rotina é romantizada, é banalizada, por isso ficam invisíveis mesmo os reflexos desse problema”.

OD: Quais questões chamaram atenção na prova?

“O fato de o Enem ter apresentado questões que tinham como base desigualdade de gênero, desigualdade racial, taxa de fecundidade, mulheres trans no esporte e no mercado de trabalho, a nova definição da palavra “casamento” no dicionário... tudo isso me chamou bastante atenção, porque costumam ser temas que geram bastante discussão e dividem opiniões. Tristemente, em grande parte das vezes, acarretam discursos de ódio. Mas, francamente, são fundamentais para o aluno do Ensino Médio refletir sobre a diversidade presente na nossa sociedade”.

OD: Qual sua avaliação final?

“O Enem 2023 veio com o propósito, acredito, de ser fiel ao que ele, efetivamente, sempre se propôs a ser: fazer com que o candidato seja instigado a refletir sobre as questões sociais que norteiam o país onde ele vive, para o qual ele quer contribuir, inclusive, enquanto trabalhador no futuro, já que ele está em busca de uma profissão por meio da prova. Também, enquanto cidadão, porque é preciso ter consciência dos problemas do lugar onde habita. A ideia é que isso o torne um membro politicamente ativo pra sua sociedade! De modo geral, foi uma prova bem feita e bastante contextualizada”.

Continuidade da prova

No próximo domingo (12), será aplicada a segunda prova do Enem, com questões de ciências da natureza e suas tecnologias, além de matemática e suas tecnologias. Os participantes terão cinco horas para resolver as 90 questões. Lembrando que os horários divulgados de abertura e fechamento dos portões são do fuso de Brasília. Muitos candidatos de Mato Grosso acabaram se confundindo e chegaram atrasados para a prova, ficando de fora. No horário local, os portões abrem às 11h e fecham às 12h. O Enem começa a ser aplicado às 12h30.
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